Fahreddin Paxá: um herói que ilumina os nossos tempos

A análise de Cemil Dogaç Ipek, doutorado em Relações Internacionais e membro do corpo docente da Universidade Ataturk.

880064
Fahreddin Paxá: um herói que ilumina os nossos tempos

Há pouco tempo atrás, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah Ben Zayed, partilhou na sua conta de Twitter um discurso muito deselegante. Esta mensagem partilhada através da rede social Twitter, continha uma grande calúnia contra Fahreddin Paxá, que defendeu Medina contra a ocupação britânica. Na sequência deste incidente, a figura de Fahreddin Paxá e a sua época foram amplamente discutidos.

Há cerca de duas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah Ben Zayed, escreveu na sua conta de Twitter uma mensagem imoral e totalmente desfasada da cortesia diplomática. Neste tweet, Fahreddin Paxá – que salvou as relíquias sagradas ao trazê-las de Medina para Istambul – foi acusado de roubo. Naquela altura, Medina tinha sido cercada pelos Wahabitas e estava sob a ameaça britânica. Temos portanto que analisar quem é Abdullah Ben Zayed. Tal como temos vindo a assinalar nos nossos programas, este personagem está na origem de vários dos problemas que atualmente se vivem no Médio Oriente. Por outro lado, ele é também irmão de Mohammed Ben Zayed, o herdeiro do trono do Dubai e o verdadeiro suposto dirigente dos Emirados Árabes Unidos.

Tendo em conta o seu comportamento, Abdullah Ben Zayed suscitou reações não apenas por parte dos turcos, mas também no mundo árabe. Os árabes moderados e que conhecem a história recente, sublinharam que “se Fahreddin Paxá não tivesse levado as relíquias sagradas para Istambul, elas não estariam hoje em dia nas mãos de muçulmanos”.

O império otomano prestou serviços na região de Hedjaz a partir de 1 517. Os sultões turcos participaram na corrida para prestar serviços aos locais sagrados em Meca e Medina desde 1 517. Depois do começo da I Guerra Mundial, Hedjaz passou a ser uma das regiões mais importantes defendidas pelo império otomano. Devido aos preparativos para um levantamento de Sharif Hussein, Fahreddin Paxá foi enviado para Medina como comandante de Hedjaz, em 1 916. Fahreddin Paxá conseguiu repelir os rebeldes apoiados pelos britânicos e fez preparativos para levar para Istambul as relíquias sagradas de Medina, com o objetivo de impedir que elas passassem para as mãos dos rebeldes e dos britânicos. O império otomano ordenou a Fahreddin Paxá, a 2 de março de 1 917, que tratasse da evacuação das relíquias sagradas. Durante o tempo que passou em Medina, Fahreddin Paxá recebeu o apoio dos árabes com os quais tinha relações próximas.

Com o começo do levantamento em Meca, devido aos erros do governador da cidade, Galip Paxá, a cidade passou a estar nas mãos dos rebeldes. As cidades em redor de Meca passaram rapidamente a estar sob o controlo dos ocupantes, com a exceção de Medina. Apesar dos meios restritos de que Fahreddin Paxá possuía, ele continuou a defender a sua região. Entretanto, o império otomano assinou o Armistício de Mudros a 30 de outubro de 1 918. De acordo com as condições deste armistício, Medina deveria render-se aos britânicos. Mas Fahreddin Paxá recusou fazê-lo. Depois da assinatura do armistício, ele ainda defendeu heroicamente Medina durante 72 horas.

Depois do ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, Abdullah Ben Zayed, ter acusado Fahreddin Paxá de roubo, o presidente da República da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, respondeu dizendo que “oh miserável que nos dirige estas acusações, onde estavam os teus antepassados enquanto Fahreddin Paxá defendia Medina?”. A resposta à pergunta do presidente turco está nos arquivos otomanos.

Vários documentos nos arquivos, mostram que que o tetravô de Zayed foi o líder da tribo de Abu Dhabi no século XIX, que atacou sem parar o Qatar. Eles fizeram roubos e levaram a cabo massacres, sempre com o apoio britânico.

Murat Bardakci, um historiador e investigador de história da Turquia, partilhou recentemente alguns documentos que mostram que os antepassados de Abdullah Ben Zayed estiveram envolvidos na revolta da região há 100 anos, e que mataram e massacraram com o apoio dos ingleses. Há também inúmeros documentos nos arquivos otomanos sobre os crimes que a tribo de Abu Dhabi cometeu.

De facto, Fahreddin Paxá não foi uma pessoa que deixou grandes memórias no mundo muçulmano, pelo menos até há pouco tempo atrás. O seu nome não foi muito mencionado nos livros de história, exceto em relação à sua participação na vitória de Kut al-Amara. Foi em grande parte graças ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que nos voltámos a lembrar de Fahreddin Paxá. O presidente turco evocou Fahreddin Paxá várias vezes nos seus discursos desde 2 008. Durante um discurso que fez perante os oficiais da Academia Militar, Erdogan citou Fahreddin Paxá como um exemplo para todos os militares. Não é por acaso, que o presidente Erdogan é descrito como sendo o “neto de Fahreddin Paxá”, por parte de algumas agências de imprensa do Médio Oriente. Isto significa que alguns árabes veem no presidente Erdogan uma continuação de Fahreddin Paxá.

A iniciativa descortês do ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos, deixou furiosa a opinião pública turca. Na minha opinião, o público turco não se deve vergar a estes comentários. Desta forma, os netos daqueles que traíram o império otomano verão como a tradição do Estado passa dos avós para os netos, e que não nos amedrontam. Não será talvez por acaso, que os peões das forças exteriores a esta região, têm medo de Fahreddin Paxá e de Erdogan. Este medo, poderá ser o sinal de um novo mundo muçulmano muito poderoso e próspero. Quem sabe?  



Notícias relacionadas