Ibrahim Kalin concedeu entrevista à TRT World sobre a tentativa de golpe

Um grupo de soldados membros da organização terrorista de Fethullah Gülen tentou realizar um golpe de Estado no dia 15 de julho na Turquia.

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Ibrahim Kalin concedeu entrevista à TRT World sobre a tentativa de golpe

Um grupo de soldados membros da organização terrorista de Fethullah Gülen tentou realizar um golpe de Estado no dia 15 de julho na Turquia. Esta tentativa falhou porque o povo foi para as ruas a fim de proteger a democracia, sendo agora declarado um estado de emergência no país. Muitas pessoas se perguntam o que será feito agora. Nós entrevistamos Ibrahim Kalin, o porta-voz e assessor principal de política externa do presidente Recep Tayyip Erdogan.

Seja bem-vindo Sr. Ibrahim Kalin ao programa One on One da TRT World. O Presidente Erdogan afirmava há muito tempo que havia uma "Estrutura Estatal Paralela" tentando prejudicar a democracia no país e ameaçando a segurança do mesmo. Considerando que já havia essa informação, como poderia acontecer um golpe de Estado no país? Houve uma falha no serviço de inteligência?

Ibrahim Kalin: Este grupo operava no país há muito tempo e tornou-se uma ameaça à segurança nacional, especialmente após a tentativa de 17 e 25 de Dezembro. Desde aquela época temos tomado muitas medidas como, identificar essas pessoas e despedí-las das agências governamentais. Além disso, havia um processo em andamento para resolver este problema. A tentativa de golpe do Exército foi um dos últimos ataques do movimento Gülen. Um pequeno grupo de soldados que não representam todo o exército, fizeram esta tentativa, que infelizmente, se converteu em um ataque sangrento. Os ataques perpetrados nas ruas nos mostraram como essas pessoas são cruéis. Testemunhamos imagens jamais vistas neste país. Os soldados dispararam tiros alvejando o nosso povo. E os civis inocentes que não tinham armas, foram mortos nas ruas. 242 cidadãos se tornaram mártires e mais de 1.500 ficaram feridos. Este é um grande problema. Porém, o que começou como uma "Noite Negra" em 15 de julho, se tornou em uma "manhã brilhante", com o fracasso do golpe. Agora vamos tomar medidas legais para garantir que tais atos não ocorram mais. Para superar isso, temos de identificar as pessoas que estão ligadas ao exército, justiça, forças armadas e outros órgãos estatais. Esta é uma ação indispensável para proteger a democracia, o Estado de direito e a segurança dos nossos cidadãos e do país. Na tentativa de golpe, é claro que tomamos muitas medidas, mas a coragem dos nossos cidadãos impediu o sucesso do golpe. Em minha opinião, nosso povo deu uma mensagem de honra ao mundo. Nosso povo expressou uma mensagem para o mundo do quanto vale a democracia, a liberdade e a soberania do direito, seja quem for o inimigo.

Foi extraordinária a resposta do povo. Como você disse, outros países democráticos não podiam imaginar que o povo teria tal reação. Será que o governo previa que o povo teria esta reação quando o presidente convidou o povo a tomar as ruas?

Ibrahim Kalin: Nosso primeiro trabalho foi tentar compreender a eficácia do golpe. E em curto prazo, foi visto que as tropas militares, principalmente em Ancara e Istambul, haviam sido mobilizadas. Quando entendemos que o que estava acontecendo realmente era uma tentativa de golpe, o presidente apareceu diante das câmeras e convidou as pessoas a tomarem as ruas e protegerem a democracia. Graças a Alá, esse movimento tornou-se uma história lendária. Honestamente, ninguém poderia imaginar tal resposta. Não era esperado que os líderes do golpe respondessem de forma sangrenta e brutal. Primeiro, foi uma sensação de choque, mas quando terminou o golpe, o sentimento de vitória e alegria foi dominante.

A reação do povo foi realmente espetacular e ainda estão nas ruas, mesmo que já tenham se passado vários dias. Você acha que isto está acontecendo por causa da política do governo? É por lealdade do povo para com o presidente?

Ibrahim Kalin: "Antes de mais nada, a razão é a lealdade à democracia e à supremacia da lei. Vivemos golpes militares em 1960, 1972, 1980 e outros mais na Turquia. É a primeira vez que um golpe é reprimido pela própria sociedade. As pessoas que festejam a vitória nas ruas desejam que estes eventos não voltem a ocorrer. A forte mensagem que o público tem dado permanecendo nas ruas é a de proteger a sociedade e o país não importa o que aconteça. É claro que o presidente fez a chamada para se ir para as ruas para mostrar isso para os golpistas e para o resto do mundo. Quanto à composição ideológica das pessoas na rua, você vai ver pessoas de todas as ideologias; partidos políticos e diversos pontos de vista. Na verdade, a imagem que vimos logo após o golpe foi de uma unidade incrível e solidariedade, apesar de todas as diferenças políticas. Ao mesmo tempo, o presidente Erdogan chamou os líderes dos partidos da oposição e agradeceu-lhes pela sua postura contra os líderes do golpe. Isso tem se refletido na rua. Houve solidariedade entre pessoas de diferentes partidos políticos. Ela desempenhou um papel essencial na liderança do presidente ao lidar com esta situação, pois o momento mais importante da noite foi a convocação do presidente para as pessoas irem para as ruas. Demorou um pouco para enviar esta mensagem para a sociedade por causa de alguns problemas técnicos. Os golpistas invadiram a TRT, sua corporação e fizeram pressão  sobre as empresas de satélite para que fosse cortada a comunicação eletrônica. Mas conseguimos superar este problema. Assim, a chamada do presidente foi um marco da reação contra o golpe.

Agora, foi mencionado que o exército será reestruturado. O que isso significa e o que será feito?

Ibrahim Kalin: Há um grupo partidário de Gülen que se infiltrou no exército, e, claro, a primeira coisa a ser feita é garantir que outro evento assim não aconteça novamente. Temos que começar as escolas militares. Continuaremos o processo de classificação e de formação. Aqui quero salientar que nós temos que ter cuidado na discriminação entre o exército turco e um pequeno grupo de partidários de Gülen que tentaram realizar o golpe. O exército é o nosso exército e os generais do exército que se submetem a este processo, sabem o perigo que estão enfrentando. Por isso eles farão o que for necessário e o Governo também. O Presidente irá dirigir todo o processo como o comandante chefe do exército e do país. Creio que vamos nos livrar desta ameaça no Exército turco. Vamos tomar outras medidas de segurança para que não ocorram tais brutalidades.

Por um lado, nota-se que a opinião pública mostra o seu apoio ao governo indo para as ruas, e por outro, é um estado de emergência proclamado recentemente. Os partidos de oposição respaldam esta resolução. Mas chegam diversas declarações do público internacional. Ex: Observações para que a Turquia aja de forma proporcional e proteja o princípio da soberania de direito, entre outros. Você acha que há alguma verdade na reação internacional?

Em primeiro lugar, o estado de emergência foi decretado por causa de uma tentativa fracassada de golpe de Estado. A situação está contemplada no Art.120 e 121 da Constituição. O decreto é permitido e a autorização do mesmo é dada ao governo. Este o apresentou para ratificação do parlamento. A votação do partido no poder e a oposição aprovaram a medida. O que foi feito está de acordo com o quadro constitucional. Não foi feito nada contrário à soberania da lei e nem será feito. Os espectadores de todo o mundo devem entender o ambiente em que estão sendo feitas essas decisões. Acabamos de impedir um golpe planejado pelos terroristas fiéis á Fethullah Gülen dentro do Exército turco. Este golpe foi respaldado por membros do Judiciário e outras instituições. Por isso, ocorrerá um processo judicial contra as pessoas envolvidas no golpe, que planejaram, executaram e que cooperaram com os seus membros e aqueles que estavam a assistir os golpistas de acordo com os documentos apreendidos. Tenho visto a crítica internacional ao passo que trabalhamos para capturar essas pessoas. Como eles poderiam capturar tantas pessoas em tão pouco tempo? Perguntam. Já há algum tempo ocorre a luta contra a organização fethullahista. O processo já estava funcionando para detectar essas pessoas. Os generais que participaram do golpe seriam retirados ou não seriam promovidos na sessão do Conselho Militar que estava prevista para agosto. Certamente eles pensaram que era a última chance para impedir essas decisões. Os membros do FETÖ tinham essa idéia desde o início. Eles alegam que não têm nada a ver com o que está acontecendo. É realmente ridículo ouvir isso, pois, segundo eles, o movimento Gülen não existe. Para eles, não existe televisão, jornais e escolas, bancos ou empresas. Como essas pessoas podem administrar um império tão grande de bancos, escolas e empresas? Está bem claro que eles estão por trás disso. Suas palavras não são convincentes de forma alguma. Eles não podem ser levados a sério. Algumas pessoas lançaram esta alegação de que "não foi um verdadeiro golpe de Estado, mas foi uma farsa idealizada por Erdogan". Essa gente, que nos acusa de produzir teorias da conspiração, tentam fazer isso parecer uma análise séria. Penso dessa forma. Não acredito que se fazem declarações semelhantes em meios básicos do Ocidente. Não é algo diferente dizer que "os ataques de 11 de setembro, Paris e Nice foram planejados pelos governos dos EUA e da França". Nós ignoramos essas declarações. Infelizmente, há um posicionamento diferente quando se trata da Turquia. Justifica-se o golpe militar através das teorias da conspiração. Temos que ter muito cuidado. Como todos sabem, fomos salvos de um golpe militar. Nós o repelimos em favor da democracia, soberania da lei e da liberdade. Que isso fique claro. Todas as medidas do estado de emergência são para proteção do povo. A vida diária da sociedade não será afetada por estas medidas. Não haverá impactos negativos sobre a liberdade de viajar, fazer ajuntamentos, de expressão e atividade econômica. O governo francês declarou estado de emergência após os ataques em Paris. De acordo com o meu conhecimento, eles estenderam o estado de sítio recentemente. Seis meses mais após o ataque em Nice. É uma decisão justa e legítima tomada pelo governo francês. Ninguém pode criticá-lo. Em contrapartida, eles enfatizaram a normalidade da vida. O cotidiano das pessoas não muda. Aqui, a situação não é diferente. As pessoas vão continuar com suas vidas normais. Os que têm de se preocupar são os integrantes do golpe fracassado.

A Turquia enviou o pedido de extradição de Fethullah Gulen aos EUA. Agora, quais são as expectativas da Turquia? Alguns políticos dizem que os EUA poderiam usar essa situação como um instrumento de barganha para pressionar a Turquia. Qual é a sua expectativa?

Há um processo legal que deve ser atendido para a extradição de Gülen para a Turquia. Nós antecipamos o assunto já há algum tempo, mas agora chegamos ao máximo desta situação após o golpe. A primeira parte foi enviada para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Haverá mais quando forem recolhidas mais provas. Esperamos que as autoridades norte-americanas levem isso muito a sério. Esperamos que Gülen seja extraditado uma vez que o processo legal seja concluído. De acordo com especialistas jurídicos, existem razões mais do que suficientes.

Há uma forte demanda por prisão perpétua nos discursos em funerais, na Praça de Kizilay e em outros lugares. Perguntei a muitas pessoas, se no caso da prisão perpétua ser aplicada na Turquia, isso afetaria as expectativas de adesão à União Européia e, se estavam informadas sobre este assunto. Uma das respostas que recebi foi: "não é necessária adesão á União Européia se ela significa que a Turquia tenha que abrir mão de sua segurança e honra. Você acha que existe um sentimento crescente na Turquia de pessoas que se cansaram da União Européia? A União Européia os descarta por sua identidade?

Ibrahim Kalin: Como se sabe, tentamos entrar na União Européia há muito tempo. Nenhum país sofre com esta situação. Continuamos as negociações com a UE para a adesão plena desde 2005. Mas, infelizmente, o processo evoluiu muito lentamente, não progredindo por algumas razões. As pessoas de fora da Turquia devem responder conscientemente por que é muito densa a situação sentimental no nosso país após o golpe já que civis foram mortos por seu próprio povo nas ruas. Quando considerado pelo sentido judicial, é uma reação natural dessas pessoas, que sofreram esta situação nas ruas, pedir a prisão perpétua. Em resposta a isso, o presidente também disse: "Se as pessoas exigem a pena de morte, é claro, se o Parlamento promulgar uma lei que responde a esse pedido, eu vou aprovar." Francamente, há uma grande demanda em todo o país. Se este tipo de lei for promulgada, ela irá, naturalmente, criar alguns problemas com a União Européia. Se parar o nosso processo de adesão à União Européia, vamos lidar com este problema.

Deve ser convocado um referendo sobre o processo de adesão à União Européia, levando-se em conta os sentimentos das pessoas?

Ibrahim Kalin: Como você sabe, este assunto já foi discutido há alguns meses. Com a extensão do processo de adesão, começou a se instalar uma espécie de "cansaço por causa alargamento", levando a certa “fadiga". Tudo foi tentado, mudaram-se as leis e foram aplicados alguns critérios -o último exemplo é o acordo de Refugiados entre União Européia e Turquia – e se apresentam condições adicionais intermináveis. Eles dizem que "devem fazer isso", como se fosse um favor para a Turquia. Diferentemente da Turquia, ela sim lhes fez um favor, acolhendo mais de três milhões de refugiados. Essas pessoas ainda vivem em nosso país, ainda nos preocupamos com elas, além de termos parado o fluxo de migrantes para a Europa. Em setembro de 2015, todos os dias 6 ou 7 mil pessoas tentavam entrar na Europa, mas hoje esse número é quase zero. O Acordo de Refugiados Turquia – União Européia está em funcionamento. Mas eles começaram a estabelecer condições adicionais antes de começarem a aplicar a isenção de vistos para os cidadãos turcos como, pedir a alteração da lei antiterrorismo na Turquia. O direito de dizer alguma coisa sobre este assunto pertence a nós. Além disso, essas leis foram preparadas de acordo com os critérios da União Européia. Tal como confirmou este golpe, precisamos dessas leis. Nós lutamos incessantemente contra as organizações terroristas do PKK e DAESH. O mundo discute a "coalizão contra o DAESH" que apoiamos, mas rejeita o terrorismo do PKK que somos forçados a lutar. Esta organização custou a vida de centenas de pessoas apenas em 2015, por isso temos de tomar medidas contra estas organizações terroristas. E agora lutamos contra a ameaça da organização terrorista Gülen. Naturalmente, não será feita qualquer alteração em nossas leis antiterrorismo. Esperamos que a Europa e o resto do mundo nos entendam, pois precisamos dessas leis para combater estas organizações.

Foram mencionados alguns passos que a Turquia dará, mas em resumo, que tipo de medidas serão tomadas para evitar que tais eventos aconteçam no futuro? Além disso, a Turquia começou a fazer mudanças em sua política externa. Ela começou a aproximar-se de países como a Rússia e Israel. São esperados problemas nas relações com a União Européia e os Estados Unidos por causa dessa mudança?

Ibrahim Kalin: Não. Não quero falar em geral, mas poderia ocorrer algum problema em certas questões. Temos experimentado progresso nas relações com a Rússia e Israel. Esta foi a nossa política desde o início. Vivemos certos problemas por causa do Mavi Marmara em 2010 e do avião de caça russo, mas o pior ficou para trás e agora trabalhamos para melhorar as nossas relações com estes dois países e outros também. Não há nenhum problema a respeito dessas questões. Mas, ao mesmo tempo, as ameaças à segurança de nossa região não vão desaparecer. Vamos continuar a ser afetados com a continuação da guerra na Síria, além do problema da segurança no Iraque. Mas não é só na Turquia, mas em todo o mundo, a Europa, os países árabes, a Jordânia, o Líbano, o Iraque e outros países também são afetados. Portanto, o problema requer uma abordagem regional e global. Naturalmente nós queremos trabalhar em conjunto com nossos aliados e vizinhos para erradicar estas ameaças. Mas temos de dar prioridade à nossa segurança nacional. A Turquia luta simultaneamente contra mais de uma organização terrorista. Então, naturalmente, esperamos a compreensão, cooperação e solidariedade dos nossos aliados e vizinhos.

Se eu dissesse que o senhor tem 30 segundos para dar uma mensagem para a comunidade internacional e a nação turca, que mensagem seria?

Ibrahim Kalin: A nação turca mostrou grande honra e coragem repelindo o golpe. O mundo está ao nosso lado, estamos gratos pelo lado da democracia ter vencido contra esses golpistas. Espero que continuem a apoiar a nossa luta no caminho para o fortalecimento da democracia, a supremacia do direito e a liberdade em nosso país.



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