Historiadores pedem normalidade nas relações Turquia-Armênia

Armênia precisa fazer mais para melhorar as relações com a Turquia, dizem acadêmicos.

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Historiadores pedem normalidade nas relações Turquia-Armênia

Com a aproximação do 100º aniversário dos eventos de 1915, dois historiadores têm convocado a Armênia, a ajudar a normalizar as relações com a Turquia.

Maxime Gauin, um estudante de Doutorado na Universidade Técnica do Oriente Médio (Middle East Technical University) em Ancara, e pesquisador do Centro de Estudos Euroasiáticos, disse que a Turquia tem feito todos os esforços para melhorar os laços com seu vizinho oriental.

"Agora, cabe ao governo armênio", acrescentou o historiador francês.

Patrick Walsh, pesquisador da Escola de História e Arquivos da Universidade de Dublin (University College Dublin), convocou ambos os lados, a prestar homenagens para todas as vítimas otomanas – quer sejam turcas muçulmana, ou cristãs armênias – como vítimas de uma “Grande tragédia."

Os dois acadêmicos falaram à Agência Anadolu no período de preparação para o 24 de abril, centenário da morte dos armênios, que ocorreu após uma rebelião contra o Império Otomano em 1915.

Na opinião de Gauin, o apelo dos armênios para que os assassinatos sejam reconhecidos como "genocídio" - uma afirmação que a Turquia sempre recusou - são motivadas por considerações modernas.

"[Presidente armênio] Serzh Sargsyan sempre deixou claro que ele quer território", disse Gauin, referindo-se as reivindicações armênias por partes do leste da Turquia.

Walsh descreveu os acontecimentos de 1915 como uma tragédia para ambas as partes. "Se o evento se concentra na palavra "genocídio", se é justo ou não, nunca haverá uma solução para isso", disse ele a AA.

Referindo-se a colaboração de alguns nacionalistas armênios, com a Rússia e os aliados durante a Segunda Guerra Mundial, Walsh afirma que eles "fizeram uma aposta" que não compensou.

"Eles foram traídos", disse ele. "Os armênios eram apenas uma ferramenta útil para essas pessoas [os aliados]. Revolucionários armênios colocaram sua própria conta em risco. "

Walsh afirma que a política externa britânica também desempenhou um papel nos acontecimentos de 1915, por meio de sua busca por um aliado, para enfrentar a Alemanha Oriental.

Ele disse que a Entente Anglo-Russa de 1907, deu ao Czar russo "luz verde para avançar". A Grã-Bretanha agiu por um controle das aspirações russas, além das suas fronteiras do sul.

Enfocando os problemas práticos que enfrentam aqueles que procuram por pesquisar sobre os incidentes de 1915, Gauin disse que os acessos aos documentos armênios eram restritos.

"Cada vez que perguntei por arquivos armênios ... eles inventaram um pretexto ou diziam não ser possível ou simplesmente não respondiam", garante Gauin. "Os arquivos turcos podem ser obtidos sem nenhum problema."

Walsh disse que arquivos armênios "não são tão acessíveis como os arquivos otomanos", acrescentando que a pesquisa mais recente foi baseada em fontes históricas britânicas.

Após a invasão russa no território otomano e da deserção de algumas tropas otomanas armênias para o exército czarista, o governo otomano ordenou a realocação de parte da população armênia.

Condições de tempo de guerra, fome, epidemias, guerra civil e represália por grupos locais levou à morte de armênios. Alguns documentos históricos demonstram que as autoridades otomanas não pretendiam ocasionar essas tragédias e puniu os infratores.

Após a saída da Rússia da II Guerra Mundial, depois da revolução de 1917, as milícias armênias aterrorizam partes da Anatólia Oriental, antes da atual fronteira ser criada em 1921 pelo Tratado de Kars.

A Armênia e a diáspora armênia, exigiu um pedido de desculpas e uma compensação para os Incidentes de 1915 e pressionou para que os assassinatos sejam identificados como genocídio.

O governo turco tem proposto insistentemente a criação de uma comissão conjunta para lidar com a discussão, usando todos os arquivos disponíveis.

O desenvolvimento mais significativo para a normalização das relações turco-armênia veio em 2009, com dois protocolos que propõem uma análise imparcial do registro histórico, e ao reconhecimento mútuo das fronteiras. No entanto, o Tribunal Constitucional Armênio julgou que os protocolos violam uma cláusula constitucional, declarando que o país “mantem o apoio à tarefa de alcançar o reconhecimento internacional do genocídio de 1915".

Cinco anos depois, os protocolos foram retirados do parlamento armênio.

Em 2014, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, expressou sentimentos de condolências aos familiares de todos os cidadãos otomanos, que perderam suas vidas em 1915, incluindo os armênios.

Em um comunicado divulgado na segunda-feira, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu repetiu a mensagem e anunciou uma cerimônia a ser realizada no dia 24 de abril no Patriarcado Armênio de Istambul - a primeira cerimônia oficial de seu tipo a ser realizado na Turquia.


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