Análise da Atualidade: A Ameaça de Guerra Civil no Iraque e o Novo Plano de Jogo de Sadr

Análise elaborada pelo investigador de política externa, Can ACUN da SETA.

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Análise da Atualidade: A Ameaça de Guerra Civil no Iraque e o Novo Plano de Jogo de Sadr

ANÁLISE DA ATUALIDADE: A Ameaça de Guerra Civil no Iraque e o Novo Plano de Jogo de Sadr

Após as eleições realizadas a 10 de outubro de 2021 no Iraque, as pedras não ficaram assentes no lugar. Várias estruturas de milícias filiadas na Mobilização Popular (‘Hashd al-Shaabi’), que sofreram uma derrota particularmente pesada nas eleições, procuraram obter resultados políticos pela força, instrumentalizando o poder das armas nas suas mãos. O crescente "nacionalismo iraquiano" liderado por Moqtada al-Sadr, mobilizou-se contra estes elementos, agindo com lealdade ao Irão. Num país em que não se consegue formar governo, a luta pelo poder, entre os grupos pró-iranianos e Sadr juntamente com os seus aliados no país, espalhou –se pelas ruas e se converteu em confrontos, neste contexto e, de forma surpreendente, Sadr anunciou que abandonou a política. 

 

Apresentamos a análise sobre este tema, elaborada pelo investigador de política externa, Can ACUN da SETA.

 

De acordo com os resultados das primeiras eleições gerais realizadas no Iraque a 10 de outubro de 2021, o Grupo ligado ao líder xiita Moqtada al-Sadr, ganhou as eleições ao conquistar 73 lugares. Este resultado foi uma grande vitória para Sadr. Em contraste com o grupo de Sadr, os grupos pró-Iranianos, especialmente a Aliança Fatah, sofreram uma grande derrota. O antigo Presidente do Parlamento, Mohamed Al-Halbousi, do Partido do Progresso (‘Takadum’), ficou em segundo lugar e a Coligação do Estado de Direito do antigo Primeiro-Ministro, Nouri al-Maliki, ficou em terceiro. O KDP ganhou 34 lugares, conseguindo novamente um grande sucesso contra os seus rivais, como o PUK e o Gorran. Depois destes resultados, Sadr quis formar um novo governo, formando uma aliança com os sunitas e o KDP, mas este esforço falhou, especialmente devido às intervenções do Irão. Sadr fez então uma nova jogada e demitiu os deputados que lhe eram leais e fez várias tentativas para dissolver o parlamento e realizar novas eleições. Grupos próximos do Irão, por outro lado, agruparam-se sob o nome de Quadro de Coordenação e atuaram contra as jogadas de Sadr. Enquanto Sadr, mobilizou frequentemente grandes massas de pessoas neste jogo político, nos últimos dias, também levou para o terreno as suas milícias militares filiadas, o grupo Saraya al-Salam, e ocorreram confrontos em muitas regiões como Bagdade e Basra com as estruturas da Mobilização Popular (‘Hashd al-Shaabi’). Eventualmente, a luta pelo poder entre os xiitas evoluiu para confrontos diretos. Enquanto que muitas pessoas perderam as suas vidas nos confrontos, Sadr surpreendeu novamente, ao subitamente apelar a todos os seus apoiantes para se retirarem. No dia anterior, Sadr tinha anunciado novamente que ia deixar a política. Parece existir uma disparidade entre a retórica do líder populista iraquiano e as suas ações.

Numa declaração publicada na sua conta das redes sociais, o líder religioso e político xiita Moqtada al-Sadr afirmou: "Anuncio que vou deixar os assuntos políticos e retirar-me completamente da política. Decidi encerrar todas as instituições, exceto o túmulo do meu pai, a instituição do artefacto histórico e o museu da família Sadr". Na sua declaração, Sadr também criticou o Ayatollah Kazem al-Hairi, uma das autoridades religiosas xiitas iraquianas residentes no Irão, que anunciou ontem que tinha "terminado o seu dever como autoridade", e argumentou que Hairi não tomou a decisão de se retirar da autoridade por sua própria vontade. Al-Hairi, que é uma figura importante para os xiitas baseados em Najaf, parece ter empurrado Sadr para apresentar uma contra-moção ao fazer declarações pró-iranianas, deixando a autoridade. Em última análise, com os seus últimos movimentos, pode declarar-se como o novo Marja e impedir o Irão de exercer influência sobre os seus apoiantes. Adicionalmente, Sadr e os seus aliados representam o nacionalismo iraquiano e continuam a lutar contra os grupos pró-iranianos.

 



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