O Ocidente deve mudar sua estratégia para a solução da questão síria

Análise de Murat Yeşiltaş, pesquisador da Fundação para os Estudos de Política, Economia e Sociedade (SETA)

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O Ocidente deve mudar sua estratégia para a solução da questão síria

A guerra civil que continua por uma década na Síria ainda não pôde ser resolvida. Uma tragédia continua aos olhos do mundo, em que centenas de milhares de sírios se tornaram as vítimas fatais e outros 7 milhões tiveram que deixar o país. Ainda existe o regime de Assad que recebeu a população com violência punitiva, devido aos protestos iniciados em março de 2011. As instituições internacionais, especialmente a ONU, a UE e os EUA, não conseguiram produzir uma solução detalhada. Atores como Rússia e Irã fizeram com que a questão se aprofundasse ainda mais.

A Turquia é sem dúvida o país que exerce mais do que a sua capacidade para os sírios. O presidente Erdogan escreveu um artigo pedindo ao Ocidente que ajude a Turquia a acabar com a guerra civil na Síria naqueles dias em que a democracia, a liberdade e os direitos humanos estão em voga novamente. Ele lembrou que a Turquia acolhe milhões de refugiados, é o primeiro país que usou suas forças de guerra contra grupos terroristas, especialmente o grupo terrorista DAESH e estabeleceu zonas seguras em locais purificados do terrorismo junto com elementos locais.

Washington não conseguiu produzir uma solução nestes últimos dez anos. Agora vê-se que ele busca uma nova política para a crise síria. Para a gestão de Biden, o presidente democrata, a Síria surge como um espaço onde será testada a declaração da democracia e dos direitos humanos. A mensagem de Erdogan para o novo governo é muito clara: "O governo Biden deve trabalhar conosco para acabar com a tragédia na Síria e proteger a democracia cumprindo suas promessas de campanha eleitoral." O governo Biden cometerá os erros de Obama se mostrar um pouco de interesse na ajuda humanitária, apoiando mais o YPG, o desdobramento da gangue terrorista do PKK.

A convocação do presidente Erdogan não se limita apenas aos Estados Unidos. É importante que o artigo coincida com a véspera da cimeira dos líderes da UE. O roteiro da UE para uma aproximação à questão síria está cheio de incertezas. Se a política da Turquia para a Síria baseada em princípios humanos não existisse, então em quase todas as capitais da UE os partidos políticos de direita seriam dominantes.

Os líderes ocidentais não se opuseram aos mísseis russos lançados contra os ataques YPG nas áreas seguras ao norte da Síria. O YPG realizou 224 ataques a áreas seguras. Entre eles, 64 ataques com carros-bomba, 64 mísseis, 51 armados, 19 com projéteis.

4-5 milhões de sírios vivem em Idlib e nas áreas seguras controladas por Ancara. Quando colocamos 4 milhões de refugiados na Turquia, metade da população síria está sob o guarda-chuva de segurança da Turquia. Esta realidade mostra que a UE e os EUA devem apoiar a construção de zonas seguras. É a favor das capitais ocidentais que Ancara se torne mais eficiente na equação da Síria. Não podem proteger seus interesses na Síria com o YPG, que será eliminado no final.

No final do décimo ano, não há um roteiro aberto para resolver a crise síria. Sem resolver a crise síria, que é a maior tragédia do século 21, a estabilidade regional não parece possível.

 



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