A sociologia da transformação e a Turquia

Estamos numa época de mudanças. Os processos decorrentes da globalização estão a transformar as nossas vidas em termos pluridimensionais, quer queiramos quer não. Nas sociedades onde se regista um rápido desenvolvimento económico devido à globalização, ocorrem também em simultâneo um grande número de perdas. Considero por isso necessário analisar a situação sociológica e a sociologia da mudança na Turquia.

Maslow e a hierárquia de necessidades

O psicólogo americano Abraham Maslow analisa o comportamento humano através da sua teoria da "hierárquia das necessidades". Segundo Maslow, o homem atua de acordo com o seu instinto de satisfazer primeiro as suas necessidades básicas. Só depois de satisfeitas estas necessidades, o homem tentará satisfazer as outras necessidades de nível médio e superior. Esta teoria pode ser representada através de uma pirâmide de necessidades, por detrás das motivações das pessoas.

As necessidades humanas foram agrupadas em 5 categorias. Na base das necessidades, estão as necessidades fisiológicas: comer, beber e ter abrigo.

No segundo plano aparecem as necessidades de segurança: o trabalho, a propriedade e a saúde. O terceiro nível corresponde às necessidades de afiliação, que contempla as necessidades de carinho, aceitação e vida social. A quarta camada de necessidades diz respeito ao apreço e prestígio individual. Aqui podem incluir-se o estatuto social, os méritos, o prestígio, o reconhecimento e a necessidade de destaque. A auto-realização aparece na ponta da pirâmide de Maslow. Longe do nível das necessidades básicas, o homem ocupa-se com atividades criativas, éticas, posições de princípio, evidenciar as suas diferenças e motivações. Segundo Maslow, quando se satisfaz uma necessidade, a motivação perde o seu sentido.

O progresso rápido e as suas consequências

A hierárquia de necessidades definida por Maslow para os indivíduos, pode também ser aplicada às sociedades. Graças à globalização, algumas sociedades registaram um muito rápido progresso económico. Para além da China, do Brasil e da Índia, também a Turquia pode ser incluída neste grupo de países.

O rendimento médio per capita na Turquia, que era de 2 000 dólares anuais antes da chegada ao governo do partido AK, subiu para mais de 10 000 dólares num espaço de tempo relativamente curto. Este rápido crescimento económico teve sem dúvida repercussões  em todas as áreas da vida, como a economia, a cultura, a educação, a família e a política. Já a justa repartição do desenvolvimento económico é outra questão.

Repercussões da mudança económica

As preferências económicas em transformação: a chegada à sociedade de uma riqueza 5 vezes maior num espaço de tempo muito curto, irá ser fortemente vincada nas preferências económicas dos indivíduos. As famílias, que passaram as suas vidas a poupar, terão dificuldade em perceber os hábitos mais gastadores e de consumo dos seus filhos. No caso da Turquia, é possível observar esta situação na compra de telefones móveis, onde o tempo de uso de um telefone antes de se comprar um novo, é menor do que a média mundial.

As relações familiares: o desenvolvimento económico transforma totalmente as relações conjugais e com os filhos. Antigamente, as famílias passavam por mais necessidades e as crianças eram mais respeituosas e obedientes. Graças ao desenvolvimento económico, as famílias ficaram mais ricas e os membros da família adotam uma postura mais livre e mais crítica.

A educação: a educação costumava ser um objetivo para que os membros da família se pudessem "salvar" e subir na vida. Mas nos níveis de rendimento mais altos, a educação é apenas uma ferramenta.

Cultura, arte e estética: à medida que sobe o nível de rendimentos, aumenta o interesse e a preocupação por questões como a cultura, a arte e a estética. E aumentam também as expetativas.

Política: No mundo da década de 1 980, os estados eram relativamente mais autoritários e os cidadãos eram mais tolerantes. Nos dias de hoje, os estados são mais democráticos e os cidadãos são mais críticos em relação ao estado. Graças à globalização e ao desenvolvimento económico, houve transformações nas relações entre os indivíduos, o estado e a sociedade, tal como aconteceu com as famílias.

Esta mudança afetará certamente também a política e os postulados políticos. Naturalmente, a nova sociologia requer um novo método de trabalho e uma nova linguagem.

Tal como acontece na hierárquia de necessidades de Maslow, não terão repercussões políticas as promessas de satisfação de necessidades básicas, sempre que as sociedades tenham alcançado um nível de rendimento médio-alto, e vivam num ambiente de riqueza. O nível crescente de rendimento transforma as expetativas sociais em termos de postulados políticos.

Alguns gastos, feitos num cenário de rendimento anual per capita de 2 000 dólares, poderiam ser muito valiosos. Mas quando o rendimento sobe para 10 000 dólares, falar de necessidades básicas pode ser considerado um luxo desnecessário.

A transformação rápida e a cultura

Podemos dizer que a cultura é uma área problemática nos países onde ocorre um rápido crescimento. Muitas coisas podem transformar-se vertiginosamente com a ajuda do desenvolvimento económico, as comunicações globais e a informática. Mas a cultura evolui de forma muito lenta. Observamos as suas repercussões na educação, na política e nas relações entre homens e mulheres. À medida que se transformam rapidamente os estatutos sociais, e pelo facto da cultura não mudar à mesma velocidade, somos testemunhas dos choques no campo cultural.

A comunicação global e a informática

A sociologia em mudança não pode ser explicada apenas pelo desenvolvimento económico. Os progressos tecnológicos também fazem evoluir as relações entre os indivíduos, família, estado e sociedade.

Antes, os indivíduos experimentavam o processo de socialização através das relações cara a cara, tanto dentro do ambiente familiar, entre amigos e na escola. Mas agora, a tecnologia e as redes sociais dão azo a um processo de socialização a nível global e através de relações virtuais. Esta socialização é válida tanto para os cidadãos como para as famílias. Neste contexto, os estados têm um impacto mais limitado sobre os indivíduos.

A comunicação global e a informática têm uma enorme influência sobre o progresso económico e no surgimento da nova sociologia. O que força as sociedades, os estados e as famílias a transformarem-se, é o conhecimento de perto da forma como se processam as relações entre indivíduo, família, estado e sociedade noutros países e famílias, através das comunicações globais e da informática.

Antes de terminar o programa desta semana, uma nota importante: sim, existe uma pedra basilar, um ponto de fratura na história e seguramente todos nós devemos ser testemunhas dele. Enquanto os nossos filhos são a primeira geração de uma nova época, os nossos pais foram a última geração de uma tradição milenar. Enquanto geração, estamos no meio das outras duas: ostentamos por um lado um acervo milenar, mas por outro também fazemos parte do novo período.

Num ambiente em que a sociologia se transforma rapidamente, não podemos permanecer no passado. Esta abordagem de Mevlana ilumina a nossa educação, relações familiares e o postulado político:

"Foram ontem com a minha alma.

E quantas palavras existem sobre o ontem.

Está na hora de dizer coisas novas, mas sem desenraizarmos as tradições".

Esta foi a análise sobre este assunto do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Yildirim Beyazit, em Ancara