França: e se a política deixar de ser a esperança?

A percentagem de participação nas eleições na Europa demonstra de forma clara que o interesse dos eleitores pela política está gradualmente a reduzir-se. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Fac. Ciências Políticas da Univ. Yildirim Beyazit.

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França: e se a política deixar de ser a esperança?

O interesse pela política está a perder-se nos países ocidentais. Os partidos políticos tradicionais e as abordagens de centro esquerda e centro direita, perdem gradualmente o seu sentido. Os partidos racistas estão em alta. As novas formações têm imediatamente sucesso.

Nas eleições de 2 017, Macron – líder do movimento “Em Marcha” - foi eleito presidente de França, sem ter um partido político. Mas parece que a marcha dos eleitores franceses não acabou, e continua com o movimento dos Coletes Amarelos.

No programa desta semana, dando o exemplo de França, vou centrar-me no interesse cada vez mais reduzido pela política nos países ocidentais, e nas crises, riscos e ameaças desta tendência.

 

Terá a política deixado de ser uma esperança no Ocidente?

A percentagem de participação nas eleições na Europa demonstra de forma clara que o interesse dos eleitores pela política está gradualmente a reduzir-se. A percentagem de participação nas eleições para o Parlamento Europeu caiu desde 1 979 até agora, de uma média de 65% para 40%. A média de participação francesa é ainda mais baixa.

Por outro lado, a percentagem de participação nas eleições presidenciais turcas, celebradas em 2 018 na Turquia, superou os 87%. O facto das taxas de voto na Turquia serem muito elevadas, pode ser considerado como um indicador da confiança das massas na política e nos partidos políticos.

 

Os motivos por detrás do desinteresse na política

Alguns cientistas políticos explicam a redução gradual da taxa de participação nas eleições no Ocidente, com o aumento do bem-estar. Esta é uma explicação parcialmente correta. O aumento excessivo dos níveis de bem estar, pode reduzir a participação política já que há menos expetativas em relação à política. Mas no geral, a situação nos países ocidentais e em França em particular, não se explica pelo aumento do bem estar. Sabemos que os países ocidentais caminham para a anti-globalização, por não terem sido beneficiados pelo processo de globalização, que faz contrair gradualmente as suas economias. A subida cada vez maior dos partidos racistas e as crescentes manifestações de rua, não se explicam pelo aumento do bem estar.

Por outro lado, pode-se dizer que a redução do interesse pelas eleições causa uma mudança nos caminhos da participação política. Sem dúvida, são importantes o aumento do número e das funções das organizações não governamentais e profissionais, bem como o facto dos votantes poderem rapidamente deixar as suas mensagens através das novas tecnologias de comunicação e redes sociais, sem terem de esperar pelas eleições. Mas esta situação não elimina os riscos representados pelas baixas taxas de participação, pois não muda a realidade do poder político ainda ser determinado através de eleições.

O facto de não ser dada prioridade às preferências da amplas massas da sociedade e de não haver respostas para o declínio da economia, faz com que se reduza o espaço vital da diversidade devido ao crescente racismo e às crescentes acusações de corrupção contra os políticos. Tudo isto causa desinteresse pela política.

 

A política sem princípios: Al Sisi, consagrado na semana de execuções

As declarações sem princípios, contraditórias e sem normas, podem sem dúvida ser consideradas razões para a perda de esperança na política. Em termos de política externa, a União Europeia (UE) e os países comunitários, falam com frequência na falta de democracia e violações dos direitos humanos noutros países. Mas os líderes destes países não evitaram a cimeira entre a UE e a Liga Árabe, sob o auspício do general golpista Al Sisi do Egito, numa semana em que foram executados 9 jovens civis. Nenhum destes líderes criticou Al Sisi. Neste contexto, é possível falar de perssuasão das críticas da UE em termos de política externa? Que tipo de princípios, esperança e consistência pode um eleitor esperar deste tipo de políticas, em matérias externas?

Em França, os espaços de liberdade reduzem-se cada vez mais, em parte devido à xenofobia, islamofobia e antisemitismo, e por outro lado devido à inclusão no antisemitismo da liberdade de expressão mais fundamental, bem como devido aos esforços para condenar as críticas contra o sionismo.

 

Quando a política deixa de ser a esperança…

Macron assumiu o poder em França pelo facto dos partidos de centro esquerda e centro direita terem perdido o seu sentido. O movimento dos Coletes Amarelos segue a mesma tendência. As ações dos Coletes Amarelos continuam até ao momento, com mais de 10 mortos e milhares de feridos e detidos.

A transformação deste movimento num partido político, não é o tema deste programa. Mas o desinteresse crescente pela determinação da política nas urnas e o crescente interesse pelos movimentos de rua, demonstram que os partidos políticos tradicionais atravessam uma grave crise de sentido e confiança. Neste aspeto, a política francesa em particular e a europeia em geral, vivem num ambiente de incerteza e desconfiança, que se traduz na redução das taxas de participação política.

Esta atmosfera de desconfiança é uma grave ameaça para o futuro da Europa e para o mundo. Esta situação, que pode ser considerada como a crise política europeia, deixa a Europa numa situação de incerteza não antecipada.

Adicionalmente, a subida dos partidos racistas e as procuras fora das urnas, representam um grande risco para as democracias. Como no exemplo de França, em que os partidos de extrema direita conseguem avançar para a segunda volta das eleições, apesar de ser possível que os eleitores se unam contra estes partidos na segunda volta. Mas com o desaparecimento gradual dos partidos de centro direita e centro esquerda, é cada vez mais difícil deter o avanço dos partidos racistas.

Se as autoridades francesas querem que a política volte a ter um significado e esperança para a sociedade, devem deixar de criticar constantemente outros países, como manifestação de uma tradição imperialista. E devem escutar a sua sociedade. Temo que a sociedade francesa perca por completo a esperança na mudança, através da política legítima e legal. França espera por um novo período de “iluminação”, que conhece bem e do qual está orgulhosa, mas que pode causar a morte de muitas pessoas e destruir as instituições existentes.

Este programa foi escrito pelo Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Yildirim Beyazit em Ancara



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