Para onde vai a Síria?

A guerra na Síria continua com toda a sua crueldade, no seu sétimo aniversário. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara.

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Para onde vai a Síria?

A guerra na Síria continua com toda a sua crueldade, no seu sétimo aniversário. Os ataques do regime sírio e da Rússia continuam perante os olhos de todo o mundo, contra Idlib, a última das 4 zonas declaradas como “zona de distenção do Processo de Astana. Todo o mundo discute com serenidade quantos milhões de pessoas irão abandonar o seu país por causa destes ataques, e se vão ou não ser usadas armas químicas. Tal como se fala de forma despreocupada dos novos enredos de uma telenovela e sem piedade. Parece que todos os corações se petrificaram.

As partes envolvidas no Processo de Astana, a Turquia, o Irão e a Rússia, reuniram-se em Teerão na passada sexta-feira, dia 31 de agosto. Discutiram a situação em Idlib e o futuro geral da Síria. A Cimeira de Teerão foi a prova concreta de como a Turquia está sozinha e luta solitariamente de forma honesta, para que não sejam massacrados os sírios, num mundo em que o Ocidente fala de longe e em que a comunidade internacional e as organizações internacionais guardam silêncio. O facto do Irão ter emitido as negociações em direto, sem o conhecimento da Turquia e da Rússia, fez com que o mundo ouvisse uma vez mais toda a verdade, como se alguém se tivesse esquecido de um microfone ligado. Mas infelizmente, nas negociações não ouvimos nem uma frase de preocupação da parte de outros líderes, sobre o drama humanitário dos sírios.

O presidente Erdogan falou várias vezes da necessidade de um cessar fogo e disse que a Turquia acolhe 4,5 milhões de refugiados, na sua maioria sírios. Mas a Turquia também poderia fechar as suas fronteiras aos refugiados, como muitos outros países. Poderia fazer como alguns países da União Europeia, que assenta o seu poder no ódio migratório e que recusa os valores da União Europeia, os direitos humanos e o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, quando vê milhares de refugiados. Mas a Turquia não o faz. A diferença da Turquia face a outros países, é o facto de atuar em função do seu sentimento de responsabilidade histórica, humanitária e consciência.

Infelizmente, não há qualquer mudança de posição por parte das fações no sétimo aniversário da guerra. A Rússia continua a estar ao lado do regime para ser mais poderosa no Mediterrâneo, através das suas bases na Síria para poder enfrentar o Ocidente numa região longíqua, em vez de o fazer na Crimeia, Geórgia e Ucrânia. E o Irão continua com a sua política regional expansionista. Olhemos para as expressões do deputado iraniano Ali Riza Zakani, conhecido pela sua proximidade ao lider religioso Ali Khamenei, e que disse que “há 3 países árabes hoje nas mãos do Irão e que dependem da revolução islâmica. Saná tornou-se na quarta capital árabe a caminho de participar na revolução iraniana”. Esta frase revela o expansionismo regional do Irão.

Não consigo saber exatamente até que ponto pertencem ao Irão as capitais do Líbano, Iraque, Iémen e Síria, como alegou Zakani. Mas os desenvolvimentos nestes países mostram que os seus habitantes responsabilizam o Irão pelo sangue derramado na região. O facto do povo de maioria xiita ter saído às ruas em Bassorá - a segunda maior cidade do Iraque – e de ter pegado fogo ao consulado geral do Irão, são exemplos dos traços deixados pelo expansionismo iraniano. Por exemplo, o facto de nenhum refugiado ir para o Irão, enquanto tentam chegar ao fim do mundo, não mostra que os sírios não têm esperança na abordagem sectária, de vizinhança e nos valores humanitários do Irão?

Muito provavelmente, Israel é o país chave por detrás do cenário de guerra na Síria. Israel segue uma política profunda e silenciosa do princípio ao fim, no sentido da guerra continuar pelo maior tempo possível, para que os seus rivais na região percam todos força ao mesmo tempo. Esta política enquadra-se na estratégia do “Grande Israel”, que prevê que as fronteiras israelitas se alarguem até à “Terra Prometida”, que inclui o sudeste da Turquia nas ideias das Terras de Israel dos judeus sionistas. Talvez estejam a tomar medidas nesse sentido.

A política dos EUA para a Síria não depende de Israel. Os Estados Unidos continuam a dar um enorme apoio armado ao grupo terrorista PKK/PYD, apesar da ameaça do DAESH ter sido eliminada. Parece que agora este apoio é para pressionar o Irão. O apoio extraordinário dado ao estado terrorista do PKK/PYD, que tenta dividir a Turquia e que fechará a fronteira turca, pode-se explicar apenas com o isolamento do Irão? Será este corredor terrorista um caminho aberto para que Israel possa alcançar os seus objetivos de longo prazo?

E a União Europeia? Qual é a política da União Europeia e dos seus países para a Síria, onde aumenta cada vez mais a extrema direita e onde o único objetivo é que não chegue nenhum refugiado sírio?

Se os EUA não renunciarem às suas políticas baseadas apenas em Israel e se a União Europeia não der passos concretos, haverá apenas promessas vãs. E não faz sentido esperar que o regime sírio pare os seus ataques apoiados pelos russos e iranianos. A União Europeia e os EUA não vêem qualquer problema, desde que os sírios morram no seu país ou fiquem na Turquia.

Na Síria faz-se uma limpeza étnica perante os olhos de todo o mundo. Está a ser mudada a estrutura populacional do país. O regime e os seus apoiantes, e por vezes os países ocidentais, dizem que as cidades são ninhos de terroristas e começam a bombardea-las, forçando milhões de pessoas a abandonar as suas casas. Serão milhões de pessoas terroristas? Se o objetivo é lutar contra o terrorismo, será que o único caminho é destruir todas as cidades e os seus habitantes, sem discriminar entre terroristas e inocentes?

Tem que acabar a guerra suja na Síria, cujo preço não é pago pelos beligerantes mas sim por aqueles que se preocupam com a humanidade, como a Turquia. Tem que acabar a guerra para que se curem as feridas. Quem tem culpa dos bebés serem queimados vivos com bombas? Os nossos corações sofrem com a dor dos bebés Aylan, que se afogou quando fugia para não ser alvo de bombas.

A história da humanidade está cheia de cruéis como Idi Amin, Stalin, Pol Pot, Hitler, Mussolini, Ivan o Terrível, Robespierre, Conde Drácula, os Cruzados e Haccac-ı Zalim. Mas nenhuma brutalidade dura para sempre. Mais cedo ou mais tarde os cruéis sofrem com a sua crueldade e vencem os oprimidos. Sabendo atualmente que todos estes cruéis são condenados, quem ganha é sempre a humanidade no longo prazo.

Um bandido não domina o mundo…

Esta foi a opinião sobre este assunto do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara



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