A nova era entre a Turquia e a Rússia

As relações entre Ancara e Moscovo nas áreas da energia e da economia são de extrema importância. A análise de Can Acun, investigador da Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais (SETA).

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A nova era entre a Turquia e a Rússia

As relações bilaterais entre a Turquia e a Rússia voltaram a ser melhores, depois da crise do avião abatido que ocorreu em 2 015. A melhoria das relações entre os dois países teve repercussões positivas nas áreas política, diplomática, militar e económica. A relação pessoal entre os presidentes dos dois países, a cooperação focada nos interesses comuns e o incómodo face à postura adotada ultimamente pelos Estados Unidos, tiveram um papel importante na rápida recuperação dos laços entre a Turquia e a Rússia. Mas apesar da cooperação se ter desenvolvido nalgumas áreas, continua a haver desacordo noutras.

O presidente russo, Vladimir Putin, indicou que as relações entre a Turquia e a Rússia se estão a desenvolver cada vez mais e acresentou que “a nossa relação com a Turquia é cada vez mais profunda e é enriquecida com novos conteúdos”. Esta afirmação de Putin resume o desenvolvimento dos laços entre os dois países.

As relações entre Ancara e Moscovo nas áreas da energia e da economia são de extrema importância. O ex-ministro russo das Finanças, Mikhail Zadornov, disse que “a Rússia têm importantes ligações económicas com a Turquia, que faz parte da lista dos 10 maiores parceiros comerciais da Rússia”. Esta declaração, vinda da Rússia, é de grande importância neste sentido.

Segundo os dados do Serviço Federal Russo de Alfândegas (FTS), no primeiro semestre deste ano a Turquia foi o 4º maior parceiro comercial da Rússia, com um volume comercial na ordem dos 13,3 mil milhões de dólares. Este valor representa uma subida de 37% em relação ao mesmo período do ano passado. Em paralelo, a chegada dos turistas russos à Turquia tem também uma grande importância nas relações bilaterais. O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Çavusoglu, considerou ser satisfatória a subida constante do número de turistas russos que vêm à Turquia, e assinalou que a Turquia está contente por receber 6 milhões de turistas russos este ano.

No campo da energia há projetos importantes a decorrer entre os dois países, como a Central Nuclear de Akkuyu e a construção do gasoduto Turkish Stream. A Central Nuclear de Akkuyu irá responder a 10% das necessidades de energia elétrica da Turquia e tem uma importância estratégica para garantir as necessidades de energia da crescente economia turca.

Da mesma forma, também o gasoduto Turkish Stream irá ajudar a garantir uma boa parte das necessidades energéticas da Turquia. Depois de concluído na Turquia, o projeto Turkish Stream deverá estender-se numa segunda fase até aos países dos Balcãs. Nessa altura, será dado um passo de grande importância para o planeamento estratégico do país, com a Turquia a passar a ser uma rota de passagem da energia para a Europa.

Para além da cooperação energética e económica, também cresce a cooperação militar entre a Turquia e a Rússia. A compra por parte da Turquia dos sistema russo de defesa aérea S-400, permitiu o aprofundamento das relações bilaterais entre os dois países. A entrega deste sistema deverá acontecer em 2 019. Neste sentido, o diretor de cooperação internacional e política regional da Rostec, Viktor Kladov, disse que “posso dizer de forma definitiva, que o acordo em relação ao sistema S-400 é um passo importante para reforçar e desenvolver a colaboração técnica e militar entre os dois países. Não vejo obstáculos ao desenvolvimento da nossa colaboração também em novas áreas industriais”.

Os Estados Unidos são o país mais incomodado com o desenvolvimento das relações entre a Rússia e a Turquia. Depois da Turquia ter comprado o sistema de defesa aérea S-400 à Rússia, os responsáveis americanos ameaçaram a Turquia com o cancelamento da venda dos aviões F-35 à Turquia, um projeto no qual a Turquia é um parceiro. O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Çavusoglu, disse que a compra do sistema S-400 não resultou duma escolha, mas sim duma obrigação, depois dos países da NATO terem recusado vender os seus sistemas de defesa aérea, apesar dos pedidos da Turquia.

As divergências entre a Turquia e os Estados Unidos por causa da Organização Terrorista Gulenista (FETO), e também devido ao PKK/YPG e ao caso Brunson, fizeram com que a relações entre os dois aliados da NATO se tornassem tensas. A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor sanções económicas contra a Turquia, também afetou negativamente as relações. É sintomático que o chefe da diplomacia turca, Mevlut Çavusoglu, tenha dito em Moscovo que “a relação entre a Rússia e a Turquia continua a causar inveja em alguns”.

Apesar dos laços entre a Turquia e a Rússia se terem desenvolvido positivamente, os dois países ainda têm importantes divergências, em particular na questão da Síria. A Turquia e a Rússia atuam conjuntamente no processo de Astana, mas têm posições contrárias nas questões básicas da crise síria. No caso da Rússia permitir ou apoiar um ataque do regime de Damasco contra Idlib, a Turquia irá enfrentar uma séria crise migratória, que irá prejudicar os laços bilaterais com a Rússia. Outro ponto de discórdia é a oposição da Turquia à anexação da Crimeia pela Rússia, e às políticas russas contra os turcos da Crimeia. Adicionalmente, está também a ser desenvolvida em várias áreas a colaboração entre a Turquia e a Ucrânia, nomeadamente ao nível da indústria de defesa. A Turquia não apoia as políticas da Rússia em relação à Ucrânia.

E no final de contas, apesar do desenvolvimento das relações entre a Turquia e a Rússia, a Turquia é um país da NATO.

Esta foi a análise sobre este tema de Can Acun, investigador da Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais (SETA)



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