América Latina e Irã

As relações entre o Irã e a América Latina terão um impulso ou não após a retirada de Trump do Acordo Nuclear com o Irã?

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América Latina e Irã

Atualidade da América Latina / Capítulo 19

Autor: Mehmet Ozkan*

Os esforços do Irã para estabelecer seu próprio espaço na América Latina tem sido um dos itens mais importantes da agenda internacional no período recente. Especialmente no mandato de Ahmadinejad, oito visitas de alto nível foram feitas ao continente, inquietando os EUA especialmente.

Essas visitas do Irã foram especialmente aos países antiocidentais e esquerdistas liderados pela Venezuela e se concentraram em estabelecer com eles uma plataforma comum.

Quando olhamos de hoje para o passado, podemos dizer que esta colaboração não foi muito permanente e deixa uma marca em alguns pontos e sinais para o futuro. As relações entre o Irã e a América Latina que entraram em um período de estagnação após o mandato de Hasan Rouhani, terão um aumento ou não após a retirada de Trump do Acordo Nuclear com o Irã?

 

O principal interesse do Irã na América Latina começou com a visita de seu embaixador nos EUA ao continente em 1903, para fazer uma série de acordos diferentes com alguns países. No período da Guerra Fria até a revolução iraniana em 1979, as relações continuaram como parte do elenco do Ocidente. A natureza das relações estabelecidas com a Venezuela nesse período foi considerada como a continuação da política de cerco ocidental contra os soviéticos e muito normal por ter poderes em dois países que tinham uma inclinação ocidental. Mas a revolução iraniana em 1979 mudou radicalmente as relações do Irã com o continente.

Nos anos 80, o Irã, concentrado principalmente no Oriente Médio, não pôde se abrir para o continente latino-americano. A mesma onda continuou durante os anos 90. Foi uma oportunidade de ouro para o Irã a ascensão da esquerda latina que começou no continente com a chegada de Hugo Chávez na Venezuela e a partir dali as relações passaram a aumentar. A pressão e as ameaças do Ocidente ao Irã por seu programa nuclear, que coincidiu com o mesmo período, aproximaram o Irã da esquerda latina.

As relações entre o Irã e os países latino-americanos se intensificaram com Ahmadinejad subindo ao poder em 2005, atingindo seu ponto máximo. O Irã abriu embaixadas em muitos países e o comércio aumentou especialmente com a Venezuela e seus aliados próximos:  Equador, Nicarágua e Bolívia. Os presidentes, além das visitas ao nível superior, fizeram ações de boa intenção recíprocas. Por exemplo, a Bolívia transferiu sua única embaixada no Oriente Médio do Cairo para Teerã. Dada essa boa gestão, o Irã abriu um centro de cultura e embaixada na Bolívia, estabeleceu uma rede que transmite em espanhol a Hispan TV, cujo centro fica em Teerã. Esta rede ainda está tentando continuar dando notícias regionais do ponto de vista do Irã. Neste período, voos diretos entre Caracas e Teerã foram iniciados. O vôo partia da Venezuela inicialmente, pousava em Damasco, e depois seguia para Teerã. De acordo com muitos especialistas, estes voos destinavam-se a transportar materiais militares entre as duas partes e foram parados em 2010.

No mesmo período, o Irã tentou se aproximar do Brasil, o principal país do continente, mas depois do Acordo de Teerã, que foi assinado junto com a Turquia no último período de Lula, em 2010, o Brasil se retirou um pouco das questões iranianas. As relações do Irã com a Argentina pioraram com a crescente dúvida de que o Irã tinha se envolvido com o Hezbollah no bombardeio de um centro cultural em Buenos Aires em 1994. A partir disso, as relações argentino-iranianas não conseguiram manter um roteiro.

Quando Hasan Rouhani chegou ao poder como presidente, a América Latina passou a ocupar uma posição mais baixa. Enquanto Rouhani focava em encontrar uma maneira de sair com o Ocidente na política externa, a queda da onda de esquerda no continente influenciou diretamente as relações entre o Irã e os países latino-americanos. Depois de uma recessão de alguns anos, no verão de 2016 o chanceler iraniano fez uma expedição com uma delegação de 60 pessoas para o continente. O objetivo desta visita era reformar as relações anteriores com um novo formato.

Quando olhamos desde o passado, vemos que permanece as relações do Irã com o continente mas o país não aplica mais uma política agressiva em relação a América Latina como o fez no passado, querendo apenas seguir as relações previamente estabelecidas e trazê-las para uma plataforma mais racional. A maioria das mesquitas e centros de cultura iraniana que realizavam propaganda xiita no período Ahmadinejad foram fechadas porque não houve interesse no continente e o Irã aprendeu que não havia sentido fazer este enorme tipo de investimento. O Irã prefere dar aulas levando muitos latinos ao Irã, que preferem o islamismo xiita no continente. O Irã garante oportunidade profissional na Hispan TV também através de contatos estreitos com autores, repórteres e colunistas considerados apoiantes, tentando evitar a formação de uma valorização contra o Irã no continente, pelo menos.

A percepção do Irã no continente não é muito positiva por causa da avaliação de que o Irã é perigoso, o que é dirigido a partir do Ocidente. Mas muitos países preferem continuar seus relacionamentos a nível formal. Agora é difícil dizer como serão as relações no futuro, se irá mudar a aborgadem em relação ao Irã após a recente visita do ministro iraniano ao continente. Além disso, o novo período de relações entre Irã e América Latina depende também em grande parte do futuro dos poderes de esquerda no continente, o que determinará se serão profundas, permanentes e anti-sistemáticas.

 

*Essa foi a avaliação do Dr Mehmet Ozkan, da Academia de Polícia e o coordenador para América Latina da Agência de Cooperação e Coordenação Turca (TIKA).



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