A Geopolítica da América Latina

Sempre houve controvérsias sobre se a América Latina sozinha poderia ter existido como uma unidade política e econômica e se seria aceita. Qual é a essência da Geopolítica da América Latina?

956003
A Geopolítica da América Latina

A atualidade da América Latina: 15/2018

Sempre houve controvérsias sobre se a América Latina sozinha poderia ter existido  como uma unidade política e econômica e se seria aceita. Desde que os países do continente conquistaram a sua independência, sempre foram feitas tentativas para garantir a unidade, mas por alguma razão isso nunca foi alcançado. Na verdade, nessa área, podemos dizer que a América Latina tem mais vantagens do que os outros continentes. De uma forma séria, um continente pode ser considerado como uma associação de línguas. Exceto o Brasil, em que é falado o Português e nos países pequenos localizados na costa noroeste como a Guiana e a Guiana Francesa, o espanhol é falado predominantemente em quase todos os países. Dessa forma, deveria ser relativamente fácil criar um repositório comum de bens culturais através do fluxo de informações, da parceria emocional falando-se a mesma língua e também na área de artes como na música, no cinema e no teatro. Entretanto, isso nunca aconteceu. Qual é a essência da Geopolítica da América Latina?

Apresentamos a análise do Acadêmico Assistente Dr. Mehmet ÖZKAN, membro da Academia de Polícia.

Em primeiro lugar, deve-se notar que apesar dos seus grandes esforços, o sonho de Simon Bolívar de criar uma grande Colômbia não se concretizou de forma permanente. Bolívar, que pretendia unir a Venezuela, o Equador e a Colômbia, foi uma grande figura política que levou esses países à independência. Não obstante, é uma opinião comum da maioria dos pesquisadores que a associação que eles queriam estabelecer não pôde se cumprir, especialmente devido às condições geográficas. O Brasil localizado na parte sul do continente, seja em termos geográficos ou no tamanho de sua população, sempre se considerou como uma "unidade" por si só no continente. Sempre se enxergou de forma separada de outros países do continente. É necessário dizer que ainda hoje continua de forma parcial.

Olhando para os outros países, os problemas fronteiriços entre o Equador, o Peru, a Bolívia e o Chile, e a guerra que teve lugar devido a essa situação, abriu caminho para o espírito de união entre esses pequenos países. Portanto, do ponto de vista da geopolítica continental, apesar da existência de alguns elementos facilitadores da unidade, todos os esforços nesse sentido têm sido vistos como fictícios.

Neste contexto, é necessário também mencionar alguns pontos. Especialmente no continente, a maior parte das cidades são construídas no topo de algumas montanhas, o que torna fácil a defesa contra os exploradores. Bogotá, Quito, La Paz e muitas outras cidades foram fundadas especialmente em locais com mais de 2.500 metros de altitude e formaram uma área de grande defesa natural. O transporte entre o continente a partir de rodovias é realmente difícil devido à altura dos Andes e outras condições geográficas. Somente nos últimos anos o transporte aéreo começou a se desenvolver, mas ainda é muito caro. Por exemplo, a tarifa de voo entre Bogotá-Lima, com duração de 160 minutos, ou de Bogotá-Quito, que fica a cerca de 70 minutos de avião, é igual ao preço do voo entre Bogotá-Madri, que possui uma duração de 9,5 horas. Portanto, apesar de todos os desenvolvimentos tecnológicos e de comunicação, muitos obstáculos invisíveis ainda permanecem em detrimento da comunicação intra-continental.

Quando observamos do ponto de vista político-geopolítico, é possível dizer que todos os países do continente têm hoje uma visão muito distinta, com prioridades muito diferentes. O fato de que a política da direita e da esquerda no sentido político foi fortemente dividida, as experiências vivenciadas e que não foram compartilhadas entre os países, mas que todos conhecem as suas linhas de pensamento, realmente determinam as possibilidades e os limites da cooperação política. A diferença estrutural no nível de desenvolvimento econômico entre os países reduz o comércio entre os países.

Não há interdependência econômica entre os países do continente. Olhando para os números de comércio dos países, a China, os Estados Unidos e os países da União Europeia estão entre os países com maior volume de negociação comercial. Também criam um campo separado de competição entre os países produtores agrícolas do continente em alguns produtos como o café, o cacau, a música etc., e competem por conta própria. Além disso, cada país criou um engajamento diferente fora do continente. Enquanto o Brasil visa principalmente a Itália e o Reino Unido; A Colômbia está olhando para a América. Enquanto a Venezuela direciona seu olhar para o Irã, para a Rússia e para a China; O Equador direciona-se mais para a China. O Chile segue os países europeus; a Argentina e o Paraguai estão observando a Itália e a Alemanha. Essas preferências e prioridades tão diferentes são problemas não escritos em frente ao movimento comum do continente.

Embora muitas organizações de cooperação política e econômica, como a Cooperação do Pacífico, a ALBA e o MERCOSUL, sejam criadas para proporcionar a coesão interna, a maioria delas não conseguiu alcançar mais do que uma união nominal desde o seu início ou uma organização que se estabeleceu para ampliar a sua legitimidade dentro do seu próprio país. Por exemplo, de acordo com a maioria dos analistas, o único ponto comum da Cooperação do Pacífico é ter o ‘pacífico’ como vizinho. A cooperação entre o México, a Colômbia e o Peru é extremamente fraca e na verdade, existe uma séria concorrência. A cooperação da Argentina e do Chile fora da Cooperação do Pacífico ficou fadada apenas em nome do êxito da empreitada. O mesmo pode ser dito da ALBA, que Chávez criou para estabelecer sua própria agência.

Portanto, durante muitas décadas no continente, apesar de toda a estruturação e esforços relacionados à sua existência na área de geopolítica, a América Latina agindo como um ator sozinho não conseguiu fazer com que essa situação não passasse de um sonho nos dias de hoje.

Esta foi a análise do Acadêmico Assistente Dr. Mehmet ÖZKAN, membro da Academia de Polícia.



Notícias relacionadas