Poderá a política da Rússia para o PKK/PYD e o apoio em Afrin mudar o equilíbrio de poder na Síria?

A Perspetiva da Turquia, um programa do Prof. Dr. Salih Yilmaz – presidente do Instituto de Pesquisas sobre a Rússia (RUSEN) – e membro do corpo académico da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara.

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Poderá a política da Rússia para o PKK/PYD e o apoio em Afrin mudar o equilíbrio de poder na Síria?

À medida que a Turquia começou a operação Ramo de Oliveira em Afrin, no dia 20 de janeiro, podemos dizer que se tornaram visíveis as guerras através de terceiros, que os países têm vindo a fazer na Síria desde há algum tempo. O surgir da esperança de uma paz política na Síria, a operação em Afrin e as decisões de Sochi, tiveram impacto nos países com uma presença no terreno na Síria.

Depois de ter chegado ao fim a guerra contra o DAESH na Síria, o Congresso de Diálogo Nacional da Síria reuniu-se sob a garantia da Turquia, da Rússia e do Irão, no dia 29 de janeiro de 2 018. Os resultados mais importantes deste congresso de dois dias, que juntou vários grupos apoiantes do governo sírio e da oposição dos grupos étnicos, foram o foco pelo respeito da integridade territorial da Síria e a decisão da criação de um comité composto por membros do governo da República Síria Árabe, lado a lado, com uma extensa delegação representativa de grupos da oposição. Este comité ficará encarregue pela elaboração de uma proposta de nova constituição para a Síria, de acordo com a Resolução 2254 do Conselho de Segurança da ONU.

O Congresso de Sochi também deu uma oportunidade às conversações de paz de Genebra, sob os auspícios da ONU, que começaram em 2 012 e que agora não foram capazes de encontrar nenhuma solução. Na realidade, este processo só fez com que os Estados Unidos se envolvessem no terreno. Isto porque os Estados Unidos constataram que a integridade territorial da Síria ameaçava os seus interesses, e por isso optaram por usar o PKK/PYD como arma contra a Turquia e a Rússia, uma opção na qual têm vindo a investir desde algum tempo.

Será o PKK/PYD uma ferramenta que os Estados Unidos usam para dividir a Síria?

Depois da operação em Afrin, os Estados Unidos viraram-se para a organização terrorista PKK / PYD como um poder útil, que lhes era totalmente leal. Os EUA tiveram que partilhar parte do controlo que tinham, quando a Rússia iniciou as suas operações na Síria em 2 015. E por isso planearam ficar nesta região por muito tempo, dividindo a Síria através do PYD. No entanto, o anúncio da Turquia de que depois da operação de Afrin irá libertar o norte da Síria dos terroristas, perturbou os planos. Ou seja, os planos americanos sobre a criação de uma zona segura na região, indo do norte da Síria e da fronteira do Iraque até aos Montes Golan, através da sua influência sobre o PYD, tornou-se mais difícil. Isto porque não parece possível que o PKK / PYD possa controlar a linha entre Raqqa e Deir ez-Zor, depois de ser expulso do norte da Síria.

Para defender a integridade territorial da Síria, a Rússia e a Turquia também põem em perigo a zona segura de 40 kms para Israel, que os EUA estão a tentar criar. Obviamente, para conseguir isto, seria preciso que o processo de Sochi falhasse e que a guerra na Síria se intensificasse. Por isso, foi adotada uma nova estratégia para fazer descarrilar os ganhos da Rússia. Começaram por atacar os aviões russos na base aérea de Hmeimim. E depois abateram um avião russo. E por fim, publicaram imagens de ataques contra as forças de Assad - que incluam mercenários russos em Deir ez-Zor – para mostrar a Rússia como fraca. As forças de Assad abateram um avião israelita como resposta a estas atividades.

O novo equilíbrio de poder na Síria obriga a Rússia a apoiar a política turca para o PKK / PYD

Quando o avião israelita foi abatido e a Turquia começou a operação em Afrin, novos atores como Israel, a China, a França e até o Reino Unidos, usaram isto como pretexto para entrar no terreno. A incapacidade da Turquia em avançar a sua campanha para Leste do Eufrates, depois do começo da campanha de Afrin, poderá ameaçar a força que a Rússia tinha até agora. Se a Rússia não apoiar a política da Turquia para o PKK / PYD tal como está, isso poderá fazer com que a Rússia seja puxada para o conflito com novos ataques, semelhantes às provocações como quando o seu avião de guerra foi derrubado.

Tanto a Rússia como os EUA, Israel e a China, não podem usar o PKK / PYD tal como existe. Se a Rússia ainda espera pela ajuda do PKK / PYD, essa política poderá conduzir a sérias consequências após algum tempo. Em nenhuma situação parece ser possível que o PKK / PYD respeite as condições da Rússia. Os EUA deram-lhes armas, pagaram os salários dos seus membros, treinaram-nos e abriram muitas bases para os proteger. Considerando que o PKK / PYD está totalmente sob controlo americano, não devemos esperar que esta organização opere a favor dos interesses russos. Este novo balanço de poder obriga a que a Rússia e a Turquia adotem uma posição comum para a retirada dos elementos do PKK / PYD do norte, com uma estratégia comum ou até operações conjuntas. Isto porque a campanha da Turquia em relação ao PKK / PYD tem legitimidade internacional. O PKK / PYD perdeu o seu controlo sobre o norte em resultado desta legitimidade, e ao mesmo tempo deixará de ser uma arma nas mãos dos EUA.

Os EUA querem criar uma nova equação na Síria com a proposta de um PYD sem o PKK

O papel de espetador da Rússia em relação à operação turca em Afrin, dá mais tempo aos EUA. Vimos que nas conversações do secretário de estado americano Tillerson – durante a sua visita à Turquia – os EUA pareceram continuar a insistir no PKK / PYD. As conversações incluíram soluções temporárias e o objetivo dos EUA de transformar o PYD num elemento nacional da Síria, separando-o do PKK, e uma proposta de trabalhar com a Turquia enquanto isto se concretiza. É um plano confuso que prevê a eliminação de Qandil na Síria. No entanto, pode-se perceber desta proposta que a Turquia olha para ela de forma negativa, por deixar a iniciativa aos EUA no norte depois do PKK. A estratégia russa de deixar a iniciativa aos EUA ao adotar uma posição de espetador, fará com que a Rússia enfrente um novo elemento controlado por Washington no norte da Síria, depois da região ser libertada do PKK.

Considerando todos estes elementos, a paz na Síria torna-se cada vez mais difícil à medida que as partes se entrincheiram. A Rússia pode desempenhar um papel significativo neste processo de escolher um lado. A política russa para o PKK / PYD irá afetar tanto a estratégia da Turquia como os ganhos da Rússia.

Se a Rússia apoiar ativamente no terreno a campanha da Turquia na frente, o PKK / PYD deixará de ser uma arma útil para os EUA.

Esta foi a opinião sobre este tema do Prof. Dr. Salih Yilmaz – presidente do Instituto de Pesquisas sobre a Rússia (RUSEN) – e membro do corpo académico da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara.



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