O processo de Astana e a operação da Turquia em Afrin

Muito em breve, pode ter início uma possível operação da Turquia juntamente com o Exército Livre Sírio contra a formação do YPG em Afrin. Já a seguir, apresentamos a opinião de Can Acun, investigador da Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais

892129
O processo de Astana e a operação da Turquia em Afrin

Foram dados passos muito importantes para a redução da tensão na Síria, no âmbito do processo de Astana que avançou sob a garantia da Turquia, Rússia e Irão. Este foi o passo mais importante dado até agora, por ter conseguido travar o conflito que já dura há 6 anos na Síria. Na sequência do consenso alcançado entre os três países garante, foram criadas zonas de arrefecimento do conflito em várias regiões da Síria, e decidiu-se reunir o Congresso Nacional de Paz com a participação de todos os grupos étnicos, em Sochi.

Os recentes confrontos em Idlib, uma das zonas de arrefecimento do conflito na Síria, estão a pôr em risco o processo de Astana. O regime de Assad e as milícias pro-Assad, tomaram o controlo de muitas localidades depois da operação em Idlib, apoiados pela aviação russa. O avanço das milícias que trabalham com o regime, levou-as até à zona envolvente do aeroporto de Abu Zujur. Este avanço só foi parcialmente travado devido ao contra ataque dos opositores sírios.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia declarou que a operação em Idlib é contrária ao consenso que foi alcançado sobre as zonas de arrefecimento do conflito. A Turquia pediu à Rússia para que pare com as operações nessa região, pressionando o regime de Assad. O facto dos opositores sírios apoiados pela Turquia terem lançado um contra ataque em Idlib, pode ser considerado como um aviso à Rússia e a Assad.

Entretanto, as mensagens do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, consolidaram as previsões que apontavam para uma operação em Afrin. “Poderá começar a qualquer momento uma operação em Afrin e Manbij. Vamos destruir os ninhos dos terroristas na Síria dentro de pouco tempo” – afirmou o presidente turco.

O porta voz da Falaq al-Sham anunciou que existem 20 mil membros do Exército Livre Sírio (ELS), dispostos a participar na operação militar em Afrin. Além disso, Erdogan deu esta mensagem: “Não se metam no meio entre nós e os terroristas. Caso contrário, não assumimos qualquer responsabilidade pelo que acontecer. Tirem as vossas bandeiras na base dos terroristas, para que não tenhamos que ser nós a baixar as vossas bandeiras e devolvê-las à procedência. Arranquem as vossas insígnias dos uniformes dos terroristas para que não sejamos obrigados a sepultar aqueles que se aliam com os terroristas”. Esta mensagem foi forte e importante para manifestar a determinação do país.

Os Estados Unidos estão a planear a criação de um novo exército, nas zonas controladas pelo YPG. A iniciativa do “Exército para a Proteção da Fronteira”, demonstra que Washington abdicou da integridade territorial da Síria e que planeia continuar a sua aproximação com o YPG, mesmo depois do desaparecimento do DAESH. Não obstante, a Turquia, a Rússia, o Irão, os opositores sírios e o regime de Assad, reagiram fortemente contra o plano dos Estados Unidos.

A ideia básica por detrás do processo sob a garantia do trio de Astana, é proteger a integridade territorial da Síria. O plano dos Estados Unidos de criar um novo exército composto pelo YPG na fronteira da Síria, do Iraque e da Turquia, é totalmente contrário ao processo de negociações. Constatamos que se verifica um isolamento paulatino dos Estados Unidos na Síria, por tentar impor factos consumados sob o pretexto de se estar a combater o DAESH. Os Estados Unidos tentam compensar a sua solidão através de alianças com países como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, os países do Golfo Pérsico e Israel.

Sabe-se que os militantes do YPG em Afrin estão em contacto próximo com a Rússia mais do que com os Estados Unidos, e que se alojam nas bases militares russas. A Rússia protegia o YPG, para além da proteção que já era dada pelos Estados Unidos. Surgiram reações moderadas em resposta à mensagem do presidente Erdogan. O porta voz do Pentágono, anunciou que Afrin não faz parte da área de operações dos Estados Unidos. Muito em breve, pode ter início uma possível operação da Turquia, juntamente com o Exército Livre Sírio, contra a formação do YPG em Afrin. A envergadura da operação é conhecida, mas possivelmente serão também tomadas as regiões em redor de Afrin, para encostar a um canto o contingente de terroristas. Apesar das zonas envolventes estarem sob o controlo do YPG, a maior parte da população é composta por árabes. A população civil continua no acampamento na fronteira turca, porque tiveram que abandonar as suas aldeias devido à invasão do YPG. O povo local pede à Turquia e ao ELS que liberte as localidades à sua volta.

Em termos gerais, estamos perante um processo dinâmico na Síria. O processo de Astana continua apesar das complicações. Os países garante parecem determinados em reconstruir a confiança mútua e em seguir este processo, apesar das violações ao cessar fogo por parte do regime de Assad. Por outro lado, surgiu uma forte reação da Rússia, do Irão, da Turquia, dos opositores sírios e do regime de Assad, contra o exército que os Estados Unidos querem criar com o YPG. A qualquer momento, é possível que comece a operação em Afrin, tal como indicou o presidente Erdogan.



Notícias relacionadas