A Cimeira de Sochi trouxe o anúncio de um novo período para a Síria

A análise de Cemil Dogaç Ipek, doutorado em relações internacionais e membro do corpo docente da Universidade Ataturk.

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A Cimeira de Sochi trouxe o anúncio de um novo período para a Síria

A Cimeira de Sochi realizada no dia 22 de novembro sob os auspícios do chefe de estado russo, Vladimir Putin, juntou o presidente russo, o presidente da República da Turquia Recep Tayyip Erdogan e o presidente do Irão, Hassan Ruhani. Esta cimeira foi seguida com atenção pela opinião pública mundial. Na realidade, Sochi representou a etapa seguinte às negociações de Astana, e aqui foi acordada uma cooperação seletiva iniciada entre estes 3 países, em grande parte focada na Síria até agora.

Apesar destes 3 países terem tido posições e interesses diferentes sobre a Síria desde o lançamento das conversações de Astana em 2 016, os 3 decidiram com a Cimeira de Sochi mostrar à comunidade internacional a sua cooperação seletiva, que decidiram implementar até agora. Esta visibilidade, desejada pelos 3 países, não é uma surpresa. Isto porque a criação de 5 zonas de arrefecimento do conflito por parte destes 3 países, bem como o cessar fogo decretado apesar de algumas dificuldades, são um grande feito no que diz respeito à situação que se vive na Síria.

Sem qualquer dúvida, uma das principais questões que fez com que o Irão, a Turquia e a Rússia se tivessem reunido em Sochi no dia 22 de novembro, é a posição comum partilhada pelos 3 países em relação à manutenção da integridade territorial da Síria. Neste contexto, a declaração conjunta dos 3 líderes afirmou o seu consenso político para a garantia da paz e da estabilidade na Síria, e provou que as conversações de Astana estão a ter consequências positivas. Por outro lado, esta declaração prova também que os 3 países já percorreram um grande caminho do ponto de vista da dimensão política da questão síria. Neste contexto, o facto do chefe de estado russo Vladimir Putin ter dito, durante a conferência de imprensa conjunta dada pelos 3 líderes após o seu encontro em Sochi, que o futuro dos sírios será decidido pelos sírios, é também importante deste ponto de vista.

Quando analisamos a questão síria do ponto de vista dos turcomenos da Síria, a “Luta pela honra e liberdade” levada a cabo pelos turcomenos da Síria desde 2 011, chegou a uma nova etapa. Apesar da mudança dos equilíbrios militares e políticos internos na Síria, e tendo em conta o ponto atingido nos equilíbrios entre as potências regionais do Médio Oriente, a solução política para a Síria passou agora à frente das questões militares no país. Atualmente, a Assembleia dos Turcomenos da Síria – que é a representante oficial dos turcomenos do país – está a travar uma batalha para assumir o seu lugar na mesa das negociações, para que possa ser alcançada uma solução política que proteja os seus interesses e que dê garantias em relação ao futuro da população turcomena da Síria, tanto do ponto de vista político, como na perspetiva diplomática no processo que se seguirá no futuro.

Naturalmente, os turcomenos são representados em diferentes plataformas no seio da oposição síria. No entanto, e apesar dos esforços desenvolvidos nesta plataforma para a proteção dos direitos dos turcomenos serem importantes, eles não são suficientes.

Os turcomenos da Síria representam a segunda maior população do país, depois dos árabes. Os turcomenos da Síria são uma das maiores vítimas deste processo, que se desenvolve na Síria até aos dias de hoje. Sendo um povo que nunca teve qualquer relação com organizações terroristas religiosas ou de caráter étnico, e que sempre defendeu a integridade territorial da Síria, os turcomenos da Síria desejam hoje em dia ser eles próprios a defender os seus interesses à mesa das negociações. Esta é uma exigência justa. No entanto, o facto dos turcomenos da Síria não estarem representados enquanto tal em nenhuma reunião sobre o futuro da Síria, coloca um ponto de interrogação em relação à sinceridade e legitimidade destas reuniões.

Neste contexto, a Assembleia dos Turcomenos da Síria irá estar presente no Congresso de Diálogo Nacional para a Síria, enquanto representante dos turcomenos sírios. Esta reunião irá ter lugar em Sochi e dela farão parte todas as populações da Síria. Neste enquadramento, nós sabemos que foram tomadas todas as iniciativas necessárias junto das autoridades e das instituições envolvidas neste processo.

O objetivo mais importante dos turcomenos da Síria, seja em Sochi ou noutras plataformas, é a aquisição por parte dos turcomenos de um estatuto jurídico que reconheça a sua existência, que os proteja e que garanta os seus direitos na nova constituição, que será redigida no quadro do princípio da proteção da integridade territorial da Síria. A este nível, eu penso que a exigência mais importante será a atribuição do estatuto de “povo fundador” aos turcomenos da Síria.

Para atingir este objetivo durante o processo que se avizinha, os turcomenos da Síria anunciaram há alguns dias à opinião pública que estão abertos ao diálogo político com todas as partes, e que querem contribuir para que seja implementada a estabilidade política na Síria. A linha vermelha dos turcomenos da Síria sobre este assunto, é não se sentarem à mesma mesa com organizações terroristas que coloquem em causa a segurança da Síria e da Turquia.

Neste contexto, não será correto que os atores religiosos e étnicos radicais implicados em diversas ações contra a integridade territorial da Síria, sejam convidados para a mesa das negociações ou que lhes seja permitido discutir e definir o futuro da Síria. Os turcomenos declararam que estão contra todas as estruturas e autoridades de caráter fracionário no processo de discussão do futuro da Síria. Esta é uma abordagem correta. Isto porque nós vivenciámos e vimos o que se passou no Iraque, e quais foram os resultados negativos da criação de um estatuto federal ou de uma autonomia com base em grupos religiosos ou étnicos. Foi esta a principal razão que esteve por detrás do aparecimento do DAESH no Iraque.

Os turcomenos da Síria não têm quaisquer exigências de criação de uma região autónoma ou federal, pois consideram que isso representa a divisão do país. Os turcomenos da Síria defendem um modelo de estado unitário onde todos os povos da Síria têm direitos e liberdades fundamentais.



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