A ameaça do nacionalismo étnico

A análise dos temas da atualidade por Erdal Simsek.

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A ameaça do nacionalismo étnico

O racismo nos países membros da União Europeia ganha terreno a cada dia que passa. Depois da Alemanha, da Holanda e da Bélgica, os votantes na Áustria deram o poder aos partidos racistas de direita.

O Partido Popular da Áustria, que adota políticas de direita e de marginalização contra os muçulmanos ao ponto de poderem ser consideradas como um crime de ódio, ganhou as eleições de há uma semana na Áustria.

O Partido da Liberdade da Áustria, um partido de extrema direita que recorre à retórica nazi, ficou em segundo lugar nessas eleições.

Os partidos que usam um discurso no limiar do crime de ódio contra os muçulmanos em geral e contra os turcos em particular, registaram um enorme crescimento de votos nas eleições que tiveram lugar na Alemanha no mês passado. Até os membros do Partido Social Democrata da Alemanha, que afirmam ser defensores incondicionais dos direitos humanos e da democracia, fizeram propaganda contra os muçulmanos, contra os trabalhadores estrangeiros e contra os imigrantes, recorrendo ao discurso racista.

As eleições na Áustria provaram uma vez mais que a Europa está cada vez mais a resvalar para o racismo. Não será surpresa para ninguém que a Europa, que passou por um período calmo desde 1 945, esteja a evoluir para uma marginalização racista e nazi, que assume as características de crime de ódio.

O continente europeu nunca esteve 100 anos sem registar guerras ou conflitos internos, desde que começou a história da humanidade.

O maior período sem conflitos na Europa registou-se desde 1 945 até agora. Este é o resultado do tratado de paz que também incluiu os poderes não europeus, e das consequências políticas desse tratado.

Outro motivo para este período de paz foi a destruição da Europa através de bombardeamentos, que se tornaram possíveis devido aos desenvolvimentos tecnológicos e que trouxeram um retrocesso económico.  

Todas as cidades europeias que hoje em dia considerarmos como sendo “cidades históricas”, foram arrasadas pelos bombardeamentos. Os edifícios históricos e as regiões envolventes foram completamente destruídos pelos bombardeamentos terrestres e aéreos. Entre 1 945 e 1 970, a Europa passou por um período de restruturação e de reconstrução. Os movimentos terroristas juvenis do final da década de 60 foram o resultado deste conforto relativo. O terror na Europa tinha atingido um tal nível, que até os primeiros ministros dos países eram raptados e assassinados. O primeiro ministro italiano Aldo Moro foi raptado e assassinado por uma organização terrorista de esquerda chamada Brigadas Vermelhas. E mais tarde, cerca de 10 anos depois, o PKK – uma organização terrorista europeia – matou o primeiro ministro sueco Olof Palme.

Quando a Europa viu que a espiral de terrorismo se virou contra si própria, todas as organizações terroristas foram imediatamente eliminadas. Por exemplo, foi feita uma declaração dizendo que os membros da infame organização terrorista Baader-Meinhof cometeram todos suicídio nas suas celas de prisão na mesma noite.

A onda de terror que se acumulou no mundo ocidental, infelizmente virou-se agora para o Médio Oriente e para a Ásia. A Europa começou a sofrer da sua tolerância face ao terrorismo que se arrastou durante anos. A oposição contra os muçulmanos, contra os imigrantes e contra os trabalhadores estrangeiros que se vive hoje em dia, irá tornar-se amanhã num confronto de nacionalismo sectário e étnico.

Como é que acha que esta onda de racismo que se acumula na Europa, será descarregada depois dos muçulmanos, dos imigrantes e dos trabalhadores estrangeiros regressarem aos seus países?

A doença do racismo não pode sobreviver sem uma oposição. E este inimigo da humanidade cria a sua própria oposição num curto espaço de tempo. Tomemos a Espanha como exemplo: Os catalães querem a secessão do governo central. O nacionalismo catalão baseado em Barcelona, infestou a Espanha. Mas esse mesmo nacionalismo irá virar-se contra os catalães. Barcelona, que os catalães consideram como sendo a sua capital, não é nem a terra dos catalães nem a terra dos espanhóis. Eu posso dizer isto aqueles que ainda não visitaram nem conhecem Barcelona: Todos os valores culturais e os edifícios que definem Barcelona, pertencem aos aragoneses. Pela sua história e pela sua cultura, Barcelona é Aragão. E os aragoneses são os descendentes do Rei Fernando. Eles também têm um incrível sentimento de nacionalismo étnico. Sem dúvida, os catalães irão meter-se em sarilhos com os aragoneses, depois da sua secessão da Espanha.

Recordando o facto dos aragoneses terem sido o executantes da Inquisição e os elementos por detrás do genocídio muçulmano e judeu, a extensão do problema que espera os catalães torna-se mais clara.

A Alemanha, a Bélgica, a Itália, a França e os países escandinavos… esta alta do nacionalismo em todos estes países, está lentamente a evoluir para o nacionalismo étnico. A Bavaria, o maior e mais rico estado da Alemanha, já fez ouvir a sua voz. A Liga Norte da Itália está a seguir pelo mesmo caminho. A Suécia é composta por 21 estados. Os netos dos Vikings já começaram a alimentar os ressentimentos que têm uns contra os outros.

A França tem um problema com a Córsega e com outras regiões. O nacionalismo regional começou também, infelizmente, a tomar conta deste país Mediterrânico.

Existe uma ameaça do nacionalismo étnico até na Grécia, que há anos se debate com uma recessão económica.

Apesar de todas estas tendências de nacionalismo étnico, o presidente da República da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, foi até à Sérvia enquanto convidado oficial do presidente da Sérvia. Toda a gente conhece a rivalidade histórica entre os dois países e as feridas daí resultantes. Depois da desintegração da Jugoslávia, o genocídio dos bósnios – que são parentes próximos dos turcos – e o sofrimento da guerra do Kosovo, deixaram uma ferida profunda no coração de todos os cidadãos turcos.

No entanto, o líder Erdogan da Turquia melhora intensivamente as relações políticas, comerciais e diplomáticas contra o avanço da onda de nacionalismo étnico. Outro líder que está ciente do perigo para o qual se dirige o mundo europeu, é o líder sérvio Aleksandar Vucic. Vucic convidou Erdogan até ao seu país e acompanhou-o em todas as suas deslocações. O presidente sérvio salientou que o mundo saiu do século XVI e indicou a necessidade de ser criada uma aliança entre a Turquia e a Sérvia.

Este contacto formal entre os dois líderes é simultaneamente uma resposta e uma barreira, contra a aterradora onda de racismo que se espalha pela Europa. Se dois países que até há pouco tempo tinham uma relação fria e distante, conseguem hoje ser aliados económicos e políticos, tal pode significar uma esperança para a Europa.

O Parlamento Europeu e a Comissão Europeia são duas organizações nas quais os racistas e nazis estão hoje presentes. Se os políticos europeus continuarem a fazer uso de um discurso racista, como fazem Merkel e Kurz, receio que estas duas organizações passarão a ser dominadas pelo racismo e pelo nazismo.



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