O nazismo está no Parlamento Europeu

A análise da atualidade por Erdal Simsek.

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O nazismo está no Parlamento Europeu

O mundo considerou o resultado das eleições na Alemanha como sendo normal. No entanto, depois da Holanda, da França e da Bélgica, um partido racista entrou também no parlamento alemão e irá enviar os seus representantes para o Parlamento Europeu.

Por outras palavras, os nazis vão entrar no Parlamento Europeu, a partir do país onde nasceu o nazismo que depois se espalhou por toda a Europa.

Para ser honesto, o mundo deve sentar-se  e pensar sobre isto, para encontrar uma solução para o vórtice para o qual nos arrastamos. No entanto, os intelectuais ocidentais em particular, optam por manter-se em silêncio sobre este assunto. Mas quer falemos, quer nos mantenhamos em silêncio, o dia chegará em que o monstro do nazismo irá bater à nossa porta. À medida que a Europa se afasta dos ideais e valores da civilização, o nazismo e o racismo começam a emergir.

O Ocidente fez-se com base em dois valores importantes. Um foi a democracia e o outro foi a interpretação dos direitos humanos. No entanto, depois da Guerra Fria, o mundo ocidental usou estes dois valores – sobre os quais construiu toda a sua civilização – de forma muito grosseira.

Os meios de comunicação social chegaram a todo o lado, e por isso duas pessoas muito afastadas uma da outra, passaram a ter a oportunidade de aceder às mesmas informações e conhecimento sobre o dia a dia. E à medida que as pessoas no Leste passaram a aceder à informação, quiseram ter mais liberdade individual e na sociedade em geral, e também nas suas nações.

Esta exigência revelou a atitude dualista do Ocidente em relação à democracia. No Leste, as pessoas expressaram a sua exigência por liberdade e lutaram para a alcançar. E deviam de facto concretizar essas exigências. No entanto, quando esta liberdade individual se concretizou ao nível social e do estado, foi quando o Ocidente deu uma volta de 180 graus.

Segundo o Ocidente, a exigência por liberdade e mais consumo por parte das pessoas do Leste, foi limitada pelos interesses do Ocidente. Por exemplo, vamos comparar dois construtores automóveis, na Alemanha e na Índia, com dois trabalhadores a fazerem o mesmo trabalho. A empresa europeia faz tudo o que pode para proteger os direitos sindicais dos seus trabalhadores. Neste momento, parece que a primeira prioridade do capital ocidental não é o lucro, mas sim o bem estar dos trabalhadores. Mas na prática, isto está longe da verdade.

Por exemplo, o preço do mesmo modelo produzido pela mesma empresa na Alemanha, na Índia, Paquistão, Coreia do Sul ou Turquia, é o mesmo em todo o mundo. No entanto, há enormes diferenças nos salários dos trabalhadores que produzem esse modelo. O trabalhador na Alemanha pode comprar carne todos os dias e alimentar-se de acordo com os parâmetros da Organização Mundial de Saúde. Mas o ordenado mensal do trabalhador indiano é inferior ao salário semanal do trabalhador alemão.

Quando confrontamos o capital com esta situação contraditória, obtemos uma resposta condescendente e marginal.

Da mesma forma, os ocidentais não acolhem positivamente as exigências por igualdade nas relações entre os estados. Eles querem manter os seus hábitos coloniais, uma abordagem sempre perentória e condescendente.

Por exemplo, um líder de um país do Leste eleito de forma clara e transparente por metade da sua nação. E torna-se na pior pessoa do mundo quando começa a proteger os interesses do seu país contra o Ocidente e quer ser tratado com igualdade pelo Ocidente.

Apesar do parlamento, da imprensa, dos tribunais, das universidades e dos meios de comunicação operarem livremente e sem censura, o presidente do país é transformado em ditador.

Quanto mais o povo que quer liberdade apoia este líder nas eleições, mais esse líder se torna ditador aos olhos do Ocidente. Esse líder torna-se dúbio quando é eleito presidente com 52% dos votos. Mas um líder europeu que recebeu 31% dos votos, chega ao poder como um vencedor da democracia.

Tal como já mencionei, todos os obstáculos no caminho do conhecimento foram removidos. O gado manejado na Turquia e o político alemão em Hamburgo podem aceder à mesma informação ao mesmo tempo. E o gado manejado na Turquia, diz que não há aqui qualquer problema e por bons motivos.

Ele pergunta isto aos ocidentais, que considera seus parceiros e aliados. O ocidental mantém a sua atitude condescendente. Quando aumentam as perguntas e exigências do Leste sobre liberdade, os políticos ocidentais agarram-se ao discurso nacionalista nas suas pátrias.

Os grandes partidos do Ocidente abraçam a retórica dos pequenos partidos racistas para beneficiarem do populismo político na sua ambição pelo poder. Estes partidos de massas seguem uma retórica afastada da democracia e dos direitos humanos, que às vezes se aproxima do discurso de ódio. Eles trouxeram de volta a Pegida, o nazismo e o chauvinismo.

Até os partidos de esquerda e social democratas, que normalmente defendem os direitos humanos universais, usam uma retórica chauvinista alienadora. E eles assentam esta sua retórica racista e de discurso de ódio na social democracia e nos direitos humanos básicos.

Quase todos os líderes políticos ocidentais do último quarto de século cometeram este erro e mantiveram a bola de neve em movimento, fazendo com que hoje em dia se transforme numa avalanche.

Olhemos para a Holanda. Já passou quase um ano desde as suas eleições e ainda não há governo no país por causa do partido fascista racista. A situação na Bélgica não é diferente da da Holanda. E a Áustria quase compete com a Alemanha em retórica nazi. Até em França, o berço da luta democrática, os políticos recorrem à retórica racista.

Os erros que foram cometidos ao longo dos anos abriram as portas do Parlamento Europeu aos racistas e aos deputados nazis. Os grandes partidos vão abraçar esta retórica obscura para tirarem proveito do racismo desencadeado pela crise política e económica que a Europa atravessa.

Infelizmente, o racismo e o nazismo serão provavelmente a retórica da Europa no período que se segue. O mais triste de tudo isto, é que a retórica racista e nazi, bem como o discurso de ódio, serão agora expressas como “opiniões” no Parlamento Europeu, um local que afirmou que jamais se afastaria dos valores humanistas e dos princípios da democracia quando foi criado. Eu espero e desejo que os intelectuais europeus estejam cientes deste perigo.



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