O mandato de Trump nos Estados Unidos e na Eurásia

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de relações internacionais na Universidade Ataturk.

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O mandato de Trump nos Estados Unidos e na Eurásia

A política para a Eurásia que irá ser seguida pela administração Trump – chegada ao poder a 20 de janeiro – suscita a curiosidade. Vamos analisar as políticas euroasiáticas da administração americana e o seu impacto sobre a região.

A Eurásia é uma região que engloba a Turquia e as repúblicas turcófonas, e é uma das regiões que as potências mundiais desejam dominar. A Eurásia tornar-se-á numa arena onde se vão travar sérios combates entre as potências mundiais. O impacto que a política de Trump, chegado ao poder no início de 2 017, poderá ter para esta região, é alvo de curiosidade. No programa desta semana, vamos analisar o que a Eurásia poderá esperar da nova administração americana.

As repúblicas turcófonas situadas no coração da Eurásia e a Turquia, vigiam o equilíbrio entre as grandes potências que se confrontam na região. Por outro lado, a região precisa de estratégias que facilitem a proteção dos interesses transfronteiriços. Por este motivo, estes países são sensíveis aos desenvolvimentos que se produzem à sua volta, mas também às políticas dinâmicas dos atores globais. A Turquia e as repúblicas turcófonas, países nos quais a geocultura e a geopolítica têm traços particulares, têm o potencial de influenciar mais ou menos os equilíbrios do sistema regional.

É muito importante saber, do ponto de vista da política externa americana, que política será seguida pela administração Trump na Eurásia. É provável que a atual incerteza ainda se prolongue durante algum tempo. Mas podemos dizer que a nova página aberta a 20 de janeiro em Washington, poderá ser um passo doloroso e novo para os Estados Unidos e para o mundo. Nos próximos anos, o impacto desta mudança far-se-á sentir em vários pontos do mundo. A região do Turquistão – que importa em particular à Turquia – faz parte deste contexto.

Donald Trump prefere comportar-se como uma grande potência, defendendo diretamente os seus interesses próprios em vez de assumir o papel de dirigente da aliança do Atlântico Norte, com grandes e generosos gastos. A retirada dos Estados Unidos da Parceria Transpacífica (PTP) é um exemplo disto mesmo. O PTP foi uma iniciativa económica da administração Obama, que tinha como objetivo criar novas regras na avaliação das oportunidades comerciais e de investimento, entre países como a Austrália, o Brunei, o Canadá, o Chile, o Japão, a Malásia, o México, a Nova Zelândia, o Peru, Singapura, os Estados Unidos e o Vietname. Estes países representam mais de 40% do PIB mundial. O PTP visava criar um ambiente mais conveniente ao investimento e ao comércio de 12 países, ao definir regras comuns e reduzindo as tarifas comerciais, para criar um mercado único no Pacífico.  

A criação do PTP deveria limitar a capacidade da China em definir as regras económicas globais, bem como determinar as normas de proteção dos direitos dos trabalhadores e do ambiente, e permitir aos Estados Unidos entrar em novos mercados. As partes assinaram a 4 de fevereiro de 2 016 o acordo com vista à criação da PTP, que deveria entrar em vigor depois da ratificação do texto por todos os países. Na sequência das promessas que fez durante a campanha eleitoral, o presidente Trump determinou a retirada dos Estados Unidos do PTP, a 23 de janeiro de 2 017.

Na política americana face ao Turquistão, as estratégias relativas às grandes potências que circundam a região, são um fator importante. Os Estados Unidos fazem os seus planos tendo em conta a influência de Moscovo e de Pequim, nas iniciativas que tomam em relação às repúblicas turcófonas. A associação da geopolítica do Turquistão com a Rússia, a China e outros vizinhos importantes, causa um impacto de flutuação nas relações destas capitais com as repúblicas turcófonas. Como consequência, os Estados Unidos veem também a Rússia e a China sob o seu ponto de vista no Turquistão. As mudanças da sua perspetiva sobre a China e a Rússia, têm por isso consequências igualmente para o Turquistão.

No período que se segue, não se espera uma mudança radical na política americana para a Eurásia e o Turquistão, mas um candidato republicano às presidenciais conseguiu, pela primeira vez em 12 anos, fazer uma declaração sobre a Ásia Central e o Turquistão, antes da sua eleição. Isto pode indicar que os Estados Unidos irão dar mais peso à Ásia Central na sua política externa. Os movimentos anti-americanos estão em alta na Eurásia desde há alguns anos. Face a estes movimentos, os Estados Unidos irão exercer no terreno a sua potência suave, e não irão renunciar à sua política de encorajamento da democracia.

Parece que a importância do eixo que inclui o Turquistão e a Turquia, aumentará não apenas para os Estados Unidos, mas também para todos os grandes atores. Este eixo será o placo de lutas maiores. No próximo período, a “cintura turca” que liga a Europa à China, tornar-se-á importante para todas as partes, ao mesmo tempo que se tornará numa arena de luta intensa. Atualmente, estamos talvez prestes a testemunhar a primeira etapa de uma grande mudança geopolítica, que irá trazer vantagens para o destino da Turquia e do mundo turcófono.



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