Crise no Qatar, os turcos e os árabes

Em vez de criar problemas, devemos direcionar nossa energia no fortalecimento das relações e na garantia de lucros para todas as partes.

759403
Crise no Qatar, os turcos e os árabes

Entrando na terceira semana, continua a crise entre os países do Golfo e o Qatar. Os esforços para resolver a crise não puderam acabar com o ciclo de guerra de poderes políticos e as campanhas de difamação que têm graves resultados econômicos e geopolíticos. A crise surge diante da estrutura frágil e sem estabilidade das relações entre a Europa e os EUA e o equilíbrio de poderes regionais no Golfo.

Assim como cada país lançou a acusação de terrorismo, o Qatar rejeitou a acusação de apoiar o mesmo e pediu provas concretas. Essa é uma acusação muito grave. As autoridades qataris levaram a sério a acusação, mas ainda não foram oferecidas provas concretas de que o país possui ligação com alguma organização terrorista no Golfo, na Síria ou em qualquer outro país. O Qatar também alegou que isso é contraditório ao princípio de amizade e fraternidade entre as nações muçulmanas e as sanções são injustas, violando as regras internacionais.

As demandas do Qatar são razoáveis quando se considera a ausência de evidência para provar a alegação de que o país apóia o terrorismo. As medidas contra o Qatar são desproporcionais e não contribuem para resolver a crise. Até que o embargo seja removido, o Qatar afirmou que não irá realizar qualquer entrevista para resolver a crise. Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos devem considerar esta convocação e eliminar o embargo, a fim de iniciar o processo de negociação através do diálogo. O emir do Qatar nesse período está desempenhando um papel importante para tentar solucionar a crise e reduzir o estresse, por isso deve ser apoiada a sua iniciativa. A Turquia está disposta a ajudar.

Desde o início da crise o Presidente Recep Tayyip Erdogan realizou chamadas telefônicas a muitos líderes da região para dispersar a tensão e encontrar uma solução amigável e pacífica para o problema. A Turquia enviou ajuda alimentar como um gesto de boa intenção para ajudar os cidadãos afetados pelas sanções impostas ao Qatar. Além disso, a assembléia votou previamente pelo tratado acordado de ter uma base militar no Qatar com a finalidade de garantir a segurança de toda a área do Golfo.

O Presidente Erdogan disse muitas vezes que o líder do país mais poderoso do Golfo e servidor de Duas Mesquitas Sagradas, Salman bin Abdulaziz , pode desempenhar um papel importante para resolver a crise.Com essa abordagem a Turquia não pretende se envolver nos assuntos internos de nenhum país. Através desta crise, apesar das alegações de alguns propagandistas que querem criar problemas entre a Turquia e os países árabes, o desejo da Turquia é apenas resolver esta crise pacificamente.

Neste momento em que a guerra na Síria continua com graves conseqüências políticas e humanas, as tensões sectárias são extremamente densas; quando também o terrorismo não conhece fronteiras nacionais, o que todos precisamos é uma ação apropriada coletiva e simultânea em prol do espírito de unidade e fraternidade. Todas as partes devem colocar de lado suas diferenças mesquinhas e suas agendas secretas para trabalhar em conjunto para esta finalidade.

Mas o que deve ser entendido atualmente é que esta crise está além das acusações de terrorismo. Por isso é também uma iniciativa contra os movimentos islâmicos como a Irmandade Muçulmana e o Hamas. A Irmandade Muçulmana há muito tempo rejeitou o terrorismo e colocou uma distância entre eles, inclusive com aqueles que têm vínculos orgânicos com o seu corpo – ou seja, todos os grupos envolvidos com a violência. No Egito quando o Presidente Muhammed Mursi foi derrubado por um golpe sangrento pelo general Abdel Fattah El-Sisi, os irmãos não aplicaram nenhuma ação violenta. Milhares de seus membros foram mortos e outros foram presos. Seus líderes estão na prisão por 4 anos. Apesar de todos estes casos, a Irmandade Muçulmana não usou a violência como um meio político. Empurrar a Irmandade Muçulmana para o subsolo só serve aos radicais selvagens.

Quanto ao Hamas, todos no mundo árabe consideram o Hamas como parte da luta da salvação palestina. Atualmente acusar o Hamas de terrorismo não é racional. O Hamas é parte da luta para o fim da ocupação israelense do território palestino. A existência de um escritório do Hamas em Doha não pode ser considerada como um suporte do Qatar ao terrorismo, porque a transferência da sede de Damasco para Doha foi realizada sob a coordenação de todos os atores-chave na região.

Enquanto segue toda essa dinâmica, há aqueles que tentam semear hostilidade e inimizade entre turcos e árabes para tirar proveito desta crise. Este é um jogo muito antigo que deve ser rejeitado por todos juntos. A alegação de que os árabes apunhalaram pelas costas o Império Otomano é uma história que se estende por um século e separa turcos e árabes. Da mesma forma que a alegação de que os turcos na nova república viraram as costas para o mundo árabe e muçulmano criou suspeitas muito profundas entre grupos árabes, afetando as relações da Turquia com o mundo árabe.

Mas esse mito de traição mútua desapareceu sob a liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan. Turcos e árabes são irmãos, parceiros, aliados, vizinhos e sócios, devendo trabalhar juntos para um futuro mais seguro e brilhante para o mundo árabe e muçulmano. Os desacordos e a insegurança não devem se tornar acusação. Aqueles que tentam causar problemas entre turcos e árabes servem á seus interesses sem importância. As guerras da mídia não são para o bem-estar de ninguém. Devemos ser cuidadosos contra as iniciativas de gastar os nossos recursos intelectuais e políticos que derrotam a si mesmos em rivalidades e guerras. Em vez disso, devemos dirigir nossos esforços para o fortalecimento das relações e para a garantia de lucros para todas as partes.



Notícias relacionadas