O regresso da Guerra Fria ao Médio Oriente

O facto do presidente americano Donald Trump ter escolhido o Médio Oriente para a sua primeira viagem ao estrangeiro, representa uma opção de política externa clássica do Partido Republicano.

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O regresso da Guerra Fria ao Médio Oriente

Nos nossos programas anteriores indicámos que os Estados Unidos não poderão mais resistir à política de “esperar para ver”, adotada pelo governo de Barack Obama em relação ao Médio Oriente. E de facto, os últimos desenvolvimentos parecem dar-nos razão. No entanto, há uma esperança bastante realista de que Washington não permaneça calada perante a tentativa da Rússia e do Irão em querer ocupar o vazio deixado por Obama, e que levará a uma nova ficção estratégica contra esta tentativa. Os representantes do presidente americano, Donald Trump, iniciaram as suas rondas pelo Médio Oriente com o objetivo de criar uma base estratégica para a nova linha de rumo dos EUA. Pouco tempo depois, em finais de maio, o próprio presidente Trump visitou a região para dar corpo à estratégia do Médio Oriente.

O facto do presidente americano Donald Trump ter escolhido o Médio Oriente para a sua primeira viagem ao estrangeiro, representa uma opção de política externa clássica do Partido Republicano, tal como é sabido pelos académicos especialistas na história da Guerra Fria. Esta mesma situação tem sido repetida desde o presidente Eisenhower, até aos governos de ambos os presidentes Bush. Estas visitas, por um lado são um sinal de alerta para a nova estratégia regional americana, e por outro tiveram também algumas características originais. Adicionalmente, algumas empresas petrolíferas e do setor da defesa, bem como os cartéis dos meios de comunicação – que são apoiantes do Partido Republicano – esperam sempre com ânsia as visitas dos presidentes americanos à região, para verem recompensados os seus donativos de campanha. E a visita recente do presidente Trump não mudou esta realidade.

No entanto, Trump, que realizou a sua primeira visita à Arábia Saudita, assinou acordos no valor total de 480 mil milhões de dólares, incluindo um acordo de 110 mil milhões de dólares no campo militar. Além disso, esta visita teve também a singularidade de ter sido a primeira vez que o presidente Trump voou para Telavive a partir de Riade.

Em resumo, como podemos analisar as pistas geopolíticas e as projeções estratégicas destas visitas? O facto de ter sido assinado um acordo de grande dimensão com a Arábia Saudita, que inclui a venda de armas pesadas, indica que poderemos estar a caminho de uma possível tempestade no Médio Oriente. Por que é que os Estados Unidos estão a armar a Arábia Saudita e por que é que Riade decidiu armar-se? Podemos encontrar os motivos desta estratégia nas declarações do presidente Trump. O facto do presidente ter dito durante a sua passagem pela Arábia Saudita, que considera o Irão como sendo uma grande ameaça para a região, e que tanto Riade como Telavive também estão de acordo, é considerado como sendo um sinal de alerta para uma possível tempestade que irá fustigar a região.

À parte disto, a visita de Trump à região deu início a um novo eixo estratégico no Médio Oriente. Estamos a falar de um novo eixo regional, em que os antigos inimigos se tornam amigos, e em que os amigos se tornam inimigos. Desta forma, durante a visita do presidente, foi criada a primeira fase de uma formação geopolítica composta pelos Estados Unidos, Arábia Saudita, Israel e pelos emirados do Golfo. A Turquia, o antigo amigo e aliado, agora mantém-se calada, já que as relações turco-americanas não são boas devido à operação de Al Raqqa e ao armamento do grupo terrorista PKK/YPG por parte dos Estados Unidos.

Por outro lado, a Rússia, a China e o Irão apoiam o regime de Assad na região. Todos estes países têm forças combatentes e grupos que apoiam na Síria. Neste tipo de conjuntura, uma bala ou uma bomba lançada deliberadamente ou por acidente, por parte de qualquer umas das grandes potências, podem levar os restantes atores a acender os fogos do inferno. Esta situação não é nada mais que uma guerra fria no Médio Oriente, concretizada com violência e barbaridade.

Neste período de Nova Guerra Fria, as condições internas e externas da Turquia são diferentes. Agora já não existem as relações tradicionais turco-americanas que vigoraram durante o período da guerra fria clássica, nem o Médio Oriente está organizada da mesma forma que antigamente. O talento que a Turquia tiver na defesa dos seus interesses e políticas regionais de equilíbrio, determinará a política da Turquia neste novo período. Ao longo dos próximos programas, vamos explicar esta questão em maior detalhe.

Este programa foi escrito pelo Prof. Mustafa Sitki Bilgin



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