Os benefícios para a região da 1ª visita internacional do presidente americano Donald Trump

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de relações internacionais da Universidade Ataturk.

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Os benefícios para a região da 1ª visita internacional do presidente americano Donald Trump

Pouco tempo depois da sua investidura, o ex-presidente americano Barack Obama visitou a Turquia e o Egito. Depois das declarações que fez nestes dois países (em relação às políticas dos Estados Unidos sobre o Médio Oriente e sobre o mundo muçulmano), ele deu início a muitas iniciativas. No discurso que fez no Cairo em particular, Obama colocou a tónica sobre a democracia. Mas este mesmo Obama ficou depois indiferente ao golpe de estado no Egito. Ele fechou os olhos relativamente à organização terrorista gulenista (FETO), que foi a autora da tentativa de golpe de estado na Turquia. Obama virou as costas às exigências de democracia na Síria. Por tudo isto, a sua administração foi uma grande deceção. Durante este período, as relações com os aliados tradicionais dos Estados Unidos na região - nomeadamente a Arábia Saudita, o Egito, a Turquia e Israel – não foram consideradas essenciais por Obama.

Depois do acordo nuclear, a administração Obama deu início a um processo de normalização com o Irão. Com esta decisão, fechou os olhos às atividades expansionistas do Irão na região. Ainda durante a sua administração, eclodiram as guerras civis na Síria, no Iémen e na Líbia.

Durante a sua campanha eleitoral, Donald Trump distanciou-se do islão e do mundo muçulmano. Pouco tempo depois da sua eleição para a presidência, ele proibiu o acesso aos Estados Unidos dos nacionais de 7 países muçulmanos. Mas Trump tem tendência a mudar a sua posição em relação ao islão e ao mundo muçulmano. Ele escolheu a Arábia Saudita como primeiro país a visitar na sua primeira deslocação ao estrangeiro enquanto presidente. Para além dos seus encontros bilaterais, Trump reuniu-se também com os líderes e dirigentes de 55 países muçulmanos. Desta forma, corrigiu o erro cometido nos seus discursos anteriores. Neste encontro, Trump diferenciou o islão do terrorismo. No seu discurso em Riade, o presidente americano não usou expressões como “terrorismo radical islâmico”. Trump indicou que iria cimentar as relações com os seus aliados clássicos e que continuaria a considerar o Irão como uma ameaça.

A declaração de Riade, composta por 18 artigos, contempla uma estreita cooperação entre os países participantes e foi publicada no final da cimeira. A declaração de Riade traçou uma linha de rumo para os países signatários, relativamente às responsabilidades comuns e às obrigações para impedir o terrorismo e o expansionismo iraniano.

Durante o seu périplo pelo Médio Oriente, Trump abriu uma nova página com Israel e com a Arábia Saudita, países com os quais Obama manteve uma certa distância. Trump encontrou-se também com o líder palestiniano, Mahmud Abbas. Os dois falaram sobre a paz e sobre a solução de dois estados. Trump deu sinais de uma nova iniciativa para esta região e manifestou o seu desejo de intervir no sentido de serem retomadas as conversações de paz israelo-palestinianas. Surgiu assim uma atmosfera positiva.

Contudo, esta atmosfera não deverá ser capaz de trazer uma solução para a questão palestiniana. Os atuais pontos críticos da região, estão mais a norte. A questão israelo-palestiniana não é prioritária para a política externa americana. Por isso, não são esperadas grandes mudanças na questão israelo-palestiniana no curto prazo.

Antes de ter sido eleito presidente, Trump foi um homem de negócios bem sucedido e usa as suas qualidades de negociador na diplomacia. Durante a sua passagem pelo Médio Oriente, Trump assinou acordos no valor total de 480 mil milhões de dólares, dos quais 110 mil milhões correspondem a acordos militares. O desempenho de Trump durante as suas visitas à Arábia Saudita, Israel e ao Vaticano, mostram que ele adotou uma postura mais atenta e diplomática. Trump está a tentar criar uma nova estrutura regional no Médio Oriente.

Tendo em conta tudo isto, podemos constatar que até agora, a prioridade política de Trump para o Médio Oriente é a renovação das suas relações com os países aliados no Golfo Pérsico, bem como com os países muçulmanos como a Turquia e o Egito, e dar início a novos começos com os seus aliados tradicionais. Ao contrário do que se passou com a administração de Obama, Trump quer que os Estados Unidos se tornem um ator eficaz no Médio Oriente.

Os pontos de contato de Trump no Médio Oriente, vão certamente dizer respeito à Turquia e ao Qatar, que assumem as mesmas posições em muitas questões regionais. A Turquia e o Qatar atuam segundo prioridades idênticas nas políticas para a Síria, Egito e Líbia, e também nas suas posições contra o Irão. A Turquia e o Qatar têm poucos pontos de desacordo nas suas relações com os Estados Unidos desde há algum tempo. A Turquia, que reagiu contra os Estados Unidos principalmente por causa das políticas da administração Obama em relação à Síria, quer desenvolver melhores relações com os Estados Unidos, durante o mandato de Trump. Mas se os Estados Unidos querem obter o apoio da Turquia e do Qatar na luta contra a ameaça terrorista e na aliança contra o Irão, deverão ter em conta as prioridades da Turquia e do Qatar. Alguns poderão pensar e sugerir o contrário, mas será difícil alcançar este objetivo se a Turquia e o Qatar forem excluídos.

Durante as suas intervenções ao longo da sua visita pelo Médio Oriente, Trump colocou com frequência a tónica na luta contra o terrorismo e na cooperação. E neste contexto, como podemos avaliar o apoio aberto dos Estados Unidos ao PYD/YPG – a ramificação na Síria da organização terrorista PKK? A continuação do apoio da administração Trump ao PYD/YPG, apesar de todos os apelos da Turquia, põe em causa a sinceridade na luta contra o terrorismo.



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