Os múltiplos riscos no Médio Oriente, os sistemas de defesa estratégica e a Turquia

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de Relações Internacionais na Universidade Ataturk.

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Os múltiplos riscos no Médio Oriente, os sistemas de defesa estratégica e a Turquia

Os pontos de crise alastram no Médio Oriente, e os atores não-estatais que surgem forçam as potências regionais, como a Turquia, a desenvolver sistemas de defesa. No nosso programa de hoje, vamos analisar os sistemas de defesa estratégica tendo em conta os riscos no Médio Oriente, e os trabalhos levados a cabo pela Turquia sobre este assunto.

O Médio Oriente é uma região que também engloba a Turquia, e viveu inúmeras crises, conflitos e guerras ao longo dos últimos 50 anos. Entre estas situações contam-se também guerras internacionais e conflitos híbridos. Nesta vasta zona geográfica, a Turquia é confrontada com várias ameaças. E por isso, a Turquia está a implementar uma transformação radical e de grande envergadura na sua defesa e segurança, desde a tentativa de golpe de estado de 15 de julho.

A Turquia está sob a ameaça de mísseis balísticos desde a década de 1 960. Enquanto beneficiária da defesa da NATO, durante muito tempo, a Turquia não procurou lutar contra esta ameaça. Atualmente existem várias ameaças com mísseis em redor do país. O Irão tem desde há 10 anos sistemas com um alcance de 1 500 Kms. A Rússia lançou um míssil balístico tático em direção à Geórgia durante a guerra em 2 008. Hoje em dia, a Rússia ainda usa os seus mísseis Iskender com um alcance de 500 Kms, como instrumento de política externa contra a Crimeia e a Europa de Leste.

O facto do caos e dos conflitos na Síria se terem transformado numa guerra civil, bem como a existência de organizações terroristas como o DAESH e o PKK no Iraque e na Síria, forçaram a Turquia a acelerar as suas buscas e atividades para fazer face a estas ameaças. É inevitável que a Turquia tome medidas contra os sistemas de rockets e de mísseis, bem como contra as armas químicas, tendo em conta o elevado risco nas zonas à sua volta. É esta inquietação que também orienta a política da Turquia em relação ao Médio Oriente.

A defesa aérea é um tema que está estreitamente ligado à estratégia do país, bem como à sua política externa. As características e as capacidades dos sistemas de defesa são ligadas às características dos mísseis lançados. É impossível neutralizar a partir da atmosfera os mísseis balísticos com um alcance de 1 500 ou mais quilómetros. Para isso, seriam precisos satélites avançados de alerta posicionados no espaço, ou detetores especiais como a estação de radar turca em Kurecik. O desenvolvimento, fabrico e uso destes sistemas é muito caro. Além disso, estão a ser desenvolvidas novas tecnologias e soluções no campo dos mísseis balísticos.

Os sistemas que em breve passarão a ser usados, poderão em breve tornar inúteis os sistemas de defesa atuais. Entre estes, os mais importantes são os seguintes: Os mísseis Decoy e os desenvolvimentos no domínio dos falsos alvos, as multi-ogivas e ainda o material hipersónico.

A defesa antimíssil é uma área muito custosa, além de não ser um tema que se possa resolver apenas alocando-lhe fundos no orçamento. Os Estados Unidos gastaram 350 milhares de milhões de dólares ao longo de 30 anos, na sua defesa antimíssil. E este valor apenas representa a despesa pública, não incluindo os montantes gastos pelo setor privado e pela indústria. Atualmente, os Estados Unidos gastam em média 10 mil milhões de dólares por ano na questão da defesa antimíssil.

A Turquia registou sérios progressos em matéria de radares. Os radares tridimensionais ar-terra SMART-S Mk2 – desenvolvidos pela ASELSAN sob licença da Thales – foram produzidos na linha de produção nacional MILGEM, em regime de co-produção. Os módulos de captura e transmissão dos primeiros radares, foram comprados diretamente para este projeto. Em seguida, foram desenvolvidos módulos com meios nacionais, que por sua vez foram usados noutros radares.

A Thales assegura a partir da empresa turca ASELSAN, os radares que produz para outros países. Além disso, continuam os trabalhos para o projeto de sistema de radar tridimensional de alerta avançado. A Turquia vai também levar a cabo os seus projetos de radar de síntese de abertura SAR, a serem instalados no avião de combate nacional e nos seus satélites.

Em resumo, a defesa aérea é uma estrutura composta por diversos domínios interligados. Em consequência disto, nenhum sistema é capaz por si mesmo de se transformar num muro intransponível. Para estender o seu guarda-chuva de defesa a todo o país, é necessário ter capacidades de prevenção no espaço.

A defesa aérea forma um todo com os seus drones, helicópteros, aviões, mísseis de cruzeiro, mísseis antimíssil balístico e também sistemas de deteção. A compra por parte da Turquia de um sistema de defesa nacional, será um passo muito importante para a tranquilidade e segurança da região.

A indústria de defesa turca fez enormes avanços desde 2 002. O país assinou importantes projetos. Vários novos projetos viram a luz do dia durante este período. A maior parte destes projetos está em fase de protótipo ou na fase inicial da produção em série. Atualmente, a indústria de defesa turca foca-se na produção em série e na gestão, ou seja, na manutenção e durabilidade dos equipamentos.

A indústria de defesa turca regista também importantes desenvolvimentos no domínio da exportação, a faceta mais importante da durabilidade.



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