Os trabalhos desenvolvidos pela Turquia para criar um sistema de defesa nacional

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de Relações Internacionais da Universidade Ataturk.

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Os trabalhos desenvolvidos pela Turquia para criar um sistema de defesa nacional

Face às ameaças mundiais e regionais, a Turquia tenta desde há algum tempo desenvolver a sua capacidade de defesa e usar sistemas nacionais. É neste contexto que o sistema russo S-400 passou a fazer parte da atualidade nos últimos tempos. No nosso programa desta semana, vamos falar sobre os trabalhos desenvolvidos pela Turquia para criar um sistema de defesa nacional.

A República da Turquia reforça a sua posição de força na região através de iniciativas militares e diplomáticas. O país avança progressivamente no sentido de se tornar uma potência mundial. A Turquia desenvolve também vários trabalhos desde há uma série de anos, com vista a acelerar este progresso, e reforça a nacionalização da sua indústria de defesa.

A situação de guerra que trouxe o caos e os conflitos na Síria, bem como a presença de organizações terroristas como o DAESH e o PKK no Iraque e na Síria, fizeram com que a Turquia tivesse que acelerar as suas atividades nesta área. É inevitável que a Turquia tome medidas contra os sistemas de rockets e mísseis e contra armas nucleares, tendo em conta o elevado risco que representa a região à sua volta. São estas inquietudes que impelem o país a rever a sua política para a Síria, e a posicionar-se ao encontro dos Estados Unidos na questão do PYD/YPG e a cooperar com a Rússia.

A administração Obama colocou-se ao lado do PKK/PYD/YPG face à Turquia, na questão da Síria. A posição da administração Trump não foi até agora clarificada. É precisamente esta atitude dos Estados Unidos que está na origem dos esforços da Turquia, para reforçar a sua cooperação económica e militar com a Rússia.

Apesar da Turquia, um país membro da NATO, estar sob a ameaça de mísseis, o sistema de defesa aérea Patriot só foi instalado bem mais tarde pela NATO. Países como a Espanha, não hesitaram em retirar as suas baterias na primeira oportunidade.

Atualmente, o PKK/PYD/YPG tem no seu arsenal armas ligeiras e pesadas fabricadas em países da NATO. Os explosivos militares que se encontram no inventário da NATO, estão a ser usados pelos terroristas no centro de Istambul. O Ocidente ficou indiferente perante a sangrenta tentativa de golpe de estado de 15 de julho, levada a cabo pela FETO. Todos estes acontecimentos forçaram a Turquia a ir à procura de alternativas.

Até ao início da década de 2 000, o sistema de defesa de longo alcance da Turquia foi o Nike Hercules. Este sistema era eficaz contra os antigos bombardeiros soviéticos, mas revela-se muito frágil face às ameaças atuais. Esta necessidade fez com que a Turquia pedisse ajuda à NATO, durante a primeira e segunda operações no Iraque, e também durante a crise síria. Foi na sequência desse pedido que a NATO enviou as suas baterias de defesa Patriot, mas esta foi uma solução provisória e insuficiente.

A Turquia fez um apelo para receber ofertas de ajuda com o objetivo de resolver este problema, e quis adquirir um sistema de defesa aérea de longo alcance. Os Estados Unidos (através da parceria entre a Raytheaon e a Lockhhed Martin), a Federação Russa (através da Rosoboroneskport), a China (através da CPMIEC) e o consórcio franco-italiano da Eurosam, participaram no concurso público para o fornecimento de um sistema de defesa aérea de longo alcance. A China foi o país que melhor respondeu aos critérios pedidos pela Turquia, nomeadamente ao nível do preço, em termos da produção conjunta, partilha de tecnologia e menor prazo de entrega. Nem o consórcio franco-italiano – que ficou na segunda posição – nem os Estados Unidos, que ficaram classificados em terceiro lugar, avançaram com propostas de produção conjunta ou de partilha da tecnologia. A Turquia optou então por avançar com a China.

No entanto, a possibilidade de um acordo com a China foi criticada tanto pelos Estados Unidos como pela NATO, pelo facto da China não fazer parte da Aliança e porque a empresa chinesa que venceu o concurso faz parte da lista negra dos Estados Unidos. No decurso das discussões com a China, a Turquia acabou por não avançar com um acordo, pois as condições necessárias não estavam garantidas. O concurso público foi então anulado e o processo voltou à estaca zero.

Entretanto, a Rússia reviu em baixa o seu preço e as relações turco-russas melhoraram. A Turquia não recebeu qualquer apoio dos seus aliados ocidentais em questões críticas. Todas estas razões fizeram com que a Turquia optasse pelo sistema russo S-400, como a sua primeira opção.

A opção turca pelos mísseis russos S-400 muito provavelmente fará com que a NATO reaja, e se recuse a integrar estes mísseis no seu sistema de defesa. Neste caso, a Turquia não poderá usar este sistema senão para se proteger a si própria, de forma autónoma da NATO. Ora, tendo em conta que toda a estrutura de defesa aérea da Turquia está atualmente adaptada à estrutura da NATO, isto poderá causar sérios problemas. Se a NATO e os Estados Unidos estão incomodados, devem perceber as inquietudes da Turquia, e trabalhar com ela para garantir um equilíbrio de forças.

Em resumo, o sistema de defesa aérea é uma estrutura integrada. Em consequência disto, nenhum sistema pode ser uma solução por si próprio, nem pode constituir uma barreira intransponível. A defesa aérea forma um todo com os seus mísseis e sistemas de condução de drones, helicópteros, aviões e ainda mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos. A instalação de um sistema de defesa nacional poderoso na Turquia, será um passo importante para a serenidade e para a segurança da região.



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