O potencial energético do Conselho Turco

Um trabalho de Cemil Dogaç Ipek – investigador de Relações Internacionais na Universidade Ataturk.

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O potencial energético do Conselho Turco

(transcrição do programa de rádio)

Os membros  do Conselho Turco desempenham um importante papel económico e energético na Euroásia e no Turquistão. Durante o nosso programa desta semana, vamos analisar o potencial energético dos membros do Conselho Turco.

No final do período da Guerra Fria, ocorreu um processo de mudança e de desenvolvimento no sistema internacional, e ainda hoje ignoramos quais serão as consequências deste processo. Mas sabemos que certas tendências serão importantes no futuro próximo. Os movimentos de capitais, as atividades comerciais e o progresso tecnológico, têm um caráter supranacional e chegam a cada vez mais lugares e em maior escala. Esta propagação e a sua concentração estão ligadas através de uma teia de interesses, de grupos com objetivos globais e de indivíduos de diferentes nacionalidades. Neste contexto, a experiência do Conselho Turco é um facto que devemos analisar em detalhe, em todas as suas dimensões.

O Conselho Turco é o conselho dos países turcófonos, e foi criado em 2 009 como uma organização internacional destinada a encorajar a cooperação mais alargada entre os países turcófonos. Os países fundadores do Conselho Turco são o Azerbaijão, o Cazaquistão, o Quirguistão e a Turquia. Tendo em conta o seu “estatuto permanente de país neutro”, o Turquemenistão não aderiu ao Conselho Turco, o mesmo tendo acontecido com o Uzbequistão por motivos políticos.

Tendo em conta a posição dos seus membros, o Conselho Turco encontra-se num ponto essencial da política económica e energética da Euroásia e do Turquistão, no que toca às fontes de energia e ao trajeto por elas percorrido até aos mercados de destino. No programa desta semana, vamos analisar o potencial energético dos países membros.

 

Azerbaijão:

De acordo com o BP Statistical Overview de 2 016, o Azerbaijão dispões de 0,4% das reservas petrolíferas confirmadas em todo o mundo. As suas reservas totais ascendem a 7 mil milhões de barris. O Azerbaijão produziu cerca de 841 mil barris de petróleo por dia em 2 015, tendo consumido 99 mil barris diários do seu próprio petróleo. Segundo os dados de 2 015, o país dispõe também de 0,6% das reservas mundiais de gás natural, ou seja, 1,1 triliões de metros cúbicos.

Em 2 015, o Azerbaijão produziu perto de 18 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, tendo consumido cerca de 9,8 mil milhões de metros cúbicos.

O Azerbaijão exportou 7,8 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, dois quais 5,4 mil milhões de metros cúbicos foram exportados para a Turquia, com mais 2,1 mil milhões de metro cúbicos a serem enviados para a Europa.

 

Cazaquistão:

Segundo os dados de 2 016 do BP Statiscal Overview, o Cazaquistão possui 1,8% das reservas petrolíferas confirmadas de todo o mundo, o que corresponde a 30 mil milhões de barris. Em 2 015, o país produziu cerca de 1,669 milhões de barris por dia, tendo consumido 271 mil barris diários.

Segundo os dados de 2 015, o Cazaquistão detém 0,9 triliões de metros cúbicos em reservas de gás natural, que correspondem a 0,5% das reservas mundiais. Em 2 015 o país produziu 12,4 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, tendo consumido 8,3 mil milhões de metros cúbicos.

Contudo, segundo a Agência Americana de Informação de Energia (EIA), não podemos dizer que o Cazaquistão exporte muito gás natural, pois uma parte do gás produzido é reinjetado nos poços para permitir a extração do petróleo. Mas a China e a Rússia exportam por vezes mesmo quando a produção de gás natural diminui, e o Cazaquistão – que se encontra no centro de uma trajetória de gasodutos, ao lado do Turquemenistão – é um importante país do ponto de vista do gás natural, pela sua importância no transporte desta fonte de energia.

 

Quirguistão:

O Quirguistão não é um país rico do ponto de vista dos recursos energéticos. E por este motivo é difícil encontrar informação sobre este assunto. Segundo os documentos produzidos acerca deste tema, e em particular o relatório elaborado pela Agência Americana de Gestão de Informação Energética, não existe praticamente nenhuma produção petrolífera ou de gás no Quirguistão. O país vê-se obrigado a recorrer a importações para responder às suas necessidades.

 

Turquia:

Segundo o relatório de 2 016 da Sociedade Anónima de Petróleos da Turquia (TPAO) acerca do setor do petróleo e do gás natural em bruto, a Turquia produziu cerca de 51 mil barris diários de petróleo em 2 015, tendo sido consumida uma média diária de 796 mil barris. Adicionalmente, 503 mil barris de petróleo bruto e 242 mil barris de produtos petrolíferos refinados foram importados todos os dias. Em 2 015, a produção nacional de petróleo bruto representou apenas 6,4% do consumo total.

No que toca à produção nacional de gás, em 2 015 a Turquia produziu apenas o equivalente a 0,8% das suas necessidades de consumo, o nível mais baixo dos últimos 10 anos. A produção de gás chegou até mil milhões de metros cúbicos em 2 008, tendo depois baixado até aos 7 milhões de metros cúbicos em 2 015. Dito doutra forma, a taxa de dependência da Turquia face ao estrangeiro, é de 93,6% no petróleo, e de 99,2% no gás natural.

Em resumo, os membros da união têm um défice de gás natural e um excedente de petróleo. Caso seja capaz de ultrapassar o défice de gás natural através dos investimentos em energia renovável, o Conselho Turco conseguirá resolver os seus problemas energéticos.

Enquanto organização guarda-chuva responsável pela coordenação das organizações culturais e de cooperação entre os vários governos, o Conselho Turco tem o potencial de chegar ao nível de uma estrutura do tipo da União Europeia, no plano económico e energético. Mas isso deve ser avaliado como um objetivo de longo prazo em função da situação económica, da força política dos seus países membros e da conjuntura internacional.



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