Conjuntura crítica nas negociações cipriotas

A questão cipriota é um problema que se arrasta há quase meio século e que entrou numa nova fase, com as negociações celebradas em Genebra entre 9 e 13 de janeiro.

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Conjuntura crítica nas negociações cipriotas

A postura dos greco-cipriotas e as atitudes políticas da Grécia, EUA e da União Europeia, serão determinantes para o sucesso deste processo.

Na base da questão cipriota estão os desejos dos greco-cipriotas e dos gregos, de dominar por completo a ilha, bem como as suas atitudes irreconciliáveis e as políticas de violência. A forma mais violenta e sangrenta destas políticas teve lugar em Chipre, perante os olhos do mundo, entre os anos de 1 963 e 64, e mais tarde entre 1 967 e 74. Esquecer estes acontecimentos não serve para nada e esconde o perigo da história se repetir outra vez.

Durante as negociações que se arrastam há quase 50 anos, os turcos procuram desde 1 968 encontrar uma solução, enquanto que os greco-cipriotas e a Grécia adotam uma política de Enosis (unir Chipre à Grécia), confiando no apoio dos países europeus e dos EUA. Por isso, em 2 004, os turcos apoiaram um plano Annan que acabaria bloqueado pelos greco-cipriotas.

Infelizmente, a atitude da União Europeia em relação à questão cipriota não tem por base um ponto de vista justo e equitativo. Esta atitude afetou também a estratégia de bloqueio dos greco-cipriotas. Os países da Comunidade Económica Europeia (CEE), ficaram calados perante os acontecimentos de Chipre desde 1 974, e consideram o assunto como uma questão interna da ilha. Mas logo a seguir, depois da Operação de Manutenção de Paz em Chipre em 1 974, alguns membros da Comunidade Económica Europeia – e sobretudo o Reino Unido – começaram a falar de uma possível solução de “dois estados” em Chipre. Apenas a França se opôs totalmente a essa situação.

Mas uma série de acontecimentos conjunturais desse período impediu que a ideia fosse implementada. Por razões políticas, militares e estratégicas como a guerra Israelo-Árabe, o embargo do petróleo e o desenvolvimento das relações com a União Soviética, fizeram aumentar a importância estratégica de Chipre e por consequência o apoio europeu e americano às políticas greco-cipriotas e gregas. Os governos greco-cipriota e grego, empreenderam também uma ofensiva diplomática para dar a entender que a operação turca de manutenção de paz era uma ocupação. A Turquia não deu a necessária resposta política e diplomática contra as acusações injustas e difamatórias sem fundamento. A vitória alcançada no terreno, não teve tradução política porque o governo de coligação entre o Partido Republicano do Povo (CHP) e o Partido de Salvação Nacional (MSP) – que lançou a operação – acabou por se desintegrar em finais de 1 974.

Depois da Grécia se juntar à CEE em 1 981, começou a forçar as instituições europeias a tomar decisões a favor do lado greco-cipriota. A Grécia tentou também condicionar todas as relações entre a Europa e a Turquia a uma solução para Chipre, tirando partido do facto de fazer parte da CEE. Mais tarde, passou a ser adotada uma atitude de duplos critérios por parte da UE em relação a Chipre. O exemplo mais claro, foi a incorporação da administração greco-cipriota na União Europeia em representação da República de Chipre, já depois do plano Annan – a maior iniciativa para resolver o problema da ilha – ter sido rejeitado num referendo votado pelos greco-cipriotas em 2 004. A UE não cumpriu com a sua palavra em relação ao isolamento e aos embargos contra o lado turco-cipriota, nem permitiu o livre comércio depois de 2 004. Todas as negociações desde essa altura foram sabotadas pelas políticas greco-cipriotas.

Os temas chave em discussão em Genebra, incluem a estrutura do sistema administrativo, a partilha de poder, a economia, a propriedade, a partilha de terras, a segurança e as garantias. Nas notícias nos meios de comunicação, o lado turco pede igualdade política na administração e na repartição de poderes, e uma abordagem justa à economia e à propriedade. A questão da segurança e das garantias, é a sua linha vermelha.

O lado greco-cipriota e a Grécia, sobretudo em relação à segurança e à questão das garantias, pedem que os soldados turcos se retirem da ilha e que a Turquia perca o estatuto de garante da ilha. São também feitas exigências injustas noutros temas.

Caso a Grécia e o lado greco-cipriota não atuem no âmbito dos princípios da justiça e reciprocidade – os pilares da diplomacia – as negociações de Genebra vão fracassar. Espera-se que os países garantes (a Turquia, a Grécia e o Reino Unido), e os membros do Conselho de Segurança da ONU, participem a partir de 12 janeiro nas negociações de Chipre.

Em conclusão, a ilha de Chipre devido à sua geografia e posição geoestratégica e política, tem uma importância vital para a segurança da Turquia e para a presença turca na ilha. Além disso, a posição geopolítica de Chipre assegura uma vantagem estratégica básica para a Turquia em todo o Mediterrâneo e na política mundial. Caso esta posição estratégica da Turquia saia enfraquecida, a Turquia tornar-se-á num país fraco contra o mundo ocidental e contra a Grécia. Mas num período em que a política mundial evolui no sentido de um mundo multipolar, a Turquia está presente em Genebra para encontrar uma solução justa e equitativa, com uma postura forte e assumindo um caráter de política de equilíbrio entre a Rússia – a líder do bloco euroasiático – e o bloco ocidental. Por isso, as posturas e atitudes dos greco-cipriotas e da Grécia serão determinantes para que Genebra seja ou não um sucesso.

Este programa foi escrito pelo Dr Mustafa Sitki Bilgin  



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