O G20 e a “postura geopolítica”

Apesar de haver um consenso universal de que o terrorismo é uma ameaça global, e como tal deve ser combatido com força e determinação, permanecem no entanto os desacordos sobre quem são os terroristas.

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O G20 e a “postura geopolítica”

O objetivo da Turquia na Síria é claro: proteger a integridade territorial da Síria, prevenir qualquer conflito étnico ou sectário, e apoiar a transição para uma ordem política legítima e inclusiva de todos os sírios.

A cimeira do G20 reunida na pacífica cidade chinesa de Hangzhou, nos dias 4 e 5 de setembro, reuniu os líderes das maiores economias do mundo. Este encontro teve uma extensa agenda, que incluiu temas económicos globais e a mudança climática. Mas esta cimeira serviu também de evento para serem abordados os temas geopolíticos urgentes, como a luta antiterrorista, a crise dos refugiados e a continuação da guerra na Síria.

A postura e as manobras são os traços básicos deste tipo de reunião. E esta não foi a exceção à regra. Apesar de haver um consenso universal de que o terrorismo é uma ameaça global, e como tal deve ser combatido com força e determinação, permanecem no entanto os desacordos sobre quem são os terroristas.

A incapacidade da comunidade internacional em parar a guerra na Síria e a destruição causada pelo terrorismo do DAESH, está intimamente ligada com as demonstrações de força geopolítica. E infelizmente, parece que a guerra na Síria vai continuar a ser o principal cenário destas demonstrações de poder. Não obstante, os líderes do mundo mostraram interesse numa nova dinâmica no terreno. No passado dia 24 de agosto, as Forças Armadas Turcas lançaram a operação Escudo do Eufrates, que limpou a fronteira turca do DAESH e permitiu que dezenas de milhares de sírios pudessem voltar a respirar e viver nas cidades entre Aza e Jarablus. Além disso, foi também uma importante vitória militar e uma fonte de motivação para o Exército Livre Sírio, que defrontava numerosas desvantagens desde há anos. E mais: esta operação evidenciou a seriedade e a determinação da Turquia, em reduzir e destruir o DAESH, com ou sem o apoio dos protagonistas internacionais.

Para além da campanha militar, há que prestar atenção ao êxito diplomático e político da operação. Os esforços da Turquia no sentido de desenvolver relações mais estreitas com o Irão e com a Rússia, ajudou a preparar a base de apoio para as suas recentes atividades militares na Síria. Há que sublinhar que a Turquia está a fazer uso dos seus direitos de autodefesa na sua fronteira. A Turquia está a coordenar as suas operações militares com as referidas partes, para evitar qualquer conflito no terreno.

Esta vitória, ainda que importante em muitos aspetos, é apenas uma parte do quebra-cabeças sírio.

A situação continua a piorar em Alepo, e é por isso uma imensa fonte de preocupação para todas as partes na Síria.

A agenda das negociações entre os Estados Unidos, a Rússia e a Turquia, incluía a obtenção de um acordo para pôr fim aos conflitos antes da Festa do Sacrifício, ao qual os muçulmanos chamam Eid al-Adha.

Quando se concretizar o acordo, a população em Alepo e seus arredores poderá ganhar novo e necessitado ânimo. O acordo facilitaria a ajuda humanitária procedente de Damasco e da Turquia. Além disso, se o acordo se prolongar no tempo, irá permitir a criação de uma área para de abastecimentos, sob a supervisão de uma ONU consumida pelas negociações políticas entre o regime e a oposição.

Mas uma coisa é chegar a um consenso parcial para um cessar fogo, outra coisa é pôr um fim ao conflito.

A guerra na Síria devastou todos, até ao ponto das tréguas locais e temporárias serem festejadas como grandes vitórias. Enquanto todos devem apoiar a totalidade dos acordos – nem que seja para salvar uma única vida na Síria – onde todos os dias morrem dezenas de pessoas, o objetivo final deveria ser colocar um ponto final na guerra. É a única saída para eliminar o terrorismo, controlar a crise migratória e normalizar a vida quotidiana do povo sírio.

Portanto, a situação traz-me até ao problema dos refugiados. O único problema que interessa à Europa, quando o velho continente se incomoda e se esquece dos refugiados sírios, é que estas pessoas deixem de ir para território europeu ou simplesmente não possam fazê-lo.

Com algumas pequenas exceções, é vergonhosa a expressão mais suave da reação que a Europa deu à crise de refugiados mais importante desde a metade do século XIX. A maioria dos europeus age como se não estivéssemos no país globalizado e interligado, e em contraste opinião de forma irrazoável que o problema se afastará ou ficará como um problema apenas para os “orientais”.

Para cúmulo de todos os males, a política europeia convencional começou a ser infetada de forma mais profunda pelas tendências xenófobas e racistas, em benefício das ruas puras e civilizadas da Europa e para parar a emigração ilegal. É uma situação eticamente inaceitável, e também injustificável politicamente. Se a Europa se preocupar verdadeiramente com a crise dos refugiados, deve assumir maiores responsabilidade para parar a guerra na Síria e ajudar à restauração da paz e da ordem no Iraque e noutros locais.

O objetivo da Turquia na Síria é claro: proteger a integridade territorial da Síria, prevenir qualquer conflito étnico ou sectário, e apoiar a transição para uma ordem política legítima e inclusiva de todos os sírios.

Em contraste com a propaganda do PKK, a Turquia não combate os curdos na Síria. Apenas se protege a si mesma face aos complôs terroristas do YPG, a ramificação do PKK na Síria. Apresentar este facto como “uma guerra contra os curdos sírios” é um ato muito ingrato e desproporcionado. A Turquia não tem nenhum problema com os curdos na Síria, no Iraque no Irão. A Turquia tem um problema com os grupos terroristas, sejam eles de onde forem. Tal como a guerra contra o DAESH não é uma guerra contra os muçulmanos, a luta contra o PKK e as suas ramificações exportadas no pode ser uma guerra contra os curdos na Síria ou em qualquer outro lugar.

Enquanto nós nos disponibilizamos para festejar a festa do Eid al Adha dos muçulmanos e o Hajj, esperamos e rezamos para que o povo sírio possa relaxar e viver em paz como o resto do mundo.



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