A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O Iémen encontra-se face a uma catástrofe, na véspera da Festa do Sacrifício. Está em curso uma guerra civil no país, onde a maior parte dos habitantes se depara com inúmeros problemas.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

Tendo passado por um mês do Ramadão doloroso, o Iémen continua à beira da catástrofe na véspera da Festa do Sacrifício. Está em curso uma guerra civil no país e a maior parte dos habitantes depara-se com inúmeros problemas. Todas as partes envolvidas na guerra são responsáveis pela situação.

Os Huties e os apoiantes do ex-presidente da república, Ali Abdallah Saleh – aliado dos Huties – dominam o norte e as regiões centrais do país, bem como a capital Sanaa. Durante o mês de agosto, havia 90 mil mulheres grávidas em Taiz, uma cidade sob ataque dos Huties. 4 500 destas mulheres têm gravidezes de alto risco devido à guerra. Antes da guerra civil, havia cerca de 20 hospitais em Taiz, a terceira maior cidade do Iémen. Atualmente, restam apenas alguns hospitais ainda em funcionamento e as suas capacidades estão limitadas.

Em cima de tudo isto, a Al-Qaeda exerce a sua influência no Iémen desde o início da década de 2 000 e aumentou o seu poder no país. A Al-Qaeda considera os Huties como sendo seus inimigos e por isso está também presente na guerra lutando contra eles. Esta situação não motivou qualquer reação por parte do governo, que está prestes a ser reconhecido à escala internacional, nem por parte dos aliados nacionais e internacionais. O governo reconhecido pela comunidade internacional foi afastado pelos Huties de Sanna, a capital. Toda esta situação, permite que a Al-Qaeda tome controlo sobre algumas regiões do país. Nos últimos dias, vimos que a frente antI-Hutie se deu conta dos riscos desta situação, e passou à ação contra a Al-Qaeda.

O DAESH é outra organização que beneficia do caos que se vive no país. No dia 28 de agosto, 71 pessoas foram mortas num atentado suicida em Aden, a segunda maior cidade do Iémen e centro temporário do governo legítimo. Antes deste ataque, o DAESH já tinha levado a cabo atentados semelhantes no país.

“Pelo menos 10 mil pessoas já morreram em consequência da guerra civil em curso há 18 meses no Iémen” – anunciou a 30 de agosto Jamie McGoldrick, o coordenador de ação humanitária da ONU. Não se trata de uma estimativa “considerável” para as pessoas que seguem de perto a situação, já que parece haver muita informação em falta. Vários observadores sublinham que apenas mais de 10 mil civis perderam a vida.

Desde a declaração de McGoldrick, 3 milhões de iemenitas foram obrigados a deslocar-se, sendo que 200 mil partiram para o estrangeiro. Adicionalmente, mais de 50% da população de 26 milhões de habitantes tem necessidade de ajuda alimentar. A insegurança alimentar ameaça mais de 7 milhões de pessoas. Contudo, 80% da população precisa de ajuda humanitária e 15 milhões de pessoas estão ameaçadas pela insegurança alimentar – de acordo com os comunicados das organizações não governamentais.

A situação no Iémen atingiu um nível que coloca milhões de pessoas em risco de fome ou de deficiências alimentares. No momento atual, mais de 320 mil crianças sofrem de malnutrição. Apesar deste número não ser exato, muitos recém-nascidos acabam por morrer devido à falta de alimentos e ao sistema de saúde destruído por causa da guerra. Vários observadores preveem que muitos casos mortais irão em breve ser registados, devido à falta de alimentos, e também por causa da falta de água e de medicamentos no Iémen.

A fome não é um problema novo no Iémen. Este país ocupa desde há muito tempo os últimos lugares no índice de desenvolvimento humano. Os incidentes que se registaram desde 2 011 e o mau governo do país, agravaram a fome no Iémen. A guerra civil que se gerou na sequência da instabilidade política entre os anos de 2 011 e 2 014, tem grande importância no país.

A falta de combustíveis - causada pelos conflitos e os obstáculos que se colocam às importações - figura entre os principais problemas deste país, que importa 90% dos seus produtos alimentares. Mas nós devemos afirmar que o facto dos produtos alimentares serem usados como uma arma ou instrumento de guerra, é um elemento faz aumentar ainda mais a falta de alimentos e a fome. Do ponto de vista dos confrontos, vemos que as partes em conflito são responsáveis por estes problemas essenciais.

Ao apoiar o governo de Hadi, a coligação regional bloqueou todos os grandes portos do Iémen. Em consequência deste bloqueio, o povo do Iémen não tem acesso regular a combustíveis, a produtos alimentares nem a medicamentos. Ainda por cima, mesmo que estes produtos estivessem disponíveis nos mercados, eles seriam demasiado caros devido ao aumento dos preços que resulta de situação de guerra. Um terço dos iemenitas vivia abaixo da linha de pobreza em 2 010. Hoje em dia, são já 80% dos iemenitas a viver nessa situação. Para além do bloqueio, as forças pró Hadi impedem também as organizações internacionais de distribuir ajuda humanitária e de vir em auxílio das pessoas que vivem nas regiões controladas pelos Huties. Adicionalmente, mesmo que estas organizações fossem autorizadas a entrar no país, 90% das pontes nas estradas deixaram de ser utilizáveis.

A coligação entre os Huties e Saleh, tem assim um importante papel neste problema. O acesso a combustíveis, à água e aos produtos alimentares, é quase impossível devido aos cercos montados a Taiz e a Aden.

Se os conflitos não terminarem imediatamente e se não respondermos às necessidades fundamentais dos iemenitas, iremos ser confrontados muito em breve com a maior fome do século 21. Neste contexto, a comunidade internacional não deve tomar uma posição de apoio a nenhuma das partes. É necessário que as partes beligerantes encontrem um terreno de entendimento sem mais demoras, reunindo-se em torno da mesma mesa.



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