O que é a ajuda de “tipo turco”?

A maior diferença entre a ajuda de tipo turco e as ajudas dadas por outros países, é o espírito com que essas ajudas são dadas.

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O que é a ajuda de “tipo turco”?

A Cimeira Humanitária Mundial teve lugar na Turquia. O capítulo “ajuda do tipo turco” que a Turquia fez passar a constar da literatura da ajuda humanitária, pode ser considerada como um repto ao mundo. Já a seguir, apresentamos um trabalho sobre este tema escrito pelo encarregado de imprensa do Crescente Vermelho Turco, Selahattin Bostan.

A Turquia deu durante os últimos dias uma lição de humanidade ao mundo. O tema da lição foi a humanidade e o lugar da aula foi Istambul. O processo de aprendizagem durou 2 dias.

Dezenas de chefes de estado e primeiros ministros, tanto dos países mais desenvolvidos como dos mais pobres, bem como os responsáveis de instituições de ajuda humanitária ligadas à ONU e organizações internacionais de ajuda humanitária independentes, reuniram-se na Turquia. A primeira Cimeira Humanitária Mundial teve lugar em Istambul.

Da agenda deste encontro, constava a continuação dos trabalhos de ajuda humanitária que ainda têm que ser levados a cabo no mundo. Os líderes mundiais puderam encontrar-se com as organizações que desenvolvem atividades nesta área. A pergunta para a qual se procurava uma reposta era “o que estamos a fazer mal?”.

O presidente Recep Tayyip Erdogan, quando ainda era primeiro ministro, participou numa reunião nos Estados Unidos e falou sobre as ajudas dadas a África, com o então presidente norte-americano George Bush. A conversa foi iniciada por Bush, que disse o seguinte a Erdogan “nós, enquanto Estados Unidos, damos milhares de milhões de dólares de ajuda ao Sudão. Mas não conseguimos dar nem metade da ajuda económica que vocês dão. No Sudão e nos países da região, sempre que se fala das nossas ajudas, somos confrontados com a diferença que faz a vossa ajuda. Como é que fazem isso?”.

A resposta do primeiro ministro turco da altura foi muito curta: “Nós damos a ajuda de tipo turco”. E agora, a Turquia dá também este tipo de ajuda a todo o mundo. “Ajuda de tipo turco” já passou a ser um tema muito falado entre as organizações de ajuda humanitária em todo o mundo.

A maior diferença entre a ajuda de tipo turco e as ajudas dadas por outros países, é o espírito com que essas ajudas são dadas. Quando existe empatia para com o país que se está a ajudar, quando se tem em conta a sua tristeza como se fosse a própria tristeza, e quando se olha para os problemas dos outros como se fossem os nossos problemas, a ajuda ganha outro sentido. Por exemplo: consideramos que uma organização de ajuda que toma a decisão de ajudar um país em África e que cria um orçamento. Ou consideramos que uma organização de ajuda humanitária vinculada à ONU ajudará aquele país. Em primeiro lugar, começa-se por enviar para lá uma equipa principal. Esta equipa tem como missão realizar uma longa investigação.

Na realidade o problema é óbvio. Naquele país não há água potável e a pobreza tem por base a escassez de alimentos. Depois é criado um gabinete de trabalho para a equipa que irá dar ajuda. Estes gabinetes estão geralmente situados na zona mais protegida desse país e isso faz com que a representação física da organização de ajuda seja muito cara. Para proteger a representação da organização de ajuda humanitária naquela zona segura, são contratados seguranças entre a população local. Só depois é que a equipa de ajuda se dispõe a vir até ao país. Os salários da equipa de ajuda são altos e permitem um elevado nível de vida. Para estas equipas de ajuda, são muitas vezes alugados veículos blindados – quase sempre automóveis com tração às quatro rodas. São contratados cozinheiros para servir a representação. A lista de pessoal vai-se alargando, e no final só uma pequena parte do orçamento inicial para dar ajuda se converte de facto em ajuda real.

O serviço de “ajuda de tipo turco” funciona de forma diferente: Depois de definido o orçamento de ajuda para um país, os responsáveis pela ajuda que definiram o orçamento vão até àquele país e comem a mesma comida que comem as populações locais e ficam hospedados nos mesmos locais da população. Usam os mesmos carros que as pessoas da região e regressam ao seu país depois de completar a sua missão o mais rapidamente possível. E enquanto decorrem os trabalhos, estão em contato permanente com o povo local, escutando os seus problemas. Esta é a diferença que faz a Turquia.

Enquanto se contam aos governantes de todo o mundo os problemas vividos pelas organizações de ajuda na Cimeira Humanitária Mundial realizada em Istambul, a mensagem é clara: “80% dos problemas vividos pela humanidade, têm como origem a própria humanidade. Destes problemas, a grande maioria tem origem em questões políticas. Mudem as vossas atividades para que as pessoas sofram menos. Nós podemos fazer guerra contra a destruição causada pelos desastres naturais, mas a destruição causada por vocês continua desde há séculos com base nas sementes da inimizade”.

As discussões levadas a cabo na Cimeira Humanitária Global, vão ser refletidas num relatório de resultados. Este relatório será depois abordado nas reuniões da ONU. Esperamos que estes 5 países que têm o direito de veto deem apoio a este relatório de resultados, e que as pessoas não tenham que ser confrontadas com as tristezas com origem em questões políticas.

A tristeza que os 5 anos de guerra espalhou em toda a Síria, deveria ter ensinado alguma coisa ao mundo. A Líbia e o Iraque são os países onde o caos interno parece não ter fim. O Iémen depara-se com o perigo da partição do país. O mesmo já aconteceu ao Sudão, que se separou com base em pretextos pouco credíveis. A Somália está também prestes a ver o seu território ser dividido. Tudo isto pode ser convertido em estatísticas no papel do tipo “ganhámos, perdemos”, mas por detrás destas situações há sempre desenvolvimentos que trazem tristeza às pessoas.

A importância desta cimeira é a sua capacidade para chamar a atenção relativamente a estes pretextos. E isto, é muito, muito importante.

Termina por aqui o programa de hoje, onde apresentámos o futuro da ajuda humanitária abordada na Cimeira Humanitária Mundial, que se realizou em Istambul. Este programa foi escrito Selahattin Bostan, o encarregado de imprensa do Crescente Vermelho Turco.



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