Soldados do Sudão do Sul fazem 60 vítimas diz Anistia Internacional

Governo diz que alegações com base em entrevistas com mais de 40 testemunhas são 'mentiras' concebidas para alimentar o ódio

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Soldados do Sudão do Sul fazem 60 vítimas diz Anistia Internacional

As forças do governo do Sudão do Sul sufocaram cerca de 60 vítimas no estado de Unity, no ano passado, antes de despejar seus corpos em um campo aberto, afirmou a Anistia Internacional (AI), na sexta-feira.

Os assassinatos ocorreram em Leer County por volta de 20 á 23 outubro, quando um grupo de forças do governo apreenderam 60 homens e meninos. As vítimas foram colocadas em um contêiner em um local usado pelo governo como quartel.

"As prisões, torturas e assassinato dos detidos é apenas uma ilustração do absoluto desprezo do governo do Sul do Sudão pelas leis de guerra. Privação ilegal de liberdade, tortura, causar intencionalmente grande sofrimento, e matar intencionalmente, são todos crimes de guerra", disse Lama Fakih, conselheiro sênior da crise á Anistia Internacional.

O grupo de direitos humanos disse que era incapaz de encontrar qualquer sobrevivente, mas esqueletos encontrados concluem que "não há dúvida" que o incidente ocorreu.

O grupo baseou as suas conclusões em entrevistas realizadas com mais de 42 testemunhas, incluindo 23 pessoas que disseram que viram homens e meninos sendo forçados a entrar no container e mais tarde viram os seus cadáveres serem removidos ou jogados em um local de enterro em massa.

De acordo com testemunhas, em torno das datas em questão, soldados do governo prenderam arbitrariamente dezenas de homens e meninos na aldeia de Luale e da cidade de Leer. Eles, então, forçaram-os, com as mãos amarradas atrás das costas, a entrar em um ou mais contêineres localizados na Igreja Católica Comboni.

O governo do Sudão do Sul negou as alegações.

O ministro do Sudão do Sul da Informação e porta-voz do governo, Michael Makuei Lueth, diz que as alegações da AI foram obtidas de indivíduos opostos ao governo com o fim de alimentar o ódio dentro do país. Ele disse que as forças do governo - o Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA) - têm a obrigação de proteger os civis e suas propriedades dentro da lei consagrada na Constituição de Transição de 2011.

"São mentiras destinadas a manchar o governo legítimo", disse Makuei. As histórias, segundo ele, são de rebeldes leais ao ex-vice-presidente Riek Machar, que foi mudando suas demandas, sendo um grande impedimento para chegar a uma solução pacífica.

O relatório diz que recipientes de metal são frequentemente utilizados como celas improvisadas no Sudão do Sul, onde as temperaturas regularmente chegam á 40 graus Celsius.

Outros crimes listados incluem estupro, assassinato e a captura e saques de barcaças fluviais da ONU. Testemunhas descreveram ouvir detidos chorando, gritando e batendo nas paredes do contêiner de transporte, que eles afirmam que não tinha janelas ou outras formas de ventilação. Eles disseram que as autoridades civis e militares tinham conhecimento direto de que os detidos estavam sofrendo e morrendo, mas não fez nada para ajudá-los.

O Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em Genebra, também publicou um relatório similar sobre os ataques do Sudão do Sul aos seus civis.

Os EUA disse que estava "horrorizado" com a violência contra civis e a destruição de bens pelo governo do Sudão do Sul, após o lançamento do relatório da ONU.

Em agosto passado, o governo e a oposição do Sudão do Sul iniciaram um processo para chegar a um acordo de paz abrangente, com a assinatura do pacto negociado pela Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD).

A guerra civil do Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, quando Kiir acusou seu ex-vice Machar, de planear um golpe de Estado, desencadeando um ciclo de assassinatos de represália que dividiram o empobrecido país em linhas étnicas.


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