Médicos Sem Fronteiras retomam as operações de busca e salvamento no Mediterrâneo

Desde o início deste ano, pelo menos 426 homens, mulheres e crianças morreram durante a viagem em direção à Europa, através desta rota migratória.

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Médicos Sem Fronteiras retomam as operações de busca e salvamento no Mediterrâneo

A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) retomou as suas operações de busca e salvamento no Mediterrâneo central. Através de um comunicado oficial, a organização explicou que considerou ser necessário retomar as buscas após uma campanha de dois anos, na zona onde os governos da União Europeia tentaram pôr fim ao trabalho das ONG no Mediterrâneo.

Desde o início deste ano, pelo menos 426 homens, mulheres e crianças morreram durante a viagem em direção à Europa, através desta rota migratória que é atualmente a mais mortal.

"Os políticos querem fazer-nos crer que a morte de centenas de pessoas no mar e o sofrimento de milhares de refugiados e migrantes encurralados na Líbia, é um preço aceitável para controlar a migração" - afirmou Sam Turner, o coordenador geral da MSF para missões de busca e salvamento no Mediterrâneo e na Líbia.

A organização indicou que os últimos resquícios de capacidade europeia de busca e salvamento foram imprudentemente abandonados.

"A dura realidade é que enquanto anunciam o fim da chamada crise migratória na Europa, ignoram a crise humanitária que estas políticas perpetuam na Líbia e no mar. Todas estas mortes e todo este sofrimento podem ser prevenidos. Por isso, enquanto esta situação continuar, recusamos ficar de braços cruzados" - acrescentou Turner.

Desde há mais de 3 meses, os combates em Tripoli, a capital da Líbia, já obrigaram à deslocação de mais de 100 mil pessoas. Além disso, milhares de refugiados e migrantes ficaram encurralados e sem capacidade para fugirem dos centros de detenção. Os combates já cobraram a vida a 60 pessoas.

De acordo com a MSF, as evacuações humanitárias fora da Líbia continuam a ser desadequadas, deixando o trilho mortal no Mediterrâneo como a única via de escape possível.

"Os governos europeus estão a violar as suas obrigações legais e os princípios humanitários que assinaram, ao apoiarem a Guarda Costeira Líbia na devolução destas pessoas vulneráveis à Líbia" - indicou a organização humanitária em comunicado oficial.

A MSF diz também que em alguns casos, os centros de detenção onde são alojados os migrantes e refugiados, são sujeitos a disparos e ataques aéreos, tal como aconteceu no centro de detenção de Tajoura, que foi alvo de um bombardeamento em princípios de julho.

"A nossa presença no mar é para salvar vidas, isso é o mais importante. Mas não ficaremos calados, enquanto as pessoas vulneráveis continuarem a sofrer" - afirmou Turner.

Este perito garante que a condenação dos líderes europeus aos assassinatos de refugiados e migrantes na Líbia, deveria "ser acompanhada da retoma das operações oficiais de busca e salvamento, da criação de locais de desembarque seguros, da evacuação imediata para fora da Líbia e do encerramento de todos os centros de detenção".

"A hipocrisia de aumentar o apoio às interceções no mar seguidas de regresso forçado destas pessoas aos centros de detenção, onde acontecem todo o tipo de atrocidades, revela que estas condenações são na verdade palavras vazias" - afirmou Turner.



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