Análise da Atualidade: O assassínio de Prigozhin e as suas consequências

Apresentamos a análise sobre este tema, elaborada pelo investigador de política externa, Can ACUN da SETA…

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Análise da Atualidade: O assassínio de Prigozhin e as suas consequências

A organização mercenária Wagner, que a Rússia tem vindo a utilizar em operações militares internacionais, retirou-se subitamente das linhas da frente na Ucrânia e iniciou uma rebelião no interior da Rússia, em direção a Moscovo. Enquanto o exército russo assistia impotente, Putin, enfrentava o maior desafio do seu governo. No final, quando a Wagner estava a quase 200 quilómetros de Moscovo, o líder bielorrusso Alexander Lukashenko interveio e foi feito um acordo, tendo a Wagner parado e retirado. Dois meses após a rebelião da Wagner, um avião que transportava os principais dirigentes do grupo despenhou-se ou foi abatido nos céus da Rússia. O dossier Wagner está encerrado ou a luta pelo poder vai continuar?

 

 

Há 2 meses, a rebelião da Wagner, que tinha chegado às portas de Moscovo, foi impedida com negociações políticas e Putin respirou de alívio. No entanto, todos sabiam que este dossier não estava encerrado e, por fim, tal como previsto por muitos peritos russos, chegou a notícia de que os dirigentes da Wagner tinham perdido a vida. A agência noticiosa russa, a TASS, anunciou que um avião pertencente à Wagner, que transportava Yevgeny Prigozhin, se tinha despenhado. No entanto, surgiram imediatamente suspeitas de que o avião da Wagner poderia ter sido abatido. De facto, pelo que se vê nas imagens recebidas, a "queda dramática do avião, a forma como se desintegrou no ar e a dimensão do campo de destroços" revela que houve uma explosão. Os dados de rastreio do voo confirmam igualmente que o avião privado modelo "Embraer Legacy 600 (RA-02795)", que se diz estar ligado a Yevgeny Prigozhin, descolou da capital Moscovo, para aterrar em São Petersburgo, pouco antes das 18h00 locais de quarta-feira, 23 de agosto, mas começou a arder no ar e caiu cair 8 minutos depois. As autoridades aeronáuticas russas afirmam que, para além do chefe da Wagner, Yevgeny Prigozhin, nove outras pessoas constavam da lista de passageiros do avião que se despenhou na Rússia, incluindo Dmitry Utkin, que terá dado o nome à empresa mercenária, e Valery Chekalov, que desempenhou um papel fundamental no seu financiamento.

 O Kremlin negou categoricamente qualquer envolvimento de Putin ou de oficiais militares russos na queda do avião, enquanto Putin divulgou um vídeo com uma mensagem de condolências. No entanto, há indícios de que o vídeo contém emoções contraditórias. Afinal de contas, o facto de os mercenários da Wagner terem deixado a linha da frente na Ucrânia a 24 de junho e terem entrado subitamente na Rússia, capturando cidades como Rostov e avançando em direção a Moscovo, provavelmente chocou o Presidente russo Putin tanto quanto o resto do mundo. 

A Wagner, que a Rússia tinha alimentado e utilizado como uma força muscular sem justificação, tinha-se transformado desta vez numa ameaça, não aos interesses da Rússia, mas diretamente a ela própria.

 A audácia da Wagner e o facto de visar diretamente Moscovo foi provavelmente uma manifestação de uma luta pelo poder entre as elites. Os especialistas que acompanham de perto a Rússia, sabiam que havia sérios problemas entre o Ministério da Defesa russo e a Wagner, liderada por Prigozhin. Prigozhin, em particular, fez declarações muito duras nos últimos dias, acusando o Ministro da Defesa Shoigu e o Chefe do Estado-Maior Gerasimov de inação e sublinhando que tinham lidado muito mal com a guerra na Ucrânia.

 Agora que os principais dirigentes da Wagner foram expurgados, pode dizer-se que a luta pelo poder na Rússia foi ganha por Putin e os seus aliados. De certa forma, Putin também recuperou o seu prestígio que estava em declínio. No entanto, o futuro da Wagner, se será ou não utilizada na guerra da Ucrânia e quais serão as suas operações em África e na Síria, permanece desconhecido. Sabe-se que o exército russo e os elementos dos serviços secretos querem utilizar a Wagner, transformando-a e controlando-a de novo, mas o tempo mostrará se isso será possível.

 



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