Análise da Atualidade: Sergey Surovikin e a estratégia de destruição

A guerra russo-ucraniana, que começou com a tentativa de invasão da Rússia, continua a toda a velocidade, e os dois lados disparam mutuamente numa linha da frente de aproximadamente mil quilómetros. Contudo, especialmente nas últimas semanas, verifica-se que o ímpeto criado pela captura de Kharkiv pelo exército ucraniano foi estabilizado pelos russos. Especialmente após a nomeação do comandante russo, Sergey Surovikin, como "Comandante das Forças Militares Combinadas", que está encarregue da guerra ucraniana. A Rússia tem sido eficaz na transferência de algumas das suas táticas de destruição que utilizou na Síria para a guerra ucraniana. 

A guerra no território ucraniano que entra agora no seu nono mês, não está a correr bem para os russos. Com o objetivo de capturar Kiev, com a Operação Relâmpago, a tentativa convencional de invasão acabou por degenerar numa tentativa de defender os territórios capturados. A grande derrota em Kharkiv, em particular, permitiu que o ímpeto mudasse para as mãos do exército ucraniano e que a moral dos russos caísse para um mínimo histórico, com a alegação de que Kherson também se perderia em breve. No entanto, Putin acabou por dar um passo importante e mudou o comandante no terreno e a estratégia aplicada.

O Ministério da Defesa russo fez uma alteração no "Comando das Forças Militares Combinadas", que inclui as tropas que combatem na Ucrânia. O comandante da força aérea russa, Sergey Surovikin, foi nomeado como o novo comandante das tropas que combatem na Ucrânia. Surovikin esteve envolvido nos conflitos no Tajiquistão e na Chechénia nos anos 90, mas foi na Síria que ele ganhou a sua verdadeira fama.

Em setembro de 2015, a Rússia interveio diretamente na guerra civil e impediu a queda do Presidente sírio, Bashar al-Assad. Na Síria, os russos declararam o seu envolvimento na guerra contra a organização terrorista, Daesh, mas em geral visaram a oposição.  Sergey Surovikin foi nomeado comandante da força aérea russa na Síria, e implementou a estratégia de destruição "terra queimada" através de bombardeamentos pesados, sendo o principal objetivo forçar o inimigo a render-se, destruindo todas as infraestruturas, ou alcançar a vitória militar através da ‘despopulação’ das áreas em questão. Milhares de civis na Síria foram mortos por estes bombardeamentos aéreos.

Após o seu serviço na Síria, em novembro de 2017, Surovikin tornou-se chefe das Forças Aéreas e Espaciais russas. Ele é agora o principal comandante da guerra ucraniana.  Esta decisão foi saudada pelo líder checheno, Ramzan Kadyrov, e por Yevgeni Prigozhin, o fundador da empresa mercenária russa: Grupo Wagner. Após a nomeação de Surovikin, a estratégia de guerra da Rússia começou a mudar; foram ativamente utilizados mísseis guiados e drones kamikaze para atingir as infraestruturas ucranianas, e de acordo com as declarações de Zelensky, pelo menos 30% das infraestruturas elétricas da Ucrânia ficaram destruídas nos ataques. Por um lado, a transferência de soldados da reserva para a linha da frente reforçou o poder dos russos em termos de recursos humanos, ao mesmo tempo que o foco nas infraestruturas do outro lado da linha da frente, começou a desmoralizar os soldados ucranianos.

Eventualmente, com a nomeação de Surovikin e a sua nova estratégia, os russos começaram a sacudir a sua antiga imagem desorganizada, e embora o exército russo ainda esteja numa posição defensiva, começou a demonstrar mais resistência, pelo menos em Kherson, e na linha dos mil quilómetros. No entanto, as desvantagens dos russos continuam em termos gerais. Especialmente face aos sistemas de armas fornecidos pelos países ocidentais, já que a capacidade dos russos de substituição do seu próprio equipamento, à mesma velocidade, parece mais fraca. Mais uma vez, com a chegada dos meses de inverno, começa um período mais difícil para ambos os lados.