A guerra do petróleo

Os países da OPEP+ entraram num braço de ferro liderado pela Arábia Saudita e pela Rússia.

1377669
A guerra do petróleo

A estrutura ad hoc, formda pela Rússia e por membros da OPEP alargada, conhecida como OPEP+, tentaram garantir que os preços do petróleo se mantivessem a um determinado nível de equilíbrio, entre oferta e procura, pelo maior tempo possível. Mas constatou-se que os membros da OPEP+ estavam num dilema, entre perderem as suas quotas de mercado ou conseguirem a estabilidade de preços, principalmente por causa dos derivados de petróleo de xisto dos Estados Unidos terem feito crescer a produção mundial de petróleo. No entanto, chegaram a acordo para manterem as quotas de produção em vigor. Mas o mercado de petróleo teve um choque de procura, depois da economia global ter entrado em recessão nos últimos tempos e em particular por causa da nova onda causada pelo coronavírus, que começou a atingir todos os países. Esta situação fez com que os países da OPEP+ entrassem num braço de ferro liderado pela Arábia Saudita e pela Rússia, em vez de manterem a cooperação que até aí tinha vigorado.

O coronavírus, que apareceu na cidade chinesa de Wuhan e se espalhou por todo o mundo, para além de ser uma ameaça à saúde global, começa também a afetar profundamente a economia mundial. A produção caiu rapidamente devido ao vírus que afeta muitas economias desenvolvidas, principalmente a economia chinesa. Além disso, as pessoas em quarentena começaram a reduzir as suas despesas de consumo. Neste contexto, naturalmente o consumo de todos os produtos, e principalmente o consumo de petróleo, caiu rapidamente. De acordo com as avaliações do FMI e de outras instituições financeiras e bancos internacionais, a possibilidade de uma recessão global é muito alta. E neste cenário, a procura por petróleo deverá cair bastante ao longo do ano de 2 020.

A Agência Internacional de Energia prevê que a procura mundial por petróleo vai diminuir em pelo menos 3 a 4 milhões de barris por dia.

Apesar de serem esperadas fortes quedas na procura mundial de petróleo, os Estados Unidos continuam a aumentar a sua produção de petróleo de xisto, desde há muito tempo. Os Estados Unidos estão a produzir cerca de 13 milhões de barris de petróleo por dia. A tecnologia de extração de petróleo e gás de xisto permitiu baixar continuamente os custos de produção. Esta situação teve um forte efeito na oferta e na procura e fez com que os produtores tradicionais, principalmente a Arábia Saudita e a Rússia, enfrentassem um grande desafio.

A Arábia Saudita pediu a manutenção do acordo da OPEP+, e um corte adicional na produção de petróleo de 1,5 milhões de barris por dia. Por sua vez, a Rússia rejeitou um novo acordo, considerando que o corte na produção seria benéfico para os seus rivais, como os Estados Unidos, e que uma redução na produção iria fazer com que a Rússia perdesse gradualmente a sua quota de mercado.

O mercado do petróleo enfrentou um novo desafio depois do fracasso da cimeira da OPEP, realizada em Viena. A Rússia e a Arábia Saudita aumentaram as suas produções e anunciaram que vão tomar medidas para aumentarem as suas quotas de mercado. Esta situação causou uma queda imediata nos preços do petróleo. Os especialistas nesta matéria dizem que o preço do petróleo pode cair até aos 20 dólares por barril. Podemos prever que, caso estes números se verifiquem, os países produtores de petróleo vão entrar num período de grande crise económica.

* Programa foi escrito pelo investigador e autor Can ACUN, da Fundação SETA



Notícias relacionadas