A Operação Escudo da Primavera

A crise de Idlib foi aprofundada pelo ataque do regime de Assad contra os soldados turcos. No entanto, a Turquia e a Rússia concordaram num cessar fogo em Idlib durante a cimeira entre Erdogan e Putin.

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A Operação Escudo da Primavera

Os acontecimentos das últimas semanas em Idlib, mostraram que o conflito sírio entrou numa nova etapa. O fato da Turquia ter reagido fortemente contra a tentativa dos elementos terrestres e aéreos do regime de Assad - apoiados pela Rússia - e de ter assumido o controle das estradas estratégicas M4 e M5 em Idlib, colocou de imediato a região como principal tema da agenda mundial. A crise de Idlib aprofundou-se depois da Força Aérea do regime de Assad ter disparado sobre os elementos das Forças Armadas da Turquia e martirizado 33 soldados turcos, no dia 27 de fevereiro. Esta situação fez com que a Turquia desse uma resposta muito dura e abrangente ao regime. A operação da Turquia fez com que todos os atores relevantes na crise síria tivessem que rever as suas posições.

A operação da Turquia, com o nome de Escudo da Primavera, revelou a verdadeira capacidade do país. A Turquia e a Síria nunca se enfrentaram a esta escala durante a guerra civil síria. A Turquia entrou no espaço aéreo sírio usando os seus veículos aéreos armados não tripulados, apesar do espaço aéreo ter sido fechado aos caças turcos. Durante esta operação, a Turquia destruiu todos os elementos móveis do regime sírio em Idlib e arredores. No segundo dia da operação, o regime sírio perdeu mais de 2 500 elementos (números oficiais), entre soldados e membros de milícias. Além disso, o regime sírio perdeu aproximadamente 100 tanques no ataque aéreo turco e dois caças SU-24 e L-36 foram abatidos pela Turquia. O regime também perdeu sistemas de defesa antiaérea, baterias de artilharia e inúmeros veículos blindados.

A Turquia, em vez de retaliar de forma proporcional ao ataque contra os seus soldados, adotou uma tática e estratégia militar de causar sérias perdas ao regime. Com o ataque dos veículos aéreos armados não tripulados, Ancara deu nício a uma nova fase na história da guerra.

O objetivo final da estratégia é bastante óbvio: forçar o regime a retirar-se para as linhas originais acordadas em Sochi. Mas de acordo com as notícias que chegam do terreno, o regime não pretende retirar-se das posições que ocupa, mesmo depois de ter sofrido pesadas perdas. A constante mudança de mãos em Saraqib - a região estrategicamente importante para permitir o controle simultâneo das estradas M4 e M5 – é uma evidência neste sentido. Além disso, parece que Moscovo adotou uma posição clara, embora não tenha posto em prática nenhuma atitude perante as graves perdas do regime, no primeiro dia da operação.

Moscovo enviou a polícia militar russa para a região de Saraqib e colocou a sua própria presença na linha da frente, perante a possibilidade do alargamento da operação da Turquia. Esta posição acarreta, inevitavelmente, a adoção de uma atitude mais cautelosa por parte da Turquia. Nem Ancara nem Moscovo querem entrar numa atmosfera de conflito.

A Turquia insiste nas fronteiras originais do acordo de Sochi, enquanto que Moscovo tem intenções diferentes. Mas ambos os atores são contra uma escalada do conflito.

Putin e Erdogan reuniram-se no dia 5 de março e acrescentaram 3 novos artigos ao acordo de Sochi, assinado em 2 018. Desta forma, impediram o aprofundamento da crise e garantiram a formação de uma nova linha de cessar-fogo na crise de Idlib. Com a declaração de cessar-fogo, foi acordado o estabelecimento de um corredor seguro de 6 quilómetros de profundidade, a norte e a sul da estrada M4. Desta forma, a Turquia bloqueou o surgimento de uma nova crise de refugiados, ao criar um tampão ao avanço do regime sírio e da Rússia, e ganhou tempo para proteger as posições da oposição síria. Embora não tenha sido alcançada uma solução duradoura para a crise de Idlib durante a cimeira de Moscovo, o aprofundamento da crise foi estancado através de uma fórmula temporária.

Não há garantia de que a Rússia e o regime não possam iniciar um novo ataque a qualquer momento. No entanto, a Turquia pode impedir o ressurgimento da crise de Idlib no próximo período, consolidando o seu domínio sobre a área atual. O resultado mais importante da cimeira de Moscovo foi o reafirmar da importância das relações russo-turcas e não colocá-las em risco por causa de Idlib. No entanto, e no final do dia, as relações bilaterais foram prejudicadas pela crise de Idlib.

* Este programa escrito pelo autor e professor Murat Yeşiltaş, o diretor de Pesquisa de Segurança da Fundação SETA



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