A necessidade de segurança da Turquia

Actualmente, a Turquia, e apesar de ser um país membro da NATO, está sob ameaça política aberta, sobretudo por parte dos Estados Unidos. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Fac. Ciência Política da Univ. Yildirim Beyazit em Ancara.

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A necessidade de segurança da Turquia

No programa anterior falámos sobre a ordem da Guerra Fria, criada após a Conferência de Ialta, e que está atualmente em declínio apesar de ainda não se ter criado uma nova ordem. Falámos também sobre a procura por uma nova ordem mundial, do eixo composto pelos Estados Unidos, Rússia e China, e também sobre a necessidade de uma nova ordem baseada no eixo da justiça.

Depois desta análise geral, podemos continuar no mesmo ponto em que deixamos o tema na semana passada e passar às necessidades de segurança da Turquia.

 

A necessidade de segurança da Turquia

A República da Turquia, fundada após a queda do estado otomano, perdeu uma parte importante do seu território com a I Guerra Mundial e só continuou a existir numa geografia limitada. Paralelamente à política de mar aberto acordada com a União Soviética na década de 1940, depois da sua exigência de utilização dos estreitos da Turquia, o país começou a mover-se em direção ao bloco ocidental.

Em 1952 a Turquia tornou-se membro da NATO. No contexto da política do bloco ocidental de encurralar a Rússia, a Turquia cumpriu com as suas responsabilidades. E no contexto da sua luta contra a União Soviética, a NATO apoiou as necessidades de segurança da Turquia.

Depois da Guerra Fria, a Rússia deixou de ser a principal ameaça para o Ocidente. Dentro do bloco ocidental, a Turquia continua a cumprir com as suas responsabilidades enquanto país da NATO. Mas em contrapartida, já não existe uma abordagem semelhante por parte dos países ocidentais.

A Turquia acolhe milhões de sírios, garante e apoia a democracia e a estabilidade do Ocidente e impede que os países ocidentais sucumbam ao fascismo e ao nazismo.

Neste contexto, e perante as ameaças de segurança com origem na Síria, a Turquia foi deixada sozinha. E em cima disto, actualmente, a Turquia, e apesar de ser um país membro da NATO, está sob ameaça política aberta, sobretudo por parte dos Estados Unidos.

O pedido turco para a compra dos mísseis Patriot foi recusado pelos Estados Unidos, que a meio duma guerra, retiraram os mísseis Patriot americanos e alemães no nosso território.

Por outro lado, a colaboração entre os Estados Unidos e o PYD, a ramificação síria do grupo terrorista PKK, reconhecido como uma organização terrorista e que originou a perda de 50 mil vidas ao longo de dezenas de anos, é algo de inaceitável para a Turquia, que considera essa colaboração como a tentativa de criar um estado terrorista na sua fronteira. O equipamento militar americano dado a esse grupo terrorista, transportado em 7 mil camiões, foi fortemente criticado pela Turquia.

Como não se vendeu à Turquia o equipamento de que precisava para a sua autodefesa, ignorando as suas necessidades de segurança, foi inevitável que a Turquia colaborasse com a Rússia, China e outros países. Não interessa qual o país mais forte, quando se considera o futuro do nosso próprio país e não se pode contar com o Ocidente para dar apoio, não se pode ficar à espera sem procurar soluções alternativas. O objetivo desta política ocidental foi deixar a Turquia numa situação mais difícil.

 

A mudança do Eixo dos Estados Unidos

Atualmente, países como a Alemanha, o Japão e a Coreia do Sul, ainda estão sob a proteção de segurança dos Estados Unidos. Continuam a ter estabilidade e crescimento com a proteção garantida pelos Estados Unidos. A Turquia também usufruiu desta proteção durante a Guerra Fria. Mas no momento atual, depois da Guerra Fria, a segurança da Turquia está a ser abertamente ameaçada, com as políticas contra Ancara no Mediterrâneo Oriental, a crise da Síria, a FETO, a crise dos S-400, o afastamento da Turquia dos F-35 e outras situações.

A Turquia cumpriu plenamente as suas obrigações para com o Ocidente enquanto membro da NATO, e deu mais do que recebeu. E hoje em dia, esta atitude da Turquia não mudou. Por este motivo, nos últimos anos e ao contário do que dizem insistentemente os intelectuais ocidentais, quem está a mudar de eixo não é a Turquia, mas sim o Ocidente e os Estados Unidos em particular.

A mudança de eixo dos Estados Unidos não é apenas contra a Turquia. Países vizinhos dos Estados Unidos como o México e o Canadá, bem como os países da União Europeia, estão a ser alvos desta mudança de eixo. A tensão exercida sobre o Irão, a Coreia do Norte, os países da América Latina, a Rússia e a China, podem ser analisadas neste contexto.

Os motivos da mudança de eixo dos Estados Unidos, serão o tema de um outro programa. Esses motivos não se prendem apenas com a mudança de prioridades após a Guerra Fria, mas também com a perda de importância relativa dos países ocidentais e dos Estados Unidos num mundo globalizado. A tomada de medidas políticas sem princípios por parte dos Estados Unidos, ao contrário das anteriores políticas de abertura e livre concorrência, têm por base o medo de perder a sua liderança global.

 

A diferença de atitude entre a NATO e os Estados Unidos

Na imprensa, foi dito que o secretário interino de Defesa dos Estados Unidos, Patrick Shanahan, enviou uma carta ao ministro turco da Defesa Nacional, Hulusi Akar, dizendo que a compra do sistema russo de defesa S-400 por parte da Turquia, irá prejudicar a colaboração entre Ancara, os Estados Unidos e a NATO, e que essa situação terá impacto no setor da defesa, nos objetivos económicos, no crescimento e no comércio internacional. Shanahan disse que “caso a Turquia receba o sistema S-400, não receberá os aviões F-35”.

Só por si, esta carta mostra que a Turquia não pode deixar a qualquer eixo a sua própria segurança. A Turquia está a ser ameaçada de ser excluída do avião F-35, um projeto no qual tomam parte muitos países e cuja decisão de produção foi tomada em conjunto.

Durante a visita à Turquia do secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, foi dito que não é correto prejudicar as relações da Turquia com a NATO por causa da compra dos S-400, tal como foi ameaçado por Shanahan. O secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, disse que os países têm o direito de se defenderem a si próprios. Por conseguinte, a Turquia será talvez o país que menos mudou de atitude, quando comparando com os países ocidentais e com os Estados Unidos.

A Turquia não pretende pôr fim às suas alianças históricas. A mudança de atitude e a mudança de eixo, existe apenas por parte de alguns países ocidentais e sobretudo por parte dos Estados Unidos, que ignoram a segurança da Turquia e querem criar um estado terrorista na nossa fronteira, colaborando com organizações terroristas.

Quando comparado com o período da Guerra Fria, e quando é clara a mudança de eixo do Ocidente, porquê e para quê deve a Turquia renunciar a garantir a sua própria defesa através dos S-400 e outros equipamentos semelhantes?

Esta foi a análise sobre este assuntodo Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Yildirim Beyazit em Ancara


Etiquetas: #S-400 , #EUA , #NATO , #Turquia

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