O Tarrantismo no Sri Lanka

Cerca de 310 pessoas perderam a vida em 8 ataques em série no Sri Lanka. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Yildirim Beyazit em Ancara.

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O Tarrantismo no Sri Lanka

O Tarrantismo no Sri Lanka

Começámos uma nova semana com um novo ataque terrorista. Desta vez, o ataque terrorista aconteceu no Sri Lanka, um país vizinho da Índia no sul da Ásia. Cerca de 310 pessoas perderam a vida em 8 ataques em série no Sri Lanka, incluindo 3 ataques contra igrejas e 4 contra hotéis - na capital Colombo e em outras 3 cidades do país - no domingo de Páscoa, um dia sagrado para os cristãos. O ataque fez também 500 feridos.

 

O Sri Lanka e os seus conflitos internos

Devido a estes ataques, o povo cingalês enfrenta-se, justificadamente, com incerteza e tristeza. Por isso, agora é o momento de mostrar solidariedade com o povo cingalês.

Nestes ataques, morreram até agora 36 estrangeiros, incluindo turcos, muçulmanos, americanos, britânicos, indianos e dinamarqueses.

Depois dos ataques sangrentos, o governo do Sri Lanka decretou o recolher obrigatório em Colombo e cortou o acesso a todas as redes sociais.

O Sri Lanka é um país insular com cerca de 22 milhões de habitantes, dos quais 70% são budistas, 12,6% são hindus, 9,7% muçulmanos e apenas 6% são cristãos católicos. O Sri Lanka é um país que passou por uma guerra civil entre os budistas da etnia sinhala e os hindus da etnia tamil, entre os anos de 1 983 e 2 009. A guerra civil acabou com a vitória das forças governamentais em 2 009.

Ainda se desconhecem os motivos e quais os responsáveis pelo ataque. Até ao momento, ninguém assumiu a autoria do terrível ataque terrorista.

No Sri Lanka registam-se de vez em quando ataques contra os cristãos e os muçulmanos, por parte dos budistas. Nos últimos tempos, as igrejas do país foram atacadas 26 vezes por budistas. Os ataques budistas fizeram também 40 mortos entre a comunidade muçulmana em 2 013.

 

As Reações mundiais

Os líderes mundiais, que ficaram calados e que não classificaram de “ataque terrorista” o ataque contra as mesquitas na Nova Zelândia há cerca de um mês, desta vez condenaram em voz alta os ataques. Tal como deveriam, repudiaram severamente os ataques no Sri Lanka. Esperamos que esta postura seja adotada em todos os ataques e se traduza em mais cooperação.

Também o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou os ataques contra as igrejas e hotéis no Sri Lanka. Na sua declaração, Erdogan sublinhou que estes ataques foram levados a cabo contra toda a humanidade e destacou a cooperação global contra o terrorismo:

“Condeno energicamente os ataques terroristas no Sri Lanka, que coincidiram com o Domingo de Páscoa. Estes ataques foram perpetrados contra toda a humanidade. Este ataque bárbaro demonstrou uma vez mais a necessidade de uma luta determinada contra todas as formas de terrorismo. Expresso a nossa solidariedade com o Sri Lanka contra o terrorismo, o inimigo comum da humanidade e da paz global” – afirmou o presidente Erdogan.

 

O Tarrantismo no Sri Lanka

Salta desde logo à vista que se tenham massacrado os cristãos inocentes que rezavam nas igrejas do Sri Lanka, um mês depois da matança dos muçulmanos inocentes que rezavam nas mesquitas na Nova Zelândia. Num dos meus artigos sobre os massacres na Nova Zelândia, classifiquei este tipo de ataques racistas como “Tarrantismo”, em alusão em terrorista Brenton Tarrant, que anunciou os seus massacres a todo o mundo através de um manifesto, onde disse que levaria a cabo estes ataques em nome da superioridade da raça branca. Isto porque o racismo da raça branca precisa de uma designação especial, se consideramos o racismo de estado como sendo “fascismo”, o racismo contra países como “nazismo” e o racismo religioso como “sionismo”.

Seja qual for o seu nome e independentemente de quem o tenha praticado, o vil ataque no Sri Lanka não foi muito diferente das ideias saídas da mente de Brenton Tarrant. O ataque deve ser condenado da forma mais severa e os seus autores devem ser condenados.

 

O apelo à justiça

Na nossa época, as pessoas podem recorrer ao terrorismo em nome do islão, do cristianismo, do judaísmo, do budismo, do laicismo e de outras religiões e ideologias. Mas não há qualquer dúvida de que o o terrorismo não pode ser justificado. No entanto, também podemos observar que o terrorismo é usado com mais frequência à medida que aumenta o sentimento de injustiça.

Certamente, e mesmo que haja justiça absoluta, algumas pessoas podem recorrer ao terrorismo. Mas a justiça é o antídoto contra o terrorismo, é o que poderá minimizar o terrorismo. A primeira coisa que devemos fazer é procurar uma justiça que evite que as pessoas caiam no radicalismo. A expressão do académico francês Olivier Roy, que disse que “o islão não se está a radicalizar, é o radicalismo que se está a islamizar”, explica em grande medida o motivo por detrás de muitos ataques terroristas.

À medida que as pessoas se radicalizam, podem tentar justificar o terrorismo através das suas religiões e ideologias. Devemos secar os recursos do radicalismo, com a nossa procura global e o nosso pedido por justiça em todo o mundo. Devemos evitar que as pessoas produzam terrorismo através das suas ideias radicais. O radicalismo não se deve transformar em cristianismo, islamismo, budismo e judaísmo, com o nosso apelo por justiça que construíremos a nível global.

Se não fizermos uma procura por justiça a nível global, e se procurarmos justiça apenas para a nossa nação e para a nossa terra, temo que o nosso mundo fique cada vez mais inseguro. Porque as injustiças e a crueldade agora podem ser vistas muito mais rapidamente, na era da comunicação global e da informática, que faz com que o nível de tolerância da humanidade diminua muito mais rapidamente.

Tal como aconteceu nos Estados Unidos no 11 de setembro, ou em Paris, Londres e Ancara com os ataques do DAESH, na Nova Zelândia com o ataque contra as mesquitas, e agora por último no Sri Lanka com os ataques contra as igrejas, enquanto família humana, estamos expostos a ataques terroristas em todo o mundo. Onde quer que vivamos, a nossa vida é mais insegura agora do que antes, devido a estes ataques.

Enquanto por um lado aumentamos os nossos esforços pela justiça, por outro lado, e seja qual for o seu nome, enquanto família humana devemos reagir todos juntos. Ignorar e descartar alguns dos ataques terroristas, não significa outra coisa senão arriscar as nossas vidas.

Este programa foi escrito pelo Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Yildirim Beyazit em Ancara



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