O Orientalismo que se transforma em regionalismo

Os estudos realizados por investigadores ocidentais sobre o imperialismo e os aspetos políticos, sociais, culturais, religiosos, étnicos e antropológicos das sociedades orientais, são designados por “orientalismo”. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul.

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O Orientalismo que se transforma em regionalismo

Perspetiva Global 47

Os estudos realizados por investigadores ocidentais sobre o imperialismo e os aspetos políticos, sociais, culturais, religiosos, étnicos e antropológicos das sociedades orientais, consideradas no Ocidente como sendo sociedades “exóticas”, são designados por “orientalismo”. Este conceito não olha para as sociedades orientais com deferência, mas sim de uma forma negativa em que estas sociedades são vistas como um objeto passivo.

Já a seguir apresentamos a análise sobre esta questão do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara.

Os estudos orientalistas não perderam o seu significado no mundo de hoje. Mas mudaram substancialmente. Atualmente, já não são tão necessários como no passado os estudos realizados por investigadores ocidentais nos postos de investigação, pois estes começam a ser cada vez mais feitos no Oriente. Os investigadores orientais estão agora muito mais disponíveis para fazer os seus estudos e investigações, quando vão trabalhar para os países ocientais.

A nossa triste história de 200 anos

Países como a Turquia e o Japão, que não se conseguiram impôr perante a civilização ocidental, enviam investigadores, peritos, estudantes, académicos e responsáveis para o Ocidente, desde há cerca de 200 anos. Hoje em dia, também muitos países de África, Balcãs, Médio Oriente, Extremo Oriente e América Latina, bem como a China e a Índia, adotam uma postura semelhante. Nestes países, não apenas as universidades mas também todos os ministérios e instituições públicas, enviam os seus funcionários para os países ocidentais para receberem formação, informação, cultura e aprenderem as boas práticas. Estes países fazem esforços e pagam um grande custo, renunciado a muitos dos seus gastos obrigatórios para que estas pessoas possam aprender in loco as experiências, a ciência, a tecnologia e os métodos do Ocidente.

Porque não conseguem estas pessoas alcançar os objetivos desejados?

Estas pessoas estão a ser enviadas para o Ocidente desde há 200 anos. Durante os meus anos e enquanto estudante universitário, um dos meus professores disse-me que “os japoneses regrassaram ao seu país depois de aprenderem a ciência e a tecnologia do Ocidente. Mas os nossos regressaram para serem poetas”. O poeta Sezai Karakoç narra muito bem esta situação com o seu poema “Masal” (Conto), que fala sobre a história triste de 200 anos de um desaparecimento no Ocidente através de um pai com sete filhos.

Ir para o Ocidente e trabalhar sobre o seu país

É um facto triste que os estudantes, académicos, os investigadores e o pessoal técnico, enviados para muitos países do Ocidente na esperança de que “regressem ao seu país e contribuam para o seu desenvolvimento depois de obterem experiência e informação nesses países”, na sua maioria depois não regressam aos seus países. Esta situação será facilmente revelada se as universidades e as instituições públicas, que enviam o seu pessoal para o estrangeiro, levarem a cabo uma rápida investigação a este respeito.

Os investigadores, funcionários públicos e estudantes que vão para os países ocidentais, não trabalham sobre temas relacionados com os países para onde vão, mas sim sobre temas relacionados com os seus próprios países. Quando me reúno com pessoas que se mudaram para países ocidentais com objetivos académicos e que depois regressam à Turquia, constato este panorama triste.

Não ser um perito do Ocidente sobre o seu país, mas sim um perito turco sobre o Ocidente

O facto daqueles que se mudam para o Ocidente oriundos de sociedade não ocidentais com fins educativos, trabalharem sobre temas relacionados com os seus próprios países, pode dar origem a resultados contrários. Esta situação, faz com que estes países injetem os seus fundos para beneficiarem o Ocidente, que ganha com as suas experiências. Aqueles que vão para o estrangeiro, não fazem face às necessidades dos seus países depois de regressarem a casa, com o trabalho que desenvolveram sobre o seu país. E pelo contrário, apenas se tornam peritos em questões de que o Ocidente precisa sobre países estrangeiros.

Dando o exemplo da Turquia, que apesar de enviar pessoas para o estrangeiro desde há 200 anos, tem muito poucos peritos turcos sobre os Estados Unidos, Alemanha e França. Pelo contrário, é muito mais frequente ver que estas pessoas se transformam em peritos sobre a Turquia, e que usam esse conhecimento para formar os países Ocidentais à custa dos fundos turcos.

É muito difícil encontrar na Turquia um perito sobre os países ocidentais, mas estes peritos aparecem com muita frequência nas televisões, jornais e páginas de internet sobre temas relacionados com a Turquia. E por isso, o Ocidente já não precisa de estudos orientalistas levados a cabo por ocidentais, pois são os próprios países não ocidentais que enviam os seus elementos para o Ocidente, para fazerem estudos sobre questões como a violação dos direitos humanos, os problémas étnicos, as questões das minorias, temas estratégicos e movimentos religiosos. O facto de um investigador ocidental analisar um tema numa sociedade não ocidental, aprendendo o seu idioma e tomando consciência das diferenças entre sociedades, é muito mais custoso e requer muito mais tempo. Pelo contrário, é muito mais prático e económico ter um investigador que trabalhe sobre estas questões diretamente no Ocidente, usando os fundos do seu próprio país, que depois regressa a casa com as teorias e os métodos do Ocidente. É um esforço muito inteligente, transformar em peritos para o Ocidente as pessoas que se mudam para o Ocidente, usando os fundos do país de origem destes peritos. É um trabalho inteligente e sofisticado.

O problema tem apenas que ver com o país para onde estes peritos vão? Falaremos sobre este tema no programa da próxima semana e sobre os problemas que ocorrem quando um país procura soluções para o seu futuro com base nos estudos levados a cabo para o Ocidente, bem como sobre a rutura intelectual que ocorre com o auto-orientalismo. Mas posso dizer desde já que o problema não está apenas nos países para onde vão os peritos, que representam apenas uma parte menor do problema.

Esta foi a análise sobre este tema do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara



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