As possíveis consequências no Irão das sanções dos Estados Unidos

Nos meses de novembro e dezembro, as exportações iranianas de petróleo continuarão por volta dos 1,3 - 1,4 milhões de barris por dia. Mas em meados de 2 019, deverão baixar para menos de 1 milhão de barris diários. A análise do Dr. Cemil Dogaç Ipek.

1088541
As possíveis consequências no Irão das sanções dos Estados Unidos

As sanções aplicadas pelos Estados Unidos contra o Irão, terão impactos em diferentes aspetos também sobre os países que mantém relações comerciais com o Irão. No programa desta semana, vamos analisar estas sanções e o impacto que elas poderão ter na política externa da Turquia. Já a seguir, apresentamos a análise sobre esta questão do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Karatekin.

No dia 5 de novembro, entrou em vigor a segunda fase das sanções americanas contra o Irão. Durante esta segunda fase, os principais setores visados são os do petróleo e gás natural. Mas são também abrangidos todos os produtos relacionados com a energia, as administrações portuárias, o comércio feito através de via marítima, os serviços de segurança e ainda os serviços bancários internacionais da banca iraniana. Desde o dia 5 de novembro, foram também impostas sanções sobre pessoas e entidades iranianas como a Empresa Nacional de Petróleos do Irão e à Empresa Nacional de Transporte de Energia. Começaram por isso a ser aplicadas sanções contra a exportação de petróleo e de produtos petrolíferos do Irão, um país cuja economia depende em grande medida do petróleo.

Segundo os dados publicados pela Facts Global Energy, as exportações iranianas de petróleo começaram a mostrar uma tendência de queda desde o mês de abril. De acordo com estes dados, depois da entrada em vigor das sanções as exportações iranianas de petróleo caíram de 3 milhões de barris diários para perto de 1 apenas um milhão, uma redução de quase 2 milhões de barris e cuja redução deverá continuar a acentuar-se. Nos meses de novembro e dezembro, as exportações iranianas de petróleo continuarão por volta dos 1,3 - 1,4 milhões de barris por dia. Mas em meados de 2 019, deverão baixar para menos de 1 milhão de barris diários.

Os países produtores de petróleo tentam suavizar ao máximo o impacto das sanções sobre o Irão no mercado do petróleo, e já fizeram saber que irão aumentar a sua produção e que estão determinados em continuar com este aumento de produção. Esta situação deverá equilibrar a relação entre oferta e procura, que poderia estar em risco devido ao bloqueio das exportações de petróleo do Irão para os mercados internacionais. Depois de um curto período de aumento dos preços do petróleo a nível global, devido à entrada em vigor das sanções, o aumento da produção dos outros países produtores de petróleo deverá, muito provavelmente, manter o mercado em equilíbrio. Por este motivo, não será uma surpresa se os preços do petróleo se mantiverem a um nível entre os 75 e os 85 dólares por barril. Os dados que temos em mãos, mostram que a procura no mercado de petróleo está em alta. De acordo com o relatório mensal do mercado de petróleo da Agência Internacional de Energia (IEA), a produção diária de crude da OPEP aumentou em 100 mil barris, para um total de 32,78 milhões de barris, que representa o nível mais alto ao longo do último ano. Em setembro, o país que mais aumentou a sua produção no seio da OPEP foi a Arábia Saudita. A produção saudita de petróleo aumentou em 100 mil barris diários, para um total de 10,52 milhões de barris.

O novo bloqueio posto em prática pelos Estados Unidos tem uma característica importante, pois não visa apenas o Irão, mas também os países com relações comerciais com esse país, incluindo a Turquia. Mas os Estados Unidos concederam a alguns países uma isenção total ou parcial deste bloqueio. Por outro lado, a administração de Trump está a colocar uma pressão económica sobre o Irão nunca antes vista.

Como nos recordamos, durante a campanha presidencial nos Estados Unidos em 2 016, Donald Trump opôs-se ainda como candidato ao acordo nuclear assinado com o Irão, em 2 015. Trump disse na altura que se fosse eleito, retiraria os Estados Unidos desse tratado com o qual não concorda e que considera ser um erro. E no passado mês de maio cumpriu esta promessa e retirou unilateralmente os Estados Unidos desse tratado.

O pretexto invocado pela administração Trump para se opôr a este tratado, é o facto do tratado não impedir o Irão de desenvolver armas nucleares. Mas outro motivo por detrás deste bloqueio é a continuação da política expansionista do regime iraniano, ao intervir na Síria e apoiando o Hezbollah e outros grupos terroristas.

Com o bloqueio americano, Trump tem como objetivo fazer com que o regime do Irão volte atrás nestas políticas. Pelo que vimos até agora, este é o plano de Trump: os problemas económicos que surgirão das sanções, farão com que o povo iraniano se revolte e comece a criar pressão contra o regime de Teerão, que no final de contas cairá ou terá que mudar de políticas.

A Turquia opõe-se por uma questão de princípio às sanções contra o Irão, por se tratarem de sanções unilaterais. O Irão é o segundo maior fornecedor de gás natural à Turquia, enviando 9,5 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano para o nosso país. A Turquia tem também contratos de longo prazo para o fornecimento de gás iraniano, como parte da sua política de segurança energética. A Turquia deverá por isso continuar a importar gás natural do Irão.

Segundo os dados relativos a 2 017, o Irão é o principal fornecedor de petróleo da Turquia. Mas prevê-se que ao longo do tempo a Turquia comece a importar mais petróleo de outros países. Além disso, a Turquia poderá no curto prazo manter as suas relações comerciais com o Irão, usando as moedas nacionais dos dois países. A Turquia pretende também tentar impedir o desequilíbrio entre a oferta e a procura que poderia ocorrer, fazendo poupanças no seu consumo de petróleo e produtos petrolíferos.

Quando olhamos para os exemplos passados, nunca se verificou que um bloqueio tenha dado origem a mudanças em regimes autocráticos. O uso de sanções económicas nas relações internacionais, é algo ainda bastante recente na perspetiva histórica. Mas as sanções muito raramente têm êxito do ponto de vista da sua eficácia, em termos das mudanças políticas desejadas pelos países que aplicam as sanções. Na literatura da ciência política, as relações internacionais e económicas têm um impacto negativo sobre os volumes comerciais e sobre o crescimento económico, para além de afetarem também o bem estar social. No entanto, é possível ver muitas análises sobre os regimes que foram alvo de sanções, que optam por adotar uma posição de vítimas e conseguem dessa forma obter o apoio da suas sociedades e alcançam unidade à volta dos seus líderes e alianças internacionais, contra as forças por detrás das sanções.

Infelizmente, as sanções afetam a população e são os cidadãos que pagam o maior preço. Um dos resultados deste tipo de sanções, sobretudo quando são aplicadas sobre ditaduras, é fazer com que estas se tornem ainda mais radicais e conduzam a mais radicalismo. É possível que o mesmo também aconteça no Irão, depois de aplicadas estas últimas sanções. É por isso possível que esta situação tenha como consequência ataques ainda mais duros contra as políticas do regime do Irão no Médio Oriente.

Em conclusão, este bloqueio pode dar origem a novos combates e tensões na plataforma internacional. No campo económico, poderão ocorrer movimentos imprevisíveis nos preços do petróleo, que poderão ter como consequência inflação e recessão em muitos países.

Esta foi a opinião sobre este assunto do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Karatekin



Notícias relacionadas