Islamofobia: o processo contra a NSU e o crescente racismo na Europa

O racismo e a islamofobia estão a crescer cada vez mais no governo e na sociedade alemã, que disse que iria tirar lições do que se passou com a organização terrorista NSU. A análise de Can Acun, investigador da Fundação SETA.

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Islamofobia: o processo contra a NSU e o crescente racismo na Europa

Apesar do processo contra a célula Neonazi de Resistência Nacional Socialista (NSU) ter chegado ao fim, após um processo judicial de 5 anos, ainda continuam a existir incertezas acerca deste caso. O racismo e a islamofobia estão a crescer cada vez mais no governo e na sociedade alemã, que disse que iria tirar lições do que se passou com a organização terrorista NSU.

Chegou ao fim o processo contra o grupo terrorista NSU, acusado de matar 10 pessoas – 8 das quais eram turcas – atacar bancos e realizar ataques à bomba na Alemanha.

A Audiência Territorial de Munique ditou uma sentença de prisão perpétua a Beate Zschape, a única elemento ainda viva deste grupo Neonazi. Foram também condenados a penas de prisão os outros 4 acusados pelos seus vínculos ao grupo NSU.

Já a seguir, apresentamos a análise sobre tema de Can Acun, investigador da Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais (SETA).

A Procuradoria e as forças de segurança alemãs disseram que o grupo terrorista NSU era composto por apenas 3 pessoas. Para além de Beate Zschape, os outros dois membros da NSU eram Uwe Bohnhard e Uwe Mundlos, que foram encontrados mortos no dia 4 de novembro de 2 011, numa caravana onde estavam escondidos da polícia. O facto da sua morte ter sido indicada como suicídio, fez levantar algumas dúvidas.

A principal acusada no processo contra a NSU, Beate Zschape, entregou-se à polícia alguns dias depois de pegar fogo à célula que até aí era usada pelos membros da NSU. E no final, chegou-se à conclusão de que a NSU tinha relações com o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição. Estes dois casos, fizeram crescer as dúvidas sobre se algumas partes do processo não terão ficado ocultas.

Uma das situações que levanta mais dúvidas em particular, é a destruição de 130 informações sobre a NSU, compiladas pelo Gabinete Federal para a Proteção da Constituição - o serviço secreto de recolha de informações internas da Alemanha – que garantiu que nunca poderiam ter sido mostradas ao público todas as realidades por detrás deste grupo terrorista. Nas realidade, os advogados envolvidos no processo acreditam que a organização terrorista NSU é composta por 3 pessoas.

Apesar do processo contra a NSU ter chegado ao fim, não foi possível encontrar a resposta para esta questão crítica: O que sabe realmente o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição sobre a NSU?

Depois dos assassinatos cometidos pelo grupo terrorista NSU, os serviços de segurança alemães começaram por duvidar dos familiares das vítimas, e recusaram a hipótese de se tratar de um assassinato com motivações racistas. Os meios de comunicação alemães descreveram estes crimes como os “assassinatos dos döner”, antes de ser tornado conhecido o envolvimento da organização terrorista NSU.

Pelo facto das unidades de segurança alemãs terem ignorado todos os dados recolhidos pelos serviços secretos, e terem recusado a hipótese dos crimes terem sido cometidos por uma organização terrorista racista, o grupo terrorista NSU continuou a cometer assassinatos durante muitos anos e um total de 10 pessoas perderam a vida.

O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o maior símbolo do crescimento do racismo e da islamofobia na Alemanha, é atualmente o segundo maior partido na Alemanha e tem grande apoio na política alemã. Podemos por isso dizer que o racismo e a islamofobia estão agora representados na política e na sociedade alemã, depois da AfD ter passado a ser o segundo maior partido do país. A xenofobia e a islamofobia, que já existiam na sociedade há muito tempo, tornaram-se agora uma realidade visível com a AfD.

No entanto, não é apenas a visibilidade da AfD mas também as declarações e atitudes de xenofobia e islamofobia dos Democratas Cristãos – que adotam uma postura semelhante à da AfD – e que fazem parte da coligação governamental na Alemanha. Desde a II Guerra Mundial, nunca o racismo e a hostilidade contra uma religião permanente, cresceram tanto na sociedade alemã.

A seleção nacional alemã é outro indício importante, que permite observar a transformação na sociedade alemã. A seleção nacional da Alemanha, campeã mundial em 2 014, era vista como um exemplo de sucesso de integração e da sociedade multicultural desde há muitos anos. Muitos futebolistas com origens distintas, como Mesut Özil, İlkay Gündoğan, Sami Khedira, Lukas Podolski ou Jerome Boateng, jogaram na seleção alemã.

O primeiro escândalo aconteceu quando Alexander Gauland - o líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) – disse que “as pessoas não querem ter Boateng como seu vizinho”.

O segundo grande escândalo aconteceu por causa da foto de Mesut Özil e İlkay Gündoğan junto ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante um encontro em Inglaterra. Na Alemanha, diz-se que o responsável pela eliminação prematura da seleção alemã no Mundial da Rússia, foi a foto de Mesut Özil com Erdogan.

Esta foi a análise sobre este tema de Can Acun, investigador da Fundação de Estudos Políticos, Económicos e Sociais (SETA)



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