Que tipo de posicionamento “sobre” o ocidente?

Em quase todas as sociedades não ocidentais, desde há 2 séculos que acontece um processo de mais ou menos ocidentalização. A análise do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara.

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Que tipo de posicionamento “sobre” o ocidente?

Perspetiva Global 30

Em quase todas as sociedades não ocidentais, desde há 2 séculos que acontece um processo de mais ou menos ocidentalização. Esta situação decorre essencialmente do caráter dominante da civilização ocidental. As sociedades que saem derrotadas da sua luta contra o Ocidente, entram num processo de ocidentalização, a um ritmo indicado como sendo uma solução.

O motivo pelo qual os países não ocidentais são derrotados pelo Ocidente, não tem apenas que ver com os desenvolvimentos no Ocidente. Talvez a principal razão por detrás da situação atual, seja o facto das sociedades ocidentalizadas não terem conseguido reproduzir a sua própria história, as suas tradições, cultura e civilização, de acordo com as necessidades da nossa época. E também porque estas sociedades não foram capazes de eliminar as ameaças que encontram no seu caminho. Para manterem a sua presença ao longo dos próximos séculos, estas sociedades devem fazer uma busca pelo seu próprio caminho, com base numa perspetiva ontológica e num conceito epistemológico.

Sem dúvida, a procura destas sociedades vai continuar. Mas a vida continua. Não se pode dizer que as sociedades não ocidentais “começam por se renovar e a seguir estabelecem relações com o Ocidente”. Por um lado, continuam os seus esforços, mas por outro têm que manter as suas relações com o leste, o oeste, o norte e o sul. Pode acontecer que estas sociedades não ocidentais estabeleçam relações com o exterior sem clarificar a sua postura ontológica.

As grandes civilizações, como a civilização islâmica, não são civilizações recentes ou desgarradas. Têm as suas próprias frequências fundamentais, graças às suas experiências de muitos séculos, e pelo facto de serem um farol na sua convivência com muitas sociedades diferentes. Estes faróis permitem iluminar e trazer soluções para os problemas com que se deparam atualmente. Além disso, a chegada do islão enquanto religião não aconteceu por completo, mas sim de uma forma independente às situações com que nos enfrentamos na vida.

Que tipo de posição irão oferecer as sociedades não ocidentais ao Ocidente, enquanto continuam os seus esforços para reproduzir de forma mais versátil as suas próprias raízes? A resposta a esta pergunta também era importante ontem, mas hoje em dia é ainda mais importante.

O impacto do Ocidente aumentou ainda mais em todo o mundo nos últimos dois séculos. O mais importante, é que dezenas de milhões de pessoas das sociedades não ocidentais, vivem atualmente no Ocidente. É muito importante a relação que estas pessoas vão estabelecer com as sociedades ocidentais e com essa região.

O anti-ocidentalismo é muito comum nas pessoas de sociedades não ocidentais que vivem no Ocidente, devido às políticas ocidentais de ocupação e de assimilação. Podemos compreender o sentimento de oposição, das pessoas que sofrem os impactos das políticas de ocupação e de assimilação do Ocidente. No entanto, por vezes este sentimento de oposição não se limita apenas ao Ocidente, mas também a todas as áreas das suas vidas. As abordagens como o anti-ocidentalismo, o anti-modernismo, os movimentos contra o capitalismo e contra a globalização, estão presentes em toda a parte.

O sentimento de oposição por vezes é tanto, que acaba por dar força àquilo a que se opõem. É possível dar força ao modernismo, à globalização, ao ocidentalismo, ao sionismo e a uma força divina que rodeia todos os aspetos da vida. Sem dúvida, há muitos elementos que se devem opôr ao Ocidente e à sua civilização. O que não está certo, é fazer oposição não com base numa avaliação feita com base na autoconfiança, mas sim na oposição massiva. Pode ser relaxante para as pessoas atribuir uma força divina a toda a sua oposição, num contexto de sentimentos como o desespero, a frustração e os esmagamento. Pode ser atrativo para as massas, e em particular para os jovens. Podem derrotar-se muitas coisas através da oposição. Mas não se criará nada com base em fundamentos peculiares, como a simples oposição a algo.

O facto de uma pessoa se descrever a si própria, e de descrever a sua ideologia e a sua postura através da oposição, significa que a sua oposição a descreve a ela. Isto porque alguém que se descreva a si próprio através de uma oposição, já se rendeu àquilo contra o qual luta.

Como contribuirá o posicionamento através de uma oposição, mais do que aprofundar o cerco e tirar a vida, a terra e a verdade? O posicionamento apenas através da oposição, de facto aprofunda ainda mais o imobilismo e o desespero, pois elimina as oportunidades que o individuo se coloca a si mesmo. Este tipo de oposição contribui fortemente para reforçar aqueles contra os quais se opõem.

A relação entre os Cruzados e os Hashashin (Assassinos), e a relação entre as tendências radicais e certas organizações internacionais de serviços secretos, são alguns dos exemplos concretos desta situação. No entanto, aquilo de que precisamos hoje é de reprimir as questões com autoconfiança, em vez de aprofundar o ponto morto que nos rodeia e de fazer oposição e recusar a psicologia de derrota. Por isso, devem-se estabelecer relações com todas as partes com um sentido comum e com autoconfiança, sem cair na armadilha da oposição, da luxúria de expressão, das belezas retóricas e dos grunhidos intelectuais.

Considerando esta questão desta forma, devemos começar por colocar a pergunta: “Que tipo de posicionamento “sobre” o Ocidente?”, em vez de “contra o Ocidente”. Porque a expressão anti-ocidentalismo significa uma oposição ao princípio do assunto. Todos os tipos de posicionamento baseados na oposição, só nos vão desviar. E além disso, irão terminar numa rendição face àquilo contra o qual nos opomos. Por outro lado, a procura por um posicionamento contra o Ocidente, será sempre uma posição em que o Ocidente está no centro. Mas as sociedades não ocidentais devem adotar uma posição baseada nas suas próprias crenças, culturas e civilizações. Para nós, o islão e a sua civilização, bem como a nossa cultura e a nossa história, devem estar no centro do nosso ponto de vista.

“Que tipo de ponto de vista ou que tipo de posicionamento temos que adotar sobre o Ocidente, tendo por base as condições atuais?

Este não é na verdade um debate novo, é um debate com um passado muito para além de dois séculos. À luz destas experiências, continuaremos a dar as nossas opiniões.

Esta foi a opinião sobre este tema do Prof. Dr. Kudret Bulbul, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Yildirim Beyazit, em Ancara



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