O alcance da NATO na América Latina

O aprofundar das relações entre a NATO e a Colômbia, incomodou fortemente a Venezuela e o Equador. A análise de Mehmet Ozkan, Doutor Associado e académico da Academia de Polícia da Turquia, e coordenador para a América Latina da TIKA.

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O alcance da NATO na América Latina

O sistema mundial está em mudança e transformação. De acordo com os intelectuais pró ocidentais e líderes de opinião na América Latina, como Jorge Costenada, os valores ocidentais estão sob ataque tanto do oriente como do próprio ocidente. A subida da extrema direita no mundo ocidental, o Brexit, Trump e muitas outras situações semelhantes, são vistos como um ataque contra os valores ocidentais, olhados como valores universais.

No Oriente, as procuras alternativas dos muçulmanos, os grupos radicais e as insatisfações, são vistos nos Estados Unidos a partir de um ponto de vista centralista. E recentemente, esta passou também a ser a ideia principal que se difunde na América Latina. A força recentemente obtida pela direita na América Latina em particular, torna ainda mais forte este ponto de vista. Mas será possível regressar novamente à hegemonia ocidental no continente? E em caso afirmativo, como poderá isso acontecer?

Os esforços para o regresso do mundo ocidental à América Latina, aumentaram rapidamente nos últimos tempos. Para o Ocidente, que registou grandes fracassos noutros locais, a América Latina é o único local onde ainda pode manter a sua presença. Na Ásia, o país dominante natural é a China, e por esta razão já não é um continente que possa ser dominado, mas sim uma região onde apenas é possível beneficiar de oportunidades.

Mas a América Latina é mais do que apenas uma região onde apenas se pode beneficiar de oportunidades. É precisamente por esta razão, que o processo de paz na Colômbia, que avança devagar, é tão importante para os ocidentais.

A NATO está a ser o instrumento que mais recentemente avançou, para concretizar o seu desejo de implementar a hegemonia ocidental na América Latina. No dia 16 de dezembro de 2 016, foi assinado um acordo de colaboração entre a Colômbia e a NATO, para avançar com a colaboração entre as duas partes a partir de maio de 2 018. E agora, a Colômbia acabou de anunciar que é um parceiro global da NATO.

A decisão colombiana de colaboração com a NATO, foi apresentada por muitas pessoas como sendo um apoio ao processo de paz. Mas na verdade, esta situação tem outras implicações. O exército da Colômbia tem naturalmente relações muito próximas com os Estados Unidos. E agora, através da NATO, terá pela primeira vez um mecanismo mais eficaz no continente, que vai para além da Europa e da doutrina de Monroe.

O aprofundar das relações entre a NATO e a Colômbia, incomodou fortemente a Venezuela e o Equador. Nos últimos tempos, e num período em que a China aumentou a sua presença no continente, pode surgir uma nova área de competição entre o Ocidente e a China. O início da colaboração entre a NATO e a Colômbia, também permite aos Estados Unidos estarem mais relaxados. Desde há anos que a Colômbia quer comprar aviões F-16 americanos. Por motivos desconhecidos, os Estados Unidos têm até agora recusado vender estes aparelhos ao seu aliado mais próximo no continente. Os Estados Unidos temem provavelmente que esta venda pudesse dar origem a uma corrida ao armamento na região, mas por outro lado não querem perder a oportunidade de vender os F-16.

Ainda que faça sentido comentar o interesse da NATO pela América Latina como parte do contexto da guerra fria, esta análise será insuficiente. Neste novo processo, e quando está totalmente em causa a missão da NATO e se procura um novo sentido para a organização, esta abre-se a si mesma a novas regiões através destas abordagens. Naturalmente, isto não significa que a NATO irá ter, a curto prazo, uma missão diferente. Mas a NATO está a globalizar-se em termos da sua área de atuação.

Numa altura em que o sistema global se está a reestruturar e em que todos discutem novamente uma nova Conferência de Yalta, a missão da NATO deve ser redefinida como sendo de uma força militar internacional. Talvez possa até ser redefinida como o braço militar da ONU. Quando olhamos para o longo prazo, e ao constatar que a hegemonia do Ocidente sobre o mundo está em declínio, não se pode olhar para estas organizações mudando apenas a sua missão.

Enquanto a NATO se torna motivo de discussão no continente, para a população esta discussão não faz sentido. A maioria das pessoas ainda não sabe de nada. Quando há mudanças nos militares da Colômbia, é preciso criar novos mecanismos de controlo. Os militares encabeçam atualmente a lista de instituições com mais prestígio junto do povo colombiano. Os militares agem como se tivessem vencido uma guerra, e adotam uma postura populista na medida do possível. Esta situação irá influir seriamente no futuro na posição do exército do país, e pode dar azo a novos golpes a médio e longo prazo.

Pode ser muito problemática a tendência no sentido de, no futuro,  o exército servir de ponte com o povo em nome do estado, tanto a nível interno, como ao nível externo através da NATO. E até pode dar abertura a uma cultura de golpes, num país onde nunca antes houve golpes. Por isso, a associação com a NATO pode abrir uma nova frente de poder e redundar numa integração diferente dos militares no sistema global. É preciso seguir de muito perto a situação surgida recentemente no exército na América Latina.

Esta foi a opinião sobre este assunto de Mehmet Ozkan, Doutor Associado e académico da Academia de Polícia da Turquia, e coordenador para a América Latina da Agência de Cooperação e Coordenação da Turquia (TIKA)



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