Por quem tocarão os sinos?

O conceito de combatente terrorista estrangeiro foi revisto depois do crescimento explosivo do DAESH na Síria e no Iraque, em 2 014. A análise do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Ancara.

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Por quem tocarão os sinos?

Os terroristas estrangeiros que participaram na guerra civil da Síria, chegando de várias partes do mundo, estiveram na base de muitos problemas até agora. Mas parece que o maior problema será para a Europa e para Estados Unidos. No programa desta semana, vamos analisar a questão dos terroristas estrangeiros do PKK/YPG e os possíveis riscos desta situação. Já a seguir, apresentamos a análise sobre este assunto do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Ancara.

Estou absolutamente seguro que os nossos leitores leram a obra “Por quem tocam os sinos?”, do famoso escritor Ernest Hemingway. Como se recordam, nesta obra de sucesso a situação era descrita através dos olhos de um professor de espanhol, de origem norte-americana, que cumpria a missão de perito em explosivos durante a guerra civil espanhola. Por este motivo, Hemingway conta na sua famosa obra a história de um combatente estrangeiro. Depois do que se passou em Espanha, continuou a existir um fluxo de combatentes estrangeiros para várias regiões do mundo. Depois do que se verificou na Síria e no Iraque, e a partir deste conceito, surgiu um novo: o de combatente terrorista estrangeiro.

O conceito de combatente terrorista estrangeiro foi revisto depois do crescimento explosivo do DAESH na Síria e no Iraque, em 2 014. O convite do DAESH feito aos seus simpatizantes em todas as partes do mundo, para que viessem combater nas zonas por si controladas, esteve na base da Resolução 2 178 do Conselho de Segurança da ONU, de 24 de setembro de 2 014, intitulada “Combatentes Terroristas Estrangeiros”.

O ponto de vista sobre esta questão dos países do Ocidente, é que o conceito de combatente terrorista estrangeiro representa uma ameaça, pois estes combatentes terroristas estrangeiros deverão regressar aos seus países depois de terminado o conflito. Por esta razão, o foco ocidental está na sua participação em estruturas como a organização terrorista DAESH. Mas é dada pouca atenção à participação em organizações terroristas como o PKK/YPG ou nas milícias cristãs. Esta abordagem também foi refletida nas resoluções 2 170 e 2 178 da ONU, em que o conceito de Combatente Terrorista Estrangeiro foi definido com base na participação em organizações vinculadas ao DAESH e à Al Qaeda.

Depois do DAESH ter aumentado a sua dimensão na Síria a partir de 2 014, juntaram-se à organização terrorista PKK/YPG muitos combatentes terroristas estrangeiros oriundos de muitos países. Mas os países ocidentais não se interessaram minimamente por este assunto. Esta questão foi abordada como tratando-se de combatentes voluntários ou como legionários. Não foram tomadas quaisquer medidas sobre os europeus e ocidentais que participaram na organização terrorista PKK/YPG.

Em 2 014, a organização terrorista PKK/YPG começou a enviar convites através da internet e das redes sociais aos combatentes estrangeiros, para que se juntassem à sua guerra contra o DAESH. Quase 1 200 combatentes terroristas estrangeiros oriundos do Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Alemanha, Dinamarca, Grécia, Finlândia, França e até da China, participaram na organização terrorista PKK/YPG.

Atualmente, e para a organização terrorista PKK, a criação de um estado tornou-se num meio para expandir o socialismo internacional. Vemos que os projetos como a “autonomia democrática”, que não tem qualquer relação com as práticas do PKK mas que é mantido como tópico da agenda com expressões ostentativas, servem de inspiração aos movimentos de esquerda na Europa e nos Estados Unidos.

Neste momento, existem na organização terrorista PKK/YPG centenas de terroristas radicais de esquerda, que regressarão aos seus países no Ocidente com opiniões radicais, formação em várias armas, experiências de violência e ligações a crimes. Sabemos que o PKK tem vínculos históricos e ligações com os grupos de esquerda radical na Europa. Por este motivo, os combatentes terroristas estrangeiros representam uma grande ameaça para a segurança do Ocidente e para a ordem internacional, quando regressarem aos seus países de origem.

A justificação básica para o apoio do Ocidente à organização terrorista PKK/YPG, é o facto do PKK/YPG ser “secular”. Mas há aqui um erro. Porque o secularismo do PKK/YPG não inclui qualquer consideração democrática nem tem nada a ver com o secularismo moderno ocidental. O PKK/YPG segue o conceito de secularismo do Politburo Soviético e do Partido Comunista da China. Por isso, o secularismo do PKK/YPG na questão da reconstrução da Síria, nunca se irá transformar em liberalismo económico e político. Atualmente, os modelos de produção económica e a estrutura socio-política implementada pela organização terrorista PKK/YPG, nos territórios sob seu controlo, correspondem ao conceito maoísta dos “comuns”.

Será um grande erro esperar que surja uma “zona de abordagem ocidental” em Sinjar, um território sob o controlo do PKK/YPG. Nesta região nunca haverá uma economia de mercado livre, individualismo, liberdade de expressão e de pensamento, nem espírito empreendedor liberal. Isto porque o PKK/YPG sonha com uma utopia “comunal” e define-se a si mesmo através dos conceitos de Neo-Maoísta e Neo-Estalinista.

Muitos observadores ocidentais (incluindo nomes que sentem simpatia pela organização terrorista PKK) e peritos (apesar de todos os postulados em contrário), não estão convencidos acerca da mudança do PKK: “A experiência de Rojava” não chegou a novos resultados, limitou-se a repetir a tradição de “Partido Líder Leninista” e do “Culto de Líder Estalinista” da organização terrorista PKK.

Haverá alguma garantia de que os terroristas estrangeiros no seio do PKK/YPG não irão desenvolver quaisquer atividades terroristas contra outros países no futuro? Da mesma forma, estas pessoas conhecidas pela sua identidade Estalinista-Leninista, quando regressarem ao Ocidente, podem representar uma ameaça terrorista contra algum grupo que considerem divergir das suas próprias opiniões. Estes terroristas estrangeiros, quando voltarem aos Estados Unidos e à Europa, levarão consigo a sua experiência de combate, a educação que receberam da organização terrorista e o seu radicalismo.

Sozinhos ou juntamente com outros grupos radicais de esquerda, serão uma séria ameaça para os Estados Unidos e para a Europa. As suas experiências na Síria vão radicalizar ainda mais os grupos nos Estados Unidos e na Europa, e influenciarão as suas formas de atividade. Irá também aumentar a forma e o conteúdo da violência que usam. Em vez de coquetéis molotov, irão provavelmente passar a usar explosivos artesanais.

Por conseguinte, ao ceder a zona norte da Síria aos combatentes terroristas estrangeiros, e ao dar-lhes a oportunidade para aumentarem as suas competências e atividades, a Europa e o Ocidente estão a correr um grande risco no Médio e Longo Prazo. O Ocidente deve tomar medidas a este respeito e cortar o seu apoio ao PKK/YPG. Caso contrário, os seus cidadãos que hoje combatem ao lado da organização terrorista PKK/YPG, um dia voltarão ao território dos Estados Unidos e da Europa numa versão do tipo “Anders Behring Breivik”. E nesse dia, temo que os sinos tocarão pelo Ocidente.

Esta foi a análise sobre esta questão do Dr. Cemil Dogaç Ipek, catedrático do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Ancara



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