E se os EUA quiserem regressar novamente à América Latina?

A América Latina vive uma transformação muito séria. A análise de Mehmet Ozkan.

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E se os EUA quiserem regressar novamente à América Latina?

O secretário de estado americano, Rex Tillerson, passou a primeira semana de fevereiro em visita aos países da América Latina. Esta visita de Tillerson deve ser vista como um esforço para desenvolver uma política para a América Latina, pela primeira vez desde a chegada de Trump ao poder. Como pode ser analisada esta visita de Tillerson, numa altura em que o continente se abre a novos horizontes? Os países latino-americanos vivem uma séria transformação, desde os problemas internos da Venezuela até à atmosfera eleitoral no continente. E se os EUA quiserem regressar novamente à América Latina, de acordo com a doutrina Monroe de 1 837?

O secretário de estado americano, Rex Tillerson, durante a sua passagem pela América Latina visitou o México, a Argentina, o Peru, a Colômbia e a Jamaica. As relações entre os Estados Unidos e a América Latina entraram num período de esperar para ver, com a construção do muro na fronteira mexicana e da adoção de posições contra Trump. Registou-se uma séria reação contra a administração Trump em todo o continente, devido às políticas migratórias.

Apesar da perda de influência da esquerda contra o Ocidente na América Latina, também a direita do continente tem sérias dúvidas em relação a Trump. As antigas alianças naturais, pouco a pouco dão lugar a dúvidas. A visita de Tillerson, serviu antes de mais para desenvolver uma nova perceção e criar relações com base em antigas plataformas.

Outra questão atual nas relações entre as duas partes, é a Venezuela. Os Estados Unidos, que se colocam bem ao lado de grupos como o Lima e que atuam em conjunto com a América Latina acerca da Venezuela, não sabem o que fazer na questão venezuelana. Nos primeiros meses do seu mandato, Trump falou da possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela. Mas todos os países latino-americanos recusaram esta possibilidade. Trump baixou parcialmente o tom sobre esta questão, e com a visita de Tillerson aconteceu pela primeira vez uma séria troca de opiniões entre o norte e o sul do continente, acerca da Venezuela. Quando olhamos de forma geral, os países da América Latina também dificultam o desenvolvimento de uma política para a Venezuela. Não foi proposta nenhuma opção concreta, exceto o reafirmar da oposição contra Nicolás Maduro e a acusação de que o regime em Caracas é uma ditadura. Até hoje, e mesmo com a visita de Tillerson, não surgiu nenhuma posição clara sobre a Venezuela. Mas pelo menos os Estados Unidos já parecem considerar opções que renunciam à via militar.

Durante a visita de Tillerson e de forma interessante, o secretário de estado americano falou numa tomada de posição conjunta, ao falar sobre a doutrina de Monroe. Para aqueles que conhecem a história do continente, em resumo esta doutrina defende a ideia de que a América pertence aos americanos, e impediu uma onda de colonização europeia que poderia ter surgido na América Latina em 1 837. A partir desse momento, os Estados Unidos começaram a proteger a América Latina como se fosse o quintal da sua casa. Mas hoje em dia, as condições claramente mudaram.

A América Latina tem relações muito estreitas com a China, a Rússia e a Índia. Em particular a China – que tem uma relação especial com o Equador - aumenta cada vez mais a sua presença económica nos países da América Latina. Tillerson, ao longo da sua viagem, deixou um aviso particular aos países latino-americanos para que tenham cuidado com a Rússia. Tillerson salientou sobretudo que a Rússia pode interferir nos atos eleitorais no continente e deixou avisos sobre esta questão. Para a maioria dos habitantes da América Latina, os russos não são vistos como uma ameaça que possa interferir nas eleições. Mas o aviso de Tillerson sobre a Rússia tem como base o receio de que a Rússia possa vir a aumentar a sua influência no continente a médio prazo.

A Rússia está rapidamente a preencher o espaço deixado vago pelos Estados Unidos, devido às suas políticas erradas na Ásia Central e no Médio Oriente. Washington teme que a América Latina possa vir a ser o seu próximo pesadelo. A Rússia tem uma séria influência na Venezuela e segue uma política de regresso à América Latina. Em 2 017, a Rússia organizou uma Cimeira da Rússia e da América Latina, e dessa forma tornou-se novamente um ator no continente. Nesta cimeira participaram ex-presidentes, académicos e muita gente de diferentes setores.

A América Latina vive uma séria transformação. Ao longo dos próximos 14 anos haverá eleições em mais de 10 países. Haverá eleições em países chave como a Colômbia, a Venezuela, o México e o Brasil. E o que é mais interessante, é que ninguém é capaz de adivinhar quem irá vencer estas eleições. Em muitos países, o número de candidatos é muito elevado e todos têm as mesmas oportunidades. Esta situação mostra de forma clara que do ponto de vista político, irá começar um novo processo.

Desde a chegada ao poder de Hugo Chávez em 1 999, a esquerda do continente começou a suavizar-se. A política ambígua da direita e das oligarquias da década de 90, já não tem espaço de manobra. A política de esquerda, com a sua experiência, transformou a política de direita e orientou-a para áreas mais sociais. Da mesma forma, a experiência da esquerda na política não conseguiu fazer as grandes mudanças como prometia. Por isso, os latinos têm uma grande esperança nestas eleições, que podem acabar com o estilo da política clássica e dar origem a uma nova onda de populismo. Mas a cada etapa, o povo da América Latina deseja menos conflitos e mais prosperidade económica. Os seus pontos de vista são agora menos ideológicos e mais pragmáticos, e focados nos resultados.

A visita de Tillerson ao continente durante um processo de transformação, serviu para tentar uma aproximação. Mas até agora, os Estados Unidos não conseguiram passar uma imagem de velho amigo confiável, porque não se confia em Trump. À medida que o continente se transforma, devem ser reestabelecidas as relações. A vontade dos novos líderes deixará a sua marca no novo relacionamento com os Estados Unidos, que deverá ser redefinido ao longo dos próximos 10 anos. Deixou de ser óbvio o aspeto visível sobre esta questão.

Esta foi a opinião sobre este assunto do Doutor Associado Mehmet Ozkan, membro do corpo académico da Academia de Polícia e coordenador para a América Latina da Agência para a Cooperação e Coordenação da Turquia (TIKA)



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