Em direção a um ponto de rutura em Idlib

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de Relações Internacionais na Universidade Ataturk.

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Em direção a um ponto de rutura em Idlib

As explicações de certos atores na crise síria acerca de Idlib, e os conflitos que aí se produzem desde há algum tempo, fizeram com que se passasse a ter um olhar diferente sobre o que se passa nesta zona da Síria. No programa desta semana, vamos analisar os desenvolvimentos em Idlib e o seu impacto na região.

Os conflitos entre os grupos da oposição em idlib e os artigos publicados na imprensa sobre uma eventual operação militar da Turquia em Idlib, bem como as explicações dos responsáveis americanos acerca deste assunto, fizeram com que os olhos se virassem para Idlib. Os conflitos entre os grupos da oposição em Idlib assentam em 3 motivos: o primeiro tem que ver com o facto desta cidade ser o último bastião da oposição na Síria, e como tal todos os grupos opositores do regime querem dominar esta cidade. O segundo motivo tem que ver com a perceção de ameaça que representam certos grupos da oposição, na sequência das negociações de paz em Astana. E finalmente, esta região reveste-se de uma importância vital em termos do controlo e gestão dos recursos existentes, na sequência da redução das ajudas externas.

O processo de Astana representou um avanço importante para Idlib. Desde janeiro, existe uma estrutura tripartida em Idlib composta pela Hayat Tahrir al Cham, que rompeu as suas ligações com a Al Nusra. A Ahrar al Sham e o Exército Livre Sírio (ELS) foram restruturados. A Hayat Tahrir al Cham e a Tahrir já eram atores poderosos na região. Para além destes dois, há também o Exército Livre Sírio que integrou novas formações e que liderou os grupos presentes em Astana. Apesar do ELS ser fraco em termos do número de soldados de que dispõe, esta formação é apoiada pela Turquia e por algumas potências regionais. A notícia de que o Exército Livre Sírio passou a ser considerado como uma das peças principais do “Projeto de Exército Nacional” constituído por forças da oposição, tem como objetivo eliminar a Al Qaeda em Idlib. Este objetivo é também importante para a Turquia, pois se a Hayat Tahrir al Cham conseguir controlar totalmente Idlib, esta estrutura com ligações à Al Qaeda passará a ser a única força em Idlib, uma região junto da fronteira com a Turquia. Esta situação poderá constituir uma ameaça para a política turca na Síria e para a segurança interna da Turquia.  

A declaração sobre Idlib, feita pelo emissário especial dos Estados Unidos contra o DAESH, Brett McGurk, é importante neste contexto. Segundo McGurk, Idlib tornou-se num local de refúgio para a Al Qaeda e os Estados Unidos estão concentrados em combater esta ameaça. Estas explicações mostram que Idlib irá ser o alvo de uma nova operação. No estado atual, o primeiro cenário que nos ocorre será o da aplicação em Idlib da mesma fórmula usada em Raqqa. Ou seja, a organização de uma operação conjunta com o PKK/YPG. Este cenário impedirá a intervenção da Turquia em Afrin e permitirá alargar o campo de influência do YPG, ao mesmo tempo que trará toda esta região da Síria para o campo de influência dos Estados Unidos. Se os Estados Unidos levarem a cabo uma operação destas com o PKK/PYD, os seus principais objetivos serão a destruição da cintura de segurança que a Turquia tenta criar ao longo da sua fronteira, impedir a presença de uma estrutura de oposição moderada a oeste do Eufrates, perturbar a base russa em Meymimm, e garantir que o YPG ultrapassa o bloqueio em Afrin. Será difícil para a Turquia e pera a Rússia aceitarem esta operação.

Uma outra dimensão da questão de Idlib, tem que ver com a crise do Golfo Pérsico. A Arábia Saudita e os seus aliados que começaram uma operação de bloqueio contra o Qatar, querem reduzir o campo de influência do Qatar na Síria. É publicamente conhecido, que os ficheiros de áudio publicados em julho pelos principais quadros da Hayat al Cham, durante os conflitos em Idlib, refletem os discursos e a agenda da Arábia Saudita e dos seus aliados.

O porta voz da presidência turca, Ibrahim Kalin, indicou que soldados turcos e russos poderão ser enviados para Idlib. O possível envio de soldados de diferentes países com o estatuto de observadores nas zonas de cessar fogo, já tinha antes sido decido. Sabemos também que a Rússia exige desde o início uma luta cerrada contra as formações a favor da Al Qaeda em Idlib.

Com o objetivo de tomar medidas contra esta crise que se aproxima em Idlib, a cooperação entre a Turquia e a Rússia é essencial e estes dois países devem proteger a iniciativa que fez nascer as zonas de cessar fogo. No momento atual, os grupos da oposição moderada síria apoiados pela Turquia, têm grandes responsabilidades.

A operação Escudo do Eufrates que a Turquia levou a cabo contra os grupos terroristas, e em particular contra o DAESH, teve importantes consequências. A Turquia cortou o corredor do PKK/YPG ao longo da sua fronteira sul, para aí instalar a oposição moderada. Ao tomar o controlo de uma região importante a oeste do Rio Eufrates – com a exceção de Manbij – a Turquia garantiu a segurança das suas fronteiras.

Com a operação executada em Afrin, a Turquia pode definitivamente eliminar a ligação entre o regime de Assad e o eventual ponto de chegada deste corredor, bem como da zona controlada pelos Estados Unidos e pelo PKK/YPG. Se o controlo da Turquia e da oposição moderada for inteiramente implementado em Idlib, os sonhos do PKK/YPG de criar um corredor, os planos para excluir a Turquia da Síria, e os esforços para romper a ligação da Turquia com o mundo árabe, serão impedidos.



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