Será Afrin o novo objetivo na luta contra o terrorismo?

A análise de Cemil Dogaç Ipek, investigador de Relações Internacionais na Universidade Ataturk.

774188
Será Afrin o novo objetivo na luta contra o terrorismo?

Nos últimos tempos, há toda uma atividade militar na fronteira sul da Turquia e na região onde teve lugar a operação Escudo do Eufrates. Isto leva-nos a colocar a seguinte questão: Será Afrin o novo objetivo na luta contra o terrorismo?

A operação Escudo do Eufrates foi executada com sucesso, mas ainda continuam a existir algumas bolsas de terrorismo no norte da Síria. O facto de naquela zona existirem atividades das forças armadas da Turquia e do Exército Livre Sírio, perto de Afrin, faz-nos pensar que poderá eventualmente ser executada uma operação na região. Afrin tem uma população de cerca de 200 mil habitantes, composta por curdos, turcomenos e árabes, que foram obrigados a emigrar para a Turquia por causa da pressão da organização terrorista PKK. Afrin tornou-se num local usado como base pelo PKK, e a partir do qual são enviados terroristas e bombistas suicidas contra a Turquia, e onde se treinam terroristas nas montanhas de Amanos. A cidade de Azaz, a sul de Kilis, é frequentemente um alvo dos tiros do PKK/YPG. Esta situação impede também o regresso dos sírios à sua região. Para a Turquia, que deseja criar um corredor de segurança na região, Afrin é uma questão que tem que ser resolvida.

Em contrapartida, a organização terrorista PKK/YPG ameaçou levar a cabo novos atos terroristas na Turquia, caso fosse dado início a uma nova operação. Esta ameaça mostra por si só, que aqueles que defendem que o PKK e o PYD/YPG são duas organizações diferentes, estão a mentir. A Turquia não quer que uma outra organização terrorista substitua o DAESH na região. E por isso, a Turquia olha para Afrin como um objetivo estratégico, para impedir a criação de uma eventual zona controlada pelo PKK/YPG a norte da Síria. Afrin é muito importante para a luta contra a organização terrorista PKK e suas afiliadas na Síria. Se Afrin for purgada do PKK, a Turquia cortará a ligação da organização terrorista com os seus territórios, ao longo de uma faixa com 240 kms de extensão.

Obviamente, a abordagem que irão adotar a Rússia e os Estados Unidos será importante, com destaque para a posição da Rússia. Segundos os órgãos de imprensa, são estas as prioridades da Rússia em relação a este assunto: a libertação de Idlib atualmente controlada pela Frente Fath al-Sham; o combate ao YPG que atua em conjunto com os Estados Unidos e a resposta às exigências da Turquia, com a qual a Rússia colabora mais do que os Estados Unidos. Neste sentido, podemos dizer que a Rússia dará o seu aval a uma operação em Tall Rifat. No entanto, quando se põe a questão sobre uma operação mais vasta que inclua também Afrin, a Rússia poderá impor novas condições. Existe uma forte probabilidade da Rússia não renunciar completamente ao YPG. Adicionalmente, as forças militares russas estão atualmente em contato com o YPG em Afrin e nos seus arredores. Contudo, se o YPG se aliar na totalidade ao lado dos Estados Unidos, isso será uma forte mensagem para a Rússia.

Não ficaremos surpreendidos se os Estados Unidos não derem qualquer apoio a esta operação. Obviamente, não sabemos ainda qual será a sua estratégia para impedir esta operação de se realizar. As visitas à Turquia de autoridades americanas, aumentaram ao longo dos últimos anos. Segundo informações veiculadas pela imprensa, os Estados Unidos tentam impedir, por vias diplomáticas, a realização desta operação. Se a Turquia seguir em frente com esta operação, apesar da oposição dos Estados Unidos, a Turquia estará a iniciar uma operação que a coloca frente a frente ao seu aliado, que a deixou sozinha em território sírio, e que ainda por cima, apoia um grupo terrorista. A consequência de tudo isto, será a Turquia encetar pela terceira vez, depois da operação Escudo do Eufrates e da crise do Qatar, uma nova iniciativa que vai contra os planos dos Estados Unidos.

Existem 3 cenários possíveis em relação à operação em Afrin:

  1. Uma operação de envergadura que inclua também Afrin;
  2. Uma operação tendo como objetivo apenas um alvo e um pequeno território;
  3. Esta operação não passar de um plano e não se realizar no futuro próximo.

Obviamente, qualquer uma destas opções é viável. No entanto, e tendo em conta os factos sobre o terreno, os preparativos atuais e os desenvolvimentos na conjuntura internacional, o mais provável é que a segunda opção acabe por se concretizar. Na verdade, a operação poderá não abarcar toda a região de Afrin, mas apenas os locais estratégicos a leste e a norte de Tall Rifat. Contudo, este processo não poderá ser planeado a curto prazo, e poderá fazer parte de um processo bem mais longo e complexo, do que a operação Escudo do Eufrates.

Em resumo, o acordo que a Turquia e a Rússia possam vir a assinar, será o ponto mais crítico de uma eventual operação em Afrin. Se um tal acordo chegar a ver a luz do dia, e se o mesmo for respeitado até a operação ter sucesso, as forças armadas da Turquia e o Exército Livre Sírio poderão executar uma operação com sucesso contra a organização terrorista PKK.



Notícias relacionadas