O maior interesse da Turquia é que a paz se mantenha na sua região

Ancara, com a política que seguiu durante a crise do Qatar, poderá ter atrasado uma possível operação contra o Irão.

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O maior interesse da Turquia é que a paz se mantenha na sua região

Os bombardeiros americanos contra os milicianos do Hashdi Shabi apoiados pelo Irão, o novo derrube de um avião de caça em Tabqa - pertencente ao regime sírio - por parte dos Estados Unidos e a última reação severa da Rússia e do Irão contra estes casos, foram o suficiente para mudar de cima a baixo os equilíbrios que estão prestes a colapsar a qualquer momento. Os Estados Unidos anunciaram que derrubaram o avião sírio devido à aproximação das forças do regime sírio a Tabqa e ao seu bombardeamento contra as forças do PKK-YPG que são aliadas dos Estados Unidos. Esta situação, por um lado enquanto aumenta a luta pelo domínio entre as maiores forças presentes na Síria, por outro lado conduz ao aprofundamento da fragmentação do país e à formação de novos campos de poder entre as forças rivais.

Neste contexto, a reação contra o derrube do avião sírio e a declaração da Rússia de que irá tomar como alvo todos os veículos aéreos que voem a oeste do Eufrates, e ainda o anúncio do fim dos canais de comunicação e de transmissão de informações com os Estados Unidos, mostram que começam a criar-se regiões de poder na Síria. Além disso, um dia depois do caso do avião, o lançamento de mísseis por parte do Irão sob o pretexto de derrotar alvos do DAESH em Deir az-Zor, mostra que Teerão não deixará que a região seja dominada pelos “factos consumados” executados na Síria.

É impossível considerar em separado esta mistura geopolítica que eclodiu na Síria, das lutas de interesses e poderes em todo o Médio Oriente, até aos desenvolvimentos estratégicos. Esta nova situação que surgiu na região, começou a desenvolver-se depois do início da operação de Al Raqqa. A principal questão neste assunto é saber quais serão as potências que irão ocupar os territórios deixados pelo DAESH, depois deste ser expulso de Al Raqqa e da região envolvente.

Neste contexto, os Estados Unidos e os elementos do PKK-YPG e do Exército Livre Sírio – que mantém a guerra em seu nome – consideram que Al Raqqa, Deir az-Zor (na região central e oriental da Síria e que serão em breve abandonadas pelo DAESH), lhes pertencem por direito próprio. A zona de Deir az-Zor em particular, é uma região de lutas táticas e estratégicas para todas as forças que mantém atividade na Síria. Esta região, por um lado é rica em recursos de gás natural e de petróleo, e por outro está situada numa zona estratégica que liga Teerão, Damasco e Bagdade. Por isso, a Rússia, o Irão e o regime sírio – que fazem parte do bloco contrário – querem dominar Deir az-Zor e a sua zona envolvente, enquanto os Estados Unidos estão ocupados com Al Raqqa.

Como indicado acima, desenhar as linhas de fronteira entre as potências com linhas bem definidas, aumentará ainda mais a luta pelo poder na Síria depois da operação em Al Raqqa, bem como a probabilidade de aumentar a dissolução do país. Mas esta probabilidade faz parte dos passos táticos implementados pelos Estados Unidos, para concretizarem a sua estratégia principal. O objetivo mais importante dos Estados Unidos é restabelecer a geografia do Médio Oriente. Por agora, o destaque vai para o maior obstáculo perante este objetivo estratégico de Washington, que é o Irão. A tentativa de reajustar o Qatar com a crise do Golfo e os passos táticos dados recentemente como o projeto de criação de um bloco em conjunto com a Arábia Saudita, foram dados em conjunto no âmbito da estratégia regional dos Estados Unidos.

No que diz respeito à Turquia, Ancara, com a política que seguiu durante a crise do Qatar, poderá ter atrasado uma possível operação contra o Irão. O plano da Turquia no sentido de serem criadas zonas de segurança em conjunto com a Rússia e com o Irão em Idlib, deve ser olhado desde este ponto de vista. Não nos podemos também esquecer de que a exploração de uma crise no Médio Oriente, causará danos maiores e não irá trazer qualquer proveito a nenhum país da região. Por isso, o maior interesse da Turquia é que a paz permaneça. A Turquia assume esta responsabilidade histórica, fazendo esforços diplomáticos tanto em relação à crise do Qatar, como na questão da Síria e em outros assuntos.



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