A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A vitória de Trump e os possíveis reflexos desta vitória sobre o Médio Oriente.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O candidato republicano Donald Trump venceu as eleições presidenciais americanas, que tiveram lugar no dia 8 de novembro. As declarações que ele fez sobre o Médio Oriente durante a sua campanha eleitoral, indicam que ele irá seguir uma política externa fora do normal. Neste contexto, podemos dizer que ele irá introduzir algumas mudanças na política para o Médio Oriente dos Estados Unidos.

A tomada de posição de Trump vai contra a conceção de política externa “liberal” de Obama. Segundo Trump, não é suficiente que os Estados Unidos tenham boas relações com a comunidade internacional. Tão ou mais importante que isso, é o custo dessas relações: “Se as boas relações custam mais do que os seus benefícios, isso significa que há algo que não está bem” – afirmou Trump.

Apesar da presença de alguns extremistas na sua equipa, Trump vai seguir uma política completamente diferente daquela que foi seguida durante a presidência de Bush. Ele opõe-se categoricamente às mudanças de regime, à exportação da democracia e criação de nações. As propostas no que toca aos direitos do homem, já não constam do programa de política externa de Trump. Em cina de tudo isto, ele não vê inconvenientes em apoiar a tortura.

Enquanto nos perguntamos o porquê de Trump ser a favor da tortura, encontramos a “luta contra o terrorismo” como um dos elementos mais importantes da política de Trump para o Médio Oriente.

A tónica colocada sobre a luta contra o terrorismo é importante sob vários pontos de vista. Em primeiro lugar, ela tem como alvo o islão. Consideramos que o terrorismo está associado ao islão na via pública. Não é apenas Trump, mas também outros membros da sua equipa, que são conhecidos pelas suas abordagens islamofóbicas. Sob esta perspetiva, o DAESH, a oposição moderada síria e a Irmandade Muçulmana, são todos considerados como “organizações terroristas”.

Em segundo lugar, esta abordagem limitada sobre o tema do terrorismo, apaziguou os regimes autoritários da região, que estavam sujeitos às pressões externas desde há 20 anos. Neste sentido, um dos primeiros a felicitar Trump pela sua vitória, foi o chefe de estado egípcio Abdel Fatah al-Sisi. Vemos que a administração de Trump não se interessa pelo que se passa no país, desde que o Egito coopere na luta contra o terrorismo.

Em terceiro lugar, a política errada da administração Obama para a região que foi seguida ao longo dos últimos 5 anos, permitiu importantes conquistas a países como a Rússia, o Irão e a formações como as milícias xiitas no Iraque, o PYD ou o Hezbollah. A política de Trump para o Médio Oriente, bem como a sua abordagem em relação ao terrorismo, irão reforçar os ganhos destes países e formações.

Vemos também que Trump coloca no mesmo saco o terrorismo e o radicalismo sunita mundial. Além disso, os seus interesses neste tema convergem com os da Rússia, que tenta legitimar a sua presença na região sob o mesmo pretexto. Desta forma, a administração de Trump deverá oferecer terreno ao governo de Assad na Síria. Ainda e sempre neste contexto, a oposição síria fortemente composta por noções islamitas, tem um aspeto terrorista para Trump. Por tudo isto, Assad deverá ser para Trump “um mal menor”. Por outro lado, como a Rússia é entendida por Trump como sendo um parceiro, ela poderá servir de intermediário entre o regime de Assad e a administração americana.

Não será mentira se dissermos que como Trump olha para Assad como um aliado na luta contra o terrorismo, a questão da “solução sem Assad” para a crise síria, deixará de ser essencial. Contudo, a continuação dos combates traz à atualidade a seguinte questão: “O que acontecerá aos civis forçados a deixar as suas casas?”. A posição de Trump sobre este assunto é de manter estes civis na região, implementando uma zona tampão. O ponto de interesse de Trump, não é garantir a segurança destas pessoas.

Olhando para os muçulmanos como uma ameaça potencial, Trump procura conter o fluxo de refugiados da Síria em direção ao Ocidente. Para os sírios, Trump é a pessoa que lhes fecha as portas da esperança.

Para além dos sírios, os palestinianos serão sem dúvida os mais afetados pela política de Donald Trump em relação ao Médio Oriente. Nas campanhas eleitorais americanas decorridas até agora, Donald Trump foi o candidato que adotou a posição mais fervorosamente a favor de Israel. Será portanto errado esperar a partir de agora que Israel seja forçado por Washington a encontrar uma solução. Trump não fez até agora qualquer crítica em relação à questão dos colonatos. Outra situação que agrava ainda mais esta questão, é o facto de Trump não ver qualquer inconveniente no reconhecido de Jerusalém como a capital do Estado Hebreu.

É também evidente que Trump se opõe ao acordo nuclear alcançado durante a presidência de Obama. Contudo, esta situação não irá provocar uma escalada negativa nas relações com Teerão. Pelo contrário, esta postura irá reforçar a mão dos opositores a este acordo, contra o pragmático Hassan Ruhani e Jawad Zarif – afetando assim a política interna do Irão.

Do ponto de vista da política de Donald Trump para o Médio Oriente, é o Irão quem está numa posição vantajosa. Desde logo, porque é vantajoso para o Irão que Trump associe o sunismo ao terrorismo e também à radicalização, e que esteja aberto a alianças com Assad e com a Rússia. Por outro lado, os iranianos acolheram favoravelmente o facto de Trump acusar a Arábia Saudita de ser demasiado macia para com as organizações radicais, e já ameaçou pôr fim às importações de petróleo saudita. Trump indicou também que poderá renegociar o acordo nuclear, um desenvolvimento que apenas enfraquecerá unicamente a influência dos moderados e pragmáticos no interior do Irão.

Em resumo, a política para o Médio Oriente que deverá ser seguida durante a presidência de Trump, não parece ser uma política que vá resolver os problemas da região, nem mudará radicalmente o equilíbrio atual entre as potências.



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