A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

(Transcrição do programa de rádio)

Olá caros ouvintes da Rádio TRT Voz da Turquia, sejam bem vindos a mais uma edição do programa A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente.

No dia 15 de julho, o povo turco fez face ao perigo sobre as suas vidas e a uma tentativa de golpe de estado, que teve como alvo um governo democraticamente eleito.

Este acontecimento não foi importante apenas em termos da política interna da Turquia, pois teve também consequências consideráveis do ponto de vista da política externa turca. A atitude adotada pelo mundo durante e após a tentativa de golpe de estado, teve um papel na política externa da Turquia. A União Europeia e os Estados Unidos, esperaram durante muito tempo para manifestar a sua tomada de posição condenando o golpe de estado e apoiando o governo democraticamente eleito. Sobretudo a União Europeia, só mostrou a sua reação depois de ver que a tentativa de golpe de estado tinha sido abortada. Esta atitude da União Europeia e dos Estados Unidos foi escandalosa. Eles criticaram as medidas de segurança tomadas pelo governo turco contra os golpistas e os apoiantes da tentativa de golpe de estado. Podemos dizer que eles ameaçaram a nação turca e a autoridade que ela escolheu, nos passos dados no âmbito do quadro jurídico e de segurança.

Por outro lado, a Rússia e o Irão, dois países com os quais a Turquia tem tido alguns problemas nos últimos tempos, anunciaram que apoiam o governo democraticamente eleito. Podemos basear o apoio destes dois países nos seguintes pontos:

1. A Rússia e o Irão viram que a tentativa de golpe de estado foi indiretamente apoiada pelo Ocidente.
2. A Rússia e o Irão consideram a FETO como sendo uma organização que tem atividades contra os seus interesses nacionais.
3. Os dois países têm tido, no geral, uma atitude coerente sempre que se trata de intervenções que têm como alvo as questões internas nos estados.
4. Eles previram que apoiar a Turquia durante um período crítico, seria uma vantagem geopolítica no período pós crise.

Foi à Rússia que o presidente da república Recep Tayyip Erdogan, realizou a sua primeira visita ao estrangeiro depois da tentativa de golpe de estado. E foi o Irão que realizou a primeira visita estrangeira à Turquia, depois da tentativa de golpe de estado.

As críticas do presidente Erdogan e da comunicação social turca tendo como alvo a imprensa ocidental, causaram polémica. Estará a Turquia a afastar-se da Europa e em direção a uma aliança com a Rússia e com o Irão? Alguns comentadores europeus indicaram que a Turquia se dirigia para uma aliança euroasiática, e que estamos perante uma mudança de eixo da sua política externa.

Será esta a situação real?

Nós sabemos que o Partido AK quis, durante a sua governação de 14 anos, pôr em prática uma política externa multidimensional, ao mesmo tempo que ficava inserido na aliança ocidental. Dito doutra forma, não quiseram analisar os seus interesses nacionais apenas na ótica do sistema da aliança ocidental. Deste ponto de vista, a Turquia quis desenvolver as suas relações com a Rússia e com a China. O país deu mais importância ao Médio Oriente do que durante os governos precedentes. Esta política incluiu também uma maior abertura em direção a África.

A Turquia teve problemas com a Rússia e com o Irão, devido à proteção dos seus interesses durante a crise síria. Esta nova situação, fez com que a Turquia procurasse novas alianças regionais sem cortar por completo as suas relações com o Irão.

Se a crise do avião de caça russo não tivesse tido lugar, as relações entre a Turquia e a Rússia não teriam sido afetadas, apesar das importantes divergências de ponto de vista em relação à questão síria.

Os passos no sentido de restabelecer as relações entre estes dois países, foram dados antes da tentativa de golpe de estado. A 5 de março de 2 016, o primeiro ministro turco à época, Ahmet Davutoglu, realizou uma importante visita ao Irão. Esta visita teve por objetivo restabelecer as relações económicas e comerciais que tinham sido prejudicadas. A Turquia e o Irão puseram-se de acordo acerca do papel dos dois países na região, no sentido de ser resolvida a questão da Síria e do Médio Oriente.

Em abril de 2 016, o presidente iraniano Hassan Rouhani teve reuniões oficiais em Ancara, logo após a Cimeira da Organização para a Cooperação islâmica. Neste contexto, a visita à Turquia do chefe da diplomacia iraniana, Javad Zarif, deve ser analisada como estando relacionada com os desenvolvimentos que tiveram lugar ao longo do ano de 2 016.

Os esforços desenvolvidos durante o mês de junho pelo presidente Erdogan, com o objetivo de restabelecer as relações com a Rússia, tiveram também resultados positivos. O encontro entre Erdogan e Putin a 9 de agosto em S. Petersburgo, já tinha sido agendado antes da tentativa de golpe de estado.

A tomada de posição do Irão e da Rússia após a tentativa de golpe de estado, foi diferente da dos países ocidentais e apreciada pelo governo turco.

O facto da comissão parlamentar de relações internacionais, ter adotado no dia 16 de agosto o projeto de acordo internacional que previa a normalização das relações com Israel, é o maior indício de que a Turquia não tem qualquer intenção de se afastar do sistema da aliança ocidental.

Por outro lado, a presidência e os responsáveis do governo turco, afirmaram de maneira clara, objetiva e precisa, que a Turquia não tinha a intenção de sair do sistema da aliança ocidental. Quando a Turquia critica os Estados Unidos e a União Europeia, não o faz numa tentativa de encontrar um novo eixo na sua política externa, mas sim para apelar aos países europeus que defendam os seus próprios valores. A Turquia lembra à Europa a democracia, a liberdade e a igualdade, os valores que eles ignoram quando lhes convém. Dito doutra forma, a Turquia apela à Europa que seja verdadeiramente democrática.

Obrigado pela sua companhia, o programa “A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente” da Rádio TRT Voz da Turquia, regressa na próxima semana. Até lá, fiquem bem.