A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O drama engendrado pela guerra que envolve a Síria, pôs em segundo plano a questão palestiniana.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

(Transcrição do programa de rádio)

Olá caros ouvintes da Rádio TRT Voz da Turquia, sejam bem vindos a mais uma edição do programa “A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente”.

O drama da guerra que se vive na Síria, fez com que a questão palestiniana fosse colocada em segundo plano. E por isso, os incidentes em Jerusalém e na Cisjordânia continuam desde setembro de 2 015.

Em Gaza, os conflitos continuam desde há já algum tempo. Os palestinianos que têm cidadania israelita, tomam agora parte nas manifestações contra o governo.

Desde setembro, milhares de palestinianos – incluindo 300 crianças – foram presos. Os incidentes começaram depois de colonos judeus, acompanhados por membros do Knesset (o parlamento de Israel) terem feito uma incursão na Mesquita de al-Aqsa. Como consequência dos danos causados por esta incursão, o complexo foi encerrado provisoriamente aos fiéis. Cerca de 30 cidadãos israelitas perderam a vida até agora, por causa destes incidentes. Do lado dos palestinianos, o número de mortos já se eleva a mais de 200, incluindo 45 crianças.

O uso desproporcionado da força contra os palestinianos, sem fazer distinção entre mulheres, crianças ou pessoas de idade, foi criticado pelos media ocidentais. Infelizmente, o uso da força é considerado como sendo “legítima defesa” pelos mesmo meios de comunicação.

No geral, eles focam-se nos ataques feitos pelos palestinianos contra os israelitas. E é exatamente esta aparência que desejam dar as autoridades israelitas. O discurso feito alguns dias atrás pelo primeiro ministro Benhamin Netanyahu, é o melhor exemplo. Como é habitual, Netanyahu não referiu a ocupação das terras palestinianas no seu discurso, mas sublinhou que eles eram continuamente vítimas de atentados, colocando assim em destaque os ataques com facas.

Israel classifica como sendo terroristas todas as ações contra Israel, como a Intifada de Jerusalém. Desde Netanyahu, esta questão é vista como um ataque que visa destruir Israel, e é preciso a qualquer preço uma “união moral e política contra isto”.

Ao contrário do que insinua o governo israelita, a Intifada de Jerusalém não pode ser reduzida a um simples ataque com faca ou a represálias. A Intifada de Jerusalém – à qual nós poderemos chamar de “terceira Intifada” – não é mais do que uma reação do povo palestiniano, à situação em que vive desde há dezenas de anos. Bastará suficiente estudar estes últimos acontecimentos para o compreender.

No dia 22 de fevereiro, as forças militares israelitas aplanaram um terreno de 4 hectares perto de al-Hali, com a ajuda de buldozers. O objetivo era anexar este terreno a um colonato situado na zona envolvente, e desta forma garantir a sua expansão.

Como sabem, Israel é susposto retirar-se gradualmente das terras ocupadas, como consta do Acordo de Oslo. Mas o que está a acontecer é exatamente o contrário, com a aceleração da construção de novos colonatos. Mais de 560 mil colonos judeus vivem agora fora das fronteiras de 1 967. Uma grande parte destes colonos, são extremistas ou membros de grupos militantes radicais sanguinários.

As ações violentas dos colonos têm uma grande responsabilidade no caminho que conduziu a esta 3ª Intifida, pois eles não são punidos ou recebem apenas penas leves.

Um destes atos violentos ocorreu em julho de 2 015. A casa da família Devabishe em Nablus, foi incendiada por colonos. A mãe, o pai e um bebé de 18 meses perderam a vida neste incidente. Na semana passada, a casa de outra família palestiniana – que tinha testemunhado este ataque – foi também incendiada.

A justiça é usada como meio para fazer pressão, o que também constitui um problema. Tantos os adultos como as crianças são vítimas deste sistema. O número de menores detidos nas prisões israelitas, que era de 150 no mês de agosto, passou a ser de 450 no mês de fevereiro.

Mais recentemente, sete adolescentes entre os 14 e os 17 anos, que tinham sido colocados em residências por terem atirado pedras contra os soldados israelitas, foram condenados a penas de prisão de entre 12 e 39 meses.

Os vários vídeos difundidos nos últimos tempos, mostram que os soldados israelitas disparam sobre os jovens palestinianos, mesmo quando não se trata de questões de “legítima defesa”. Em alguns vídeos, podemos mesmo ver que os feridos são deixados à sua sorte, sem que lhes seja prestada assistência médica. Um acontecimento semelhante teve lugar na semana anterior. Os soldados israelitas disseram que Mahmoud Ebu Fenuna os tinha atacado com uma faca. Segundo as testemunhas no local – incluindo um jornalista palestiniano da Agência Anatólia – Ebu Fenuna não tinha consigo nenhuma arma branca. Na realidade, ele foi vítima de uma execução sumária, como muitos outros palestinianos.

Makarim Wibisono, o responsável das Nações Unidas por escrever o relatório sobre as violações dos Direitos do Homem em Gaza e na Cisjordânia, foi pressionado a deixar o seu cargo no início deste ano, pois Israel não o deixava investigar os factos reais. Apesar de todos os obstáculos colocados por Israel, Wibisono conseguiu relatar um número incrível de violações dos Direitos Humanos na Palestina desde 2 014. Este responsável das Nações Unidas, afirmou que não podia esconder a sua estupefação face à ausência de reação da comunidade internacional, tendo em conta a gravidade da situação.

É absolutamente claro que a questão palestiniana não é a única questão no Médio Oriente. Contudo, a questão palestiniana tem a característica de estar na origem de numerosas outras questões no Médio Oriente. É preciso não esquecer que os enganos alimentam a violência, tanto na Palestina como no resto da região. As forças de fora do Médio Oriente continuam a ditar o destino da região, com as políticas erróneas seguidas desde o século XIX, algo que também se aplica à questão palestiniana.

Se este assunto não for resolvido o mais brevemente possível, a esperança de paz na região irá desvanecer-se.

O programa “A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente” da Rádio TRT Voz da Turquia termina por aqui. Esperamos poder contar com a sua companhia no programa da próxima semana. Até lá, fique bem!



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