A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

A decisão russa de retirada da Síria.

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A Perspetiva da Turquia sobre o Médio Oriente

O chefe de estado Vladimir Putin, anunciou há alguns dias a retirada dos soldados russos da Síria. Putin indicou na altura que a sua missão na Síria tinha sido concluída com sucesso, e anunciou a retirada de uma grande parte da sua força militar do país. No entanto, a Rússia irá manter em estado de atividade as suas bases navais e aéreas.

Putin está convencido de que a intervenção russa atingiu o seu objetivo prioritário. Depois desta etapa, ele priviligia uma solução pela via diplomática. Neste caso, qual é a diferença do ponto de vista da Rússia entre a situação de hoje, em comparação com o que se passava há 6 meses?

Com base nas operações levadas a cabo pela Rússia na Síria depois de setembro de 2 015, o regime de Al-Assad encontrou a possibilidade de se reforçar. Com os seus raides aéreos, o Kremlin deu um duro golpe na capacidade de manobra e na infra-estrutura da oposição síria.

Graças à vantagem conseguida sobre a oposição, as forças do regime de Assad tomaram o controlo de cerca de 400 zonas residenciais.

Segundo o Kremlin, o regime de Assad que estava à beira da derrota em meados de 2 015, tem neste momento superioridade face aos seus opositores. E mais, a província de Alepo, está também prestes a cair na totalidade nas mãos das forças do regime.

Por tudo isto, as forças de Al-Assad conseguiram atualmente uma vantagem comparativa no desenrolar dos combates.

No começo da intervenção na Síria, era evidente que a Rússia não estava à procura de se envolver numa aventura. Os russos não queriam envolver-se num conflito de longa duração.

A Rússia não tinha a intenção de viver uma nova experiência como aquela pela qual passou no Afeganistão. De todas as formas, a situação económica em que se encontra a Rússia, dava a entender que o apoio ativo de Moscovo ao regime de Assad, não iria para além de 2 016.

Com esta intervenção, a Rússia salvou o regime de Assad da sua perdição. E com isto, reforçou também o seu poder.

Ao mesmo tempo, a Rússia teve a ocasião de testar as suas novas armas de alta tecnologia na Síria.

No começo da intervenção, os alvos na Síria foram atingidos por mísseis disparados a cerca de 1 500 kms de distância, pela primeira vez a partir do Mar Cáspio.

Por outro lado, a Rússia obteve também uma vantagem estratégica em relação futuro, ao reforçar a sua presença física no que diz respeito ao encaminhamento do gás natural do Qatar e do Mediterrâneo Oriental para a Europa.

Adicionalmente, a Rússia conseguiu ainda impor-se depois de um certo intervalo, reganhando o título de potência e implantando-se no Médio Oriente e no Mediterrâneo Oriental.

A Rússia, isolada pelo ocidente por causa da crise ucraniana, tornou-se num interlocutor do Ocidente depois da sua intervenção na Síria.

A declaração de Putin, tem também uma característica notável ao nível do seu timing. Apesar das frequentes violações de pequena dimensão ao cessar-fogo, o cessar fogo continua em vigor desde há duas semanas. Ele será seguido por negociações de paz em Genebra, entre o governo de Assad e os grupos da oposição. As negociações serão mediadas pelo emissário especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura. Esta decisão de Putin, é uma espécie de pressão sobre o regime de Assad para que ele não torne as suas posições inconciliáveis.

Dito por outras palavras, foi dada uma mensagem ao regime de Assad perante os olhos da comunidade internacional, para dizer que o apoio russo não é ilimitado nem incondicional.

As declarações oficiais da Rússia, mostram que Putin tomou a sua decisão de forma unilateral e sem consultar Assad.

Ao analisar com atenção o desenvolvimento dos incidentes, não podemos dizer que o governo americano não estava ao corrente da tomada de posição de Putin. O governo americano tinha feito já por algumas vezes, críticas às operações da Rússia na Síria.

Apesar disto, os Estados Unidos não se mostraram demasiado incomodados pelo apoio russo a Assad.

Ainda por cima, o reforço de Al-Assad face ao DAESH, era apoiado pelos Estados Unidos que não estavam em condições de dar um apoio desta natureza.

Na verdade, o reforço da posição estratégica da Síria no longo prazo, constitui uma espécie de problema para os Estados Unidos. Mas, ao ver que esta presença tirava força aos elementos da oposição mal-vindos, passou a ver esta situação como favorável.

No entanto, as autoridades americanas consideravam ser insuficiente a pressão da Rússia sobre o regime sírio, no sentido de o forçar a alcançar uma solução diplomática. Os americanos expressaram o seu desconforto em várias ocasiões.

Esta decisão de retirada por parte de Putin, foi considerada pelos Estados Unidos como uma situação que irá colocar a pressão desejada sobre o regime sírio.

Em conclusão, podemos dizer que a decisão de retirada militar parcial da Síria, foi precoce. Constatamos que a Rússia ainda não alcançou todos os seus objetivos definidos no início da intervenção.

Mas a Rússia conseguiu no entanto reforçar a sua posição na região, e deu um novo sopro de vida ao regime de Al-Assad. Por outro lado, a Rússia sempre quis encontrar uma solução de consenso com os americanos, ao longo das negociações.

A atitude a favor da cooperação dos americanos com a Rússia na crise síria, permitiu avançar com a retirada antes do tempo.

Os desenvolvimentos que terão lugar depois das negociações de Genebra, vão determinar o tipo de retirada militar parcial por parte da Rússia.

Um entendimento entre os membros da oposição e o regime de Al-Assad, não parece muito provável. O retomar dos violentos combates, após o fim das negociações, aparece como muito plausível.

De facto, as forças do regime apoiadas pelo Hezbollah continuam a levar a cabo as suas operações nalgumas zonas, apesar do cessar-fogo em vigor.

No caso de serem retomados os combates, a força aérea russa deixada pela Rússia na Síria, continuará a apoiar o regime sírio. Na verdade, se o equilíbrio de forças voltar a pender para o lado da oposição e contra o regime de Assad do ponto de vista militar, a retirada parcial da Rússia não será mais que “uma retirada provisória”.



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