As estrelas cintilantes da história da Turquia

A organização das Mulheres da Anatólia “Baciyan-i Rum”, era o ramo feminino do Movimento Ahi.

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As estrelas cintilantes da história da Turquia

A organização das Mulheres da Anatólia “Baciyan-i Rum”, corresponde ao ramo feminino do Movimento Ahi. Esta organização começou a ser criada durante o período dos Seljúcidas e dos Beylicados, tendo depois continuado a realizar as suas atividades já durante o período otomano.

O nome da organização “Baciyan-i Rum” usa a palavra “Baci”, que significa “irmãzinha” ou “grande irmã”. Já a palavra “Rum” significa Anatólia. Durante a época da conquista da Anatólia pelos turcos, esta região geográfica era apelidada de “Diyar-i Rum”. Em consequência disto, quando falamos em Baciyan-i Rum, estamos a falar da organização “Mulheres da Anatólia”.

A mulher ocupava um papel ativo na vida social e económica do Movimento Ahi, que dava também uma enorme importância à ciência, à arte e à moralidade. A primeira dirigente conhecida na Anatólia das Mulheres da Anatólia, é Fatima Hatun, a esposa de Ahi Evran. Ela foi sucedida no cargo por Melike Hatun, a filha de Alaeddin Kay Qubadh III, e depois por Hayme Hatun – a esposa de Gunduz Alp, que era o avô de Osman I. Ela foi por sua vez sucedida por Halime Hatun e por Devlet Hatun, a esposa de Ertugrul – pai de Osman I e a filha de Ahi Serafeddin, respetivamente.

Alguns historiadores modernos ficam espantados ao ver que as Mulheres da Anatólia se reuniam durante a Idade Média, e que tinham formado uma organização à imagem das organizações não governamentais dos nossos dias. Por exemplo, o pesquisador alemão Franz Taeshner, é um dos historiadores espantado com a natureza da organização naquele período.

Franz Taeshner tem dificuldade em acreditar que esta organização foi criada na mesma altura da formação do Movimento Ahi. Isto porque ele não acredita que as mulheres turcas se pudessem instruir ao ponto de formarem uma organização não governamental.

Quanto a Asik Pasazade, um historiador e eminente representante da historiografia otomana e do seu império, fala também da organização das Mulheres da Anatólia quando menciona o Movimento Ahi.

Segundo a epopeia de Haci Bektas Veli, as mulheres com talento e competência na área do misticismo islâmico, ganhavam o apelido de “Baci”. As profissões herdadas da tradição popular, bem como as fontes históricas, testemunham a existência da organização das Mulheres da Anatólia. Hoje em dia, e segundo Pasazade, Haci Bektas Veli dava uma grande importância à organização das Mulheres da Anatólia.

É preciso esclarecer que a organização das Mulheres da Anatólia, era o braço feminino do Movimento Ahi. Nas suas anotações, os viajantes Ibn Battuta e Bertrandon de la Broquière, registaram que nos séculos XIV e XV, as Mulheres da Anatólia montavam a cavalo tal como os soldados de infantaria na primeira linha, e eram também boas comerciantes presentes nos mercados. Neste contexto, havia forças armadas mistas formadas por homens e mulheres, que serviram no beylicado de Dulkabir no começo do século XV.

Havia gabinetes de trabalho reservados às mulheres, na zona industrial formada pelas Ahi em Kayseri. As mulheres membro da organização das Mulheres da Anatólia, trabalhavam e realizavam artes manuais nesta zona industrial. As mulheres trabalhavam sobretudo nas profissões relacionadas com o fabrico de tendas, feltros, tapetes e kilim, e ainda nas áreas do corte e costura, e no processamento de sedas e algodão. As mulheres que trabalhavam, tinham experiência em questões técnicas e profissionais. Aquelas que trabalhavam sobre temas morais, liam o livro da ordem Ahi, chamado “futuvvetname”.

A organização das Mulheres da Anatólia contribuiu para o desenvolvimento da interajuda entre as mulheres, da hospitalidade, da retidão e da clemência. Ela permitiu também acelerar a extensão entre as mulheres, da língua e da cultura turca, bem como da filosofia do islão. Contribuiu ainda para a educação das crianças, deixando assim a sua marca para as gerações futuras. Esta organização tomou sob a sua tutela as jovens raparigas orfãs ou sem família, e empenhou-se para que elas pudessem receber uma boa educação e que fossem protegidas até ao momento do seu casamento.

As Mulheres da Anatólia também tiveram um papel importante na criação de ocupações para as mulheres idosas, e estenderam a mão às jovens em dificuldades financeiras, ao propor-lhes serviços como o casamento. Os membros do Movimento Ahi, tomaram sempre como modelo ao longo da sua vida, o princípio de “manter-se dono da sua mão, da sua cintura e da sua língua”, o que significa não roubar, não olhar para os outros de forma desconfiada e não dizer mal de ninguém.

Quanto aos membros da organização das Mulheres da Anatólia, elas tomaram como modelo de vida o princípio “Cuida do teu esposo, do teu trabalho e do que cozinhas”, que, tal como o princípio menciona, significa ajudar o esposo, aceitar o que o destino nos reserva e prestar atenção ao trabalho e à família.



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